domingo, 16 de agosto de 2015

Sonoridades Femininas...

... Celina da Piedade em "Roseira Enxertada"...

sábado, 25 de julho de 2015

O Rosto Assustador da Pobreza - Retratos de uma Lisboa Esquecida...

Quando a pobreza é tão grande que a vida parece parada e as pessoas inscritas num quadro quase imóvel numa espécie de deserto de alma, com os corpos tão crispados e tão crestados que parecem mais escuros nas ruas bordejadas de restos de trapos e pedaços de coisas, temos a perfeita noção da escandalosa e inadmissível mentalidade política que se veste de forma chique e "de lavado", enquanto  anda pela cidade em restaurantes e salas com etiqueta... 
Quando a pobreza é tão devastadora que as pessoas se ameaçam e confrontam por um saco de feijão, arroz, açúcar e "spaguetti" e as casas parecem contentores de tijolos, uns sobre os outros, em bairros que são ilhas submersas de miséria no meio de uma urbanidade aparente, que o consumismo não pára de vender para a ambição especular...
Quando a pobreza é tão desoladora que a paisagem é só triste como um dia lamacento depois das chuvas, em que nada parece poder ser feito senão esquecer e esperar "que passe" e os corpos se vestem sem vontade no cumprimento de uma sobrevivência sem nome...
... vai diminuindo a torrente de palavras com que se diz a imagem e o sentir, perante o peso incomensurável da consciência da crueldade com que é gerido o património e o direito à existência que é de todos, numa absoluta negação discriminatória do acesso à paz e à dignidade...
Quando a pobreza é tanta que, ao conhecê-la, perdemos o sono e queremos, qual sonho acordado, despertar num mundo melhor... deixamos de acreditar no fogo fátuo dos discursos dos protagonistas político-partidários e na vaidade ilusória das suas propagandísticas intenções...
Quando a pobreza é avassaladora e as pessoas subsistem, mesmo assim... percebemos que os heróis da Humanidade são aqueles a quem outros tiram a vida, limitando-os às margens de uma exclusão que preferimos ignorar ou justificar, para fingir que a entendemos como inerente à orgânica social, apenas e só porque não temos a coragem de exigir a Mudança em nome da qual defendemos, formalmente!, os Direitos Humanos, a Liberdade, a Igualdade e a Democracia! 
Disse!

terça-feira, 26 de maio de 2015

Manuel Alegre, Poeta de uma República Maior...

Hoje, na Livraria Leya, cujo espaço foi celebrizado em Lisboa sob a chancela da velha e inesquecível livraria Bucholz, Manuel Alegre protagonizou o lançamento do seu mais recente livro "Bairro Ocidental"! Com uma apresentação de abertura notável, pela expressão do entendimento da Poesia de Manuel Alegre como canto de Filosofia Social e Política, o momento alto deste precioso acontecimento a que assistiram Presidentes da República, deputados, intelectuais, jornalistas, actores, democratas e grandes amigos, consistiu na leitura de alguns dos Poemas que preenchem este livro incontido de verdades feitas de rigor, com alma, razão e coração, pela voz quente e sábia do seu autor!... É um livro belo, generoso e imenso como só o pode ser o livro de um Poeta, imortal! Por ora, partilho apenas o seu poema "Resgate" e agradeço, em nome do país e do futuro, a dádiva que connosco partilha, sempre!, o Poeta-Presidente das causas e do país oculto que guardamos no coração: Manuel Alegre!  
 
"RESGATE
 
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem que ser o teu país.
 
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
 
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem entre vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
 
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
 
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país."

sexta-feira, 15 de maio de 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

Ecos de Galeano...


"O código moral do fim do milénio não nos condenou à injustiça mas, ao fracasso."

"Dos medos nascem as coragens. Os sonhos anunciam outra realidade possível, e os delírios, outra razão. Somos o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia."

"Hay un único lugar donde ayer y hoy se encuentran y se reconocen y se abrazan. Ese lugar es mañana"

EDUARDO GALEANO

 

sábado, 11 de abril de 2015

Da Explicação Etno-Poética... do Alentejo!


"Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.

Não me parece pois necessária outra razão
- ou desejo
de arrancar o sol do chão
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.

É apenas uma certa maneira de cantar."

José Gomes Ferreira
in "Circunstâncias IV"

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O Espírito da Páscoa - na etnografia do Professor Galopim de Carvalho

Hoje li uma narrativa lindíssima da autoria do Professor Galopim de Carvalho, cuja escrita transforma a etnografia em contos de encantar! Penso que não faço mal se a partilhar via "A Nossa Candeia"... porque, de certa forma, é o mais bonito conto de Páscoa que conheço!
 
 
"SEMANA SANTA


Comer o borrego pelas festas da Páscoa está ligado a tradições religiosas e culturais chegadas até nós, vindas de longe, no tempo e na distância. É ler a Bíblia e ver como este simpático animal, com este ou outros nomes, se liga à tradição judaico-cristã, não sendo difícil procurar-lhe raízes ainda mais antigas. No antigamente, sacrificava-se o anho no altar; hoje come-se o borrego em reunião de família, depois de passadas as trevas e a dor, todos os anos evocadas durante a Semana Santa.
Nos meus tempos de criança quem tinha posses matava o borrego em casa, no Sábado, logo pela manhã, a fim de que a carne do dito pudesse figurar na ementa do almoço desse dia, já festivo, depois de bem anunciadas as Aleluias, ao meio-dia, nos carrilhões da Sé, logo seguidas pelo repicar de todos os sinos de todas as igrejas da cidade e arredores.
Era a festa! Era o fim do luto!
Num desses anos, o nosso pai teve a ideia de fazer como algumas famílias da periferia da cidade que, vivendo os inconvenientes da vida do campo, sabiam aproveitar-lhe as poucas vantagens. Assim, muito antes da Páscoa, comprou um lindo borreguinho acabado de desmamar, que já se governava sozinho se o deixassem em campo com erva.
Nós tínhamos necessidade de o levar a pastar, “fora de portas”, no que nos disputávamos constantemente. Cada um queria para si o gosto de segurar da corda que o prendia à coleira, onde chocalhava um pequenino guizo de latão. Vê-lo saltar, correr com ele que, por fim, já nos seguia sem trela e vinha ao nosso chamamento, era uma alegria nunca vivida.
Passados os Ramos, as Endoenças e o Enterro do Senhor, na Sexta Feira de Paixão, seguia se, inexoravelmente, o dia do «sacrifício».
Das conversas do pai com a mãe, eu e os meus quatro irmãos (três rapazes e duas raparigas) sabíamos que o tio Manuel, irmão do pai e homem de todas as profissões, viria sábado, bem cedinho, ocupar-se da matança antes que a rapaziada acordasse. Nessa manhã, após uma noite de vigília dos mais velhos, que se revezaram em quartos para que não falhasse a alvorada, levantámo-nos bem mais cedo do que a mãe pensava e aguardávamos o momento de dar execução ao plano que havíamos traçado. Entretanto, nos dias que antecederam aquele Sábado, tínhamos exercido intensa actividade de sensibilização da mãe, onde sabíamos estar a última palavra no desfecho do drama, chamando-lhe a atenção para a graciosidade do bicho, levando-a a acariciá-lo, redobrando, para que visse, as nossas atenções e brincadeiras com ele.
Visivelmente aflita, a mãe já não sabia o que fazer, dividida, por um lado, entre o nosso amor pelo animalzinho e a simpatia que, também ela, já nutria por ele e, por outro, dar de comer a uma família que já não era pequena. Quando, no Sábado, o tio chegou, a mãe, de olhos inchados e vermelhos, já estava no quintal com os alguidares e os preparos necessários. O tio trazia a navalha, bem afiada e bicuda. Num canto, o “mé mé”, branco de algodão, preso à trela, balia como que chamando a si a atenção da mãe que, roída por dentro de remorsos antecipados, evitava olhá-lo.
- Vá, Manuel, despache lá isso, depressa!
De rompante, invadimos o quintal e berrando uns, chorando outros, rodeámos o animalzinho com tanta determinação que não houve quem tentasse, sequer, tirá-lo das nossas mãos. A mãe, mentalizada de há muito pela nossa acção, foi a primeira a ceder, mais aliviada do que contrariada. Afinal, também ela não queria o sacrifício do animalzinho e percebera a tempo o que essa violência representaria para nós. O tio, completamente alheio ao drama, aceitou mal aquela mudança de última hora, não prevista e, sobretudo, o que mais lhe desagradou foi perder aquela pele branquinha que lhe renderia uns tostões. Saiu resmungando, indignado com a cena de insubordinação.
O pai foi o último a saber do resultado do confronto. Quando apareceu no campo da refega, a batalha estava decidida e não seria ele a pegar na faca. Não havia vencidos!
Havia Aleluia para nós, para os pais, de aliviados que ficaram e, também, claro, para o bicho.
Da carne de um borrego qualquer, que nunca havíamos conhecido, comprada no talho do Patinhas e passada que foi a tensão vivida, com que apetite comemos e que bem que nos souberam aquelas costeletas fritas com alho, aquele ensopado e aquele maravilhoso assado no Domingo de Páscoa!
O borreguinho, acabámos por conceder, levou-o o senhor Domingos, o marido da nossa lavadeira, depois de nos prometer, solene, libertá-lo entre os outros que pastavam lá no monte onde viviam e não consentir que ninguém o levasse. – Nunca!
De vez em quando perguntávamos-lhe por ele.
- Está lindo e mais crescido! – Respondia sempre.
– Quando é que vamos ao monte do senhor Domingos ver o nosso amigo? – Perguntávamos ao pai, vezes sem conto.
- Um dia destes! – Era invariável a resposta.
O tempo encarregou-se de diluir a nossa preocupação e de nos confrontar com a realidade que também nos ensinou a aceitar.
Este episódio, tantas vezes contado em sucessivas Páscoas, reunida a família em torno da mesa com a assadeira de barro ao centro, fumegante, perfumada e apetitosa, sofreu, ao longo dos anos, retoques de todos nós, já crescidos, dando-lhe as cores que cada um tomou para si. Porém, no essencial, foi isto que aconteceu, há quase oitenta anos. Claro que nunca soubemos o destino deste nosso companheiro, embora não seja difícil imaginá-lo.
Para mim, há sempre num monte do Alentejo um borreguinho branco e saltitante, em todas as Primaveras, a perpetuar-lhe a imagem."
 
Observação: A autoria do texto é do Professor Doutor António Galopim de Carvalho e a escolha da imagem também.

Da Paz que se Respira...

... nas paisagens, nos sorrisos e nesse extraordinário mundo onde a harmonia entre natureza e cultura não foi ainda tão adulterada como neste Ocidente onde a resiliência foi desaparecendo, substituída pela criação intencional de um consumismo que nos afasta, sob as mais diferentes formas, do melhor que somos ou podemos ser - retirando-nos a experiência natural da paz que, em esforço!, os cidadãos cansados, artificialmente procuram e têm que pagar.

terça-feira, 31 de março de 2015

"...O Medo é o Assassino do Coração Humano ..."

ENTREVISTA COM UM MÉDICO TIBETANO: LAMA TULKU LOBSANG RINPOCHE
Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração.
Quando um paciente chega para consulta, como o senhor sabe qual o problema?
ROlhando como ele se move, sua postura, seu olhar. Não é necessário que fale nem explique o que se passa. Um doutor de medicina tibetana experiente sabe do que sofre o paciente a 10 m de distância.
Mas o senhor também verifica seus pulsos.
R Assim obtenho a informação que necessito sobre a saúde do paciente. Com a leitura do ritmo dos pulsos é possível diagnosticar cerca de 95% das enfermidades, inclusive psicológicas. A informação dada por eles é precisa como um computador. Para lê-los, é necessária muita experiência.
E depois, como realiza a cura?
RCom as mãos, o olhar e preparados de plantas e minerais.
Segundo a medicina tibetana, qual é a origem das doenças?
R
Nossa ignorância.
Então, perdoe a minha, mas o que entender por ignorância?
R
Não saber que não sabe. Não ver com clareza. Quando vemos com clareza, não temos que pensar. Quando não vemos claramente, colocamos o pensamento para funcionar. E, quanto mais pensamos, mais ignorantes somos, mais confusão criamos.
Como posso ser menos ignorante?
R
Vou ensinar um método muito simples: praticando a compaixão. É a maneira mais fácil de reduzir os pensamentos. E o amor. Se amamos alguém de verdade, se não o queremos só para nós, aumentamos a compaixão.
Que problemas percebe no Ocidente?
R
O medo. O medo é o assassino do coração humano.
Por quê?
R
Porque, com medo, é impossível ser feliz e fazer felizes os outros.
Como enfrentar o medo?
R
Com aceitação. O medo é resistência ao desconhecido.
Como médico, em que parte do corpo vê mais problemas?
R
Na coluna, na parte baixa da coluna: as pessoas permanecem sentadas tempo demais na mesma posição. Com isso, se tornam rígidas demais.
Temos muitos problemas.
R -
 Acreditamos ter muitos problemas, mas, na realidade, nosso problema é que não os temos.
O que isso quer dizer?
R
Que nos acostumamos a ter nossas necessidades básicas satisfeitas, de modo que qualquer pequena contrariedade nos parece um problema. Então, ativamos a mente e começamos a dar voltas e mais voltas sem conseguir solucioná-la.
Alguma recomendação?
R
Se o problema tem solução, já não é um problema. Se não tem, também não.
E para o estresse?
R
Para evitá-lo, é melhor estar louco.
??????
R
É uma piada. Mas não tão piada assim. Eu me refiro a ser ou parecer normal por fora e, por dentro, estar louco: é a melhor maneira de viver.
Que relação o senhor tem com sua mente?
R
Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração.
O senhor ri muito?
R
Quando alguém ri nos abre seu coração. Se você não abre seu coração, é impossível entender o humor. Quando rimos, tudo fica claro. Essa é a linguagem mais poderosa que nos conecta uns aos outros diretamente.
O senhor acaba de lançar um CD de mantras com base eletrônica, para o público ocidental.
R
A música, os mantras e a energia do corpo são a mesma coisa. Como o riso, a música é um grande canal para nos conectar com o outro. Por meio dela, podemos nos abrir e nos transformar: assim, usamos a música em nossa tradição.
O que gostaria de ser quando ficar mais velho?
R
: Gostaria de estar preparado para a morte.
E mais nada?
R
O resto não importa. A morte é o mais importante da vida. Creio que já estou preparado. Mas, antes da morte, devemos nos ocupar da vida. Cada momento é único. Se damos sentido à nossa vida, chegamos à morte com paz interior.
Aqui vivemos de costas para a morte.
R
: Vocês mantêm a morte em segredo. Até que chegará um dia em sua vida em que já não será um segredo: não será possível escondê-la.
E qual o sentido da vida?
R
A vida tem sentido e não tem. Depende de quem você é. Se você realmente vive sua vida, então a vida tem sentido. Todos têm vida, mas nem todos a vivem. Todos temos direito a sermos felizes, mas temos que exercer esse direito. Do contrário, a vida não tem sentido.

terça-feira, 24 de março de 2015

Herberto Helder - porque Não Há Morte para a Poesia!

Herberto Hélder (1930-2015)
"Não sei como dizer-te
Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado. Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
 Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a
primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.

 Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
que te procuram."
... no dia em que foi conhecida a morte do Poeta!...apesar de não haver Morte para a Poesia!

domingo, 22 de março de 2015

Sonoridades Femininas...

... Hindi Zahra em "Imik Si Mik"...

sábado, 14 de março de 2015

Preciosidades...

... para sorrir, aprender, lembrar... e ver na íntegra!... ... porque há patrimónios... inesquecíveis :)

domingo, 8 de março de 2015

Viva o 8 de Março - Da Realidade à Política e à Arte!

No dia 8 de Março de 1857, as operárias de uma fábrica de têxteis em Nova York, iniciaram uma luta indefetível pelos direitos das mulheres! Por melhores condições de trabalho e de vida, melhores salários e igualdade de tratamento!... a luta que as ameaçou desde logo, teve continuidade por muitos, longos e penosos anos em que as suas reivindicações levaram a que fossem ameaçadas, perseguidas e reprimidas pela polícia - ao ponto de, já  no século XX, também nos EUA, acabarem cercadas num incêndio que deflagrou nas instalações de uma fábrica onde trabalhavam e onde resistiam às pressões externas de uma sociedade masculina e patriarcal. Houve vítimas e até, pelo menos, uma morte entre estas corajosas, solitárias e solidárias mulheres! O facto, enquanto atentado contra os direitos das mulheres e dos trabalhadores, foi sendo conhecido e o dia 8 de Março começou a ser assinalado, progressivamente, um pouco por todo o mundo. Desta luta temos hoje um excelente registo no filme "Anjos Rebeldes" (originalmente intitulado: Iron Jawed Angels), um trabalho cinematográfico notável da realizadora Katja von Garnier que conta com a extraordinária interpretação de Hilary Swank no papel de Alice Paul, uma das mulheres cujo nome ficará para sempre, associado à luta memorável e exemplar das Sufragistas a que, nesta obra, dão corpo e voz, também, outras atrizes de reconhecido e justo mérito como Julia Ormond e Angelica Houston. Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres. Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais: desigualdades salariais, desigualdades de tratamento, violência de género, violência doméstica, violência sexual, assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração, exposição a estereótipos consumistas de mercados masculinizados e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!... Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais, em que as mulheres não têm direito de voto, não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade -que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo, onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio, imposto o casamento forçado e a impossibilidade de determinar o seu futuro... e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos,  do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Desigualdade Salarial, o rosto institucional da Discriminação Sexual...

Por não existir igualdade salarial entre homens e mulheres, em Portugal, as mulheres são obrigadas a trabalhar mais 65 dias por ano para obter a mesma remuneração anual que os homens... Para ilustrar o que este facto significa, instituiu-se assinalar o Dia da Igualdade Salarial no dia 6 de Março, por ser exactamente neste dia que, a partir do 1º dia do ano, se completam os tais 65 dias de trabalho excedentário feminino para efeitos de igual remuneração, pelo desempenho de uma mesma tarefa realizada por homens. Se a este facto somarmos todo o trabalho não remunerado que, apesar da progressiva partilha dos afazeres domésticos e familiares entre pessoas de sexo diferente, continua a sobrecarregar a maioria das mulheres, a evidência de ausência de fundamento racional e o grau de injustiça desta realidade é incontornável. Quando uma sociedade legitima desigualdades básicas, como esta!, não pode, em caso algum!, considerar-se uma sociedade efectivamente republicana e democrática, pautada pela afirmação de valores tais como a igualdade, a liberdade, a responsabilidade social e a solidariedade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Sonoridades...


... Jan Garbarek e Mari Boine em "Evening Land"...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Do Ano Novo como Património Cultural - Losar 2142

Hoje começa a contagem decrescente para as celebrações de Ano Novo... no Tibete, no Nepal e no Butão! - onde o calendário, lunar, assinala o ano 2142. Com mais 127 anos do que o calendário que utilizamos no Ocidente (calendário gregoriano), o calendário tibetano é constituído por 20 meses lunares, celebrando o Losar (Ano Novo) no 1º dia do seu 1º mês, ou seja, na Primavera, quando se homenageiam e celebram,  com a prática de rituais de agradecimento, os 5 elementos: Terra, Água, Fogo, Ar e Espaço. Na sua origem, estiveram as celebrações do solstício de inverno e a introdução das práticas agrícolas, cuja natureza requer a regularidade cíclica (cultivo, irrigação) e, recorrentemente, as práticas metalúrgicas. Segundo reza a tradição, o assinalar festivo do calendário dever-se-á a uma velha mulher chamada Belma que introduziu as fases da lua como medida do tempo. Posteriormente, a celebração do Losar foi transferida para o primeiro mês lunar por um líder da Escola budista Gelup, criada no século XVI, no contexto da existência de um território alargado de influência cultural e religiosa que alcançava a Mongólia e a China - razão pela qual, hoje, o Losar tibetano se aproxima das datas de celebração do Ano Novo mongol e chinês. Tradicionalmente, as celebrações do Losar perduravam 15 dias, sendo os 3 primeiros dias os mais intensos no que respeita às práticas festivas. Nos nossos dias, as mesmas celebrações podem demorar entre 1 e 15 dias, em função da coesão e densidade cultural dos seus praticantes no território em que residem (Tibete, Nepal, Butão, Índia e em o mundo onde, com a diáspora, chegou a cultura tibetana). Segundo o calendário, os próximos dias 18 e 19 de Fevereiro correspondem ao Losar 2142!
Feliz Losar 2142 a todos! 
Tashi Delek!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sonoridades Femininas...


... Mari Boine Persen e Lui Sola em "Maze"...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Politicas Sociais, Homens, Mulheres e Cultura...

[Este texto pretende ser uma homenagem - explicita no seu final!... Entretanto, fica o pedido de desculpa aos leitores, pelo facto do meu computador ter "perdido" os acentos!!!]
 
A urgência do regresso das politicas sociais denota-se um imperativo! Esta realidade, demonstrada pelo aumento exponencial da taxa de pobreza e do risco de empobrecimento dos portugueses, reforça-se no sucinto e breve olhar que o quotidiano nos oferece, num quadro em que, indiscutivelmente!, os direitos das pessoas e dos trabalhadores, se vê progressivamente agravado numa curva descendente cuja dinâmica não apresenta sinais, sequer!, de estagnação. A verdade resulta da leitura dos dados de que dispomos e que, residindo na simples observação do mundo que, mais de perto, nos rodeia, evidencia, apesar da demagogia propagandística das entidades oficiais, que a perda de direitos sociais não se recupera com a facilidade com que se extingue... porque, para os extinguir, basta a decisão legislativa enquanto que, para os recuperar, se torna essencial ultrapassar as resistências que a perda de lucros administrativo-financeiros (leia-se receitas) significa. Neste contexto, recorrendo ao tradicional dizer da sabedoria oriental que nos ensinou que "quando o discipulo se encontra preparado, o mestre aparece", ontem, uma amiga tornou urgentes as notas que hoje aqui partilho. Veio a sugestão a "talhe de foice" da intervenção dos profissionais de Serviço Social que se defrontam, diariamente!, com os problemas mais obscuros do nosso quotidiano, para os quais escasseiam as respostas institucionais. Proponho, por isso, se me permitem!, o enfoque na questão dos Direitos das Mulheres no contexto de uma sociedade consumista que, para garantir o funcionamento dos mercados financeiros, desenvolve, estrategicamente, uma sedutora forma de reprodução de estereótipos, capaz de violar não apenas os direitos conquistados, "a pulso"!, nos últimos 140 anos mas, igualmente, a possibilidade de se crescer em liberdade e em igualdade. Efetivamente, a violência no namoro que (para estranheza da minha geração!), grassa atualmente entre os jovens, representa a reconfiguração dos dramas da sociedade tradicional - assente no autoritarismo e no sentido de propriedade privada e de posse patrimonial que caracterizam a cultura patriarcal. E se, para efeitos de demonstração desta afirmação, precisarmos de exemplos recentes, basta-nos pensar na estreia do filme "As 50 Sombras de Grey" que as ativistas do feminismo contemporâneo condenam, afirmando tratar-se da promoção da violência entre pessoas de sexo diferente, que implica a submissão das mulheres a um modelo velho de imagem de "masculinidade", decorrente de conceitos que se fundam nas noções de "domínio", de "controle" e das relações de poder. Não vi o filme e não pretendo discutir a liberdade da produção audiovisual que, como toda a liberdade de expressão, considero legitimada... mas, confesso!, dada a dimensão alcançada pelo quantidade de pessoas objeto de violência nas relações interpessoais e tendo ouvido espectadores de todas as idades, convergir na afirmação de que o filme não tem outra ação senão a descoberta de uma sexualidade que vive do desenvolvimento de fantasias que alimentam a produção e a venda de produtos transacionados nas chamadas "sex shop" (onde a marca que partilha o nome do filme se converteu no "top" de vendas), cabe enunciar o problema com que se defrontam os profissionais de Serviço Social, dos serviços de Saude e da Educação... A produção lúdica e artistica não tem, necessariamente, que equacionar problemas sociais, preocupações com o desenvolvimento pessoal e cognitivo, valores ou pedagogias, uma vez que o mercado produz sexo para vender e escolhe, seletivamente, "franjas" particulares de consumidores que, neste momento, destacam, com especial atenção, os adolescentes - cuja curiosidade natural, os torna atrativos enquanto garante de vendas e de lucro. No entanto, num mundo em que o bullying, a violência no namoro, a violência de género, a violência domestica e a violência social continuam a reproduzir-se e a aumentar nas vivências quotidianas, enquanto fenomenologia estimulada pelos ritmos de vida, as dificuldades de comunicação, as formas de lazer comercializadas e os media, a responsabilidade social da produção, difusão e promoção dos temas que mais afetam a individualidade de homens e mulheres (adolescentes e adultos!), pode constituir-se como um verdadeiro impulso de reprodução das formas mais tradicionais da violência nas relações interpessoais... porque os jovens, segundo demonstram os mais recentes estudos sobre o problema!, não reconhecem como violentas grande parte das atitudes que o senso comum e a lei condenam (violência fisica e psicológica, por exemplo)! Por isso, o problema que se coloca, consiste, simplesmente, em questões tais como: estamos ou não a forçar os jovens (em particular, as raparigas) a assumirem relações onde a fronteira entre "violência" e "consentimento" se caracteriza pela fragilidade provocada pela pressão social que reside na "aceitação de desafios", de "agradar ao outro", "afirmar a entrada na idade adulta" e de outros tantos "fantasmas" que assombram a inquietude do crescimento dos mais novos?; estaremos ou não a permitir que os quadros culturais contemporâneos que aceitam a violência no contexto dos relacionamentos interpessoais, se reforcem, levando a que, por razões de afirmação num quadro de competição, concorrência e risco que a adolescência tão bem protagoniza, os jovens se submetam a relações em que pensam procurar afeto e em que encontram, afinal, o pragmatismo que sustentou a assertividade patriarcal que não percebeu, inclusive nos tempos que correm!, a diferença entre violência e despotismo. O problema, multidimensional, não se esgota na aparência da mensagem da "descoberta do prazer"... Quem pensa nos medos dos jovens, perplexos perante o crescimento e no direito que têm de resolver as suas vivências fora da pressão social dos mercados comerciais, financeiros e consumistas?... Para fazer dinheiro, vale tudo... e as bilheteiras pagam a sede insaciável dos investidores!... Entretanto, as invisíveis vitimas da violência de género, domestica e sexual continuam a recorrer aos serviços sem que tenham coragem para se assumir como tal ou sem que, sequer, se reconheçam como tal! ... Longe vai o tempo do "Peace and Love" proposto pelos anos 60 do sec. XX de que resultou a revolução de costumes e a visibilidade da adesão das mulheres aos direitos pela sua emancipação global, incluindo a do uso do seu corpo! Hoje, com a reedição dos velhos paradigmas patriarcais que caucionam a emergência de uma masculinidade e de uma feminilidade assente em estereótipos, estamos ou não a reeditar condutas comportamentais que associam a violência a imagens de um erotismo que se pretende belo, partilhado, feliz e pacifico, legitimando a submissão a pretensas virilidades e a fugas de identidade sexual para evitar os medos? O desafio da reflexão encontra-se "em cima da mesa"... mas, como se comprova, o mercado vai continuar a exigir o lucro - independentemente do custo que possa provocar aos jovens de hoje e aos adultos de amanhã... porque, indiscutivelmente, o futuro decorre das vivências do presente!... e se ainda estamos a desconstruir a pesada herança cultural que "pesa" sobre a dimensão da sexualidade, travando batalhas tão difíceis como são as da violência domestica e da violência de género em geral, a que dimensão de esperança de liberdade podemos aspirar quando as crianças são educadas para ser "bonecas" (Cinderelas, Princesas, Barbies e Violettas) e "bonecos" (Principes, Piratas, Ken's e Grey's)?! - continuando a alimentar o lucro, a destruir o direito ao desenvolvimento integral da personalidade e a promover a agressividade resultante da ausência de comunicação e da tensão relacional que, convertida rapidamente em violência, aumenta, de forma assustadora e transversal, a dimensão quantitativa e qualitativa, das pessoas violentadas!!!... 
[Dedico este texto, em particular, a Barbara Simão, uma profissional de Serviço Social cujo perfil, notável pela preocupação e rigor técnico-científico e pelo carater inteligente e humanista com que desempenha as suas funções, me tranquiliza por saber que desenvolve o seu trabalho "no terreno" e me inquieta porque, pela falta de investimento nas politicas sociais, a qualidade das intervenções depende, exclusivamente!, da natureza pessoal dos profissionais!... quando deveria, isso sim, decorrer de politicas publicas, capazes de garantir a qualidade e eficácia das intervenções! Os profissionais ficam assim, entregues a si próprios e a uma consciência cívica individual, designadamente, pela ausência de uma formação atualizada em permanência em questões tão pertinentes como as que se referem aos novos perfis da pobreza, do desemprego, do trafico de seres humanos e da violência sexual!... Como presumem, dedico, de igual modo, este texto a todos os meus amigos/ex-alunos que com ele se identificam e que não posso identificar por razões... de espaço!... A todos/as os que sabem ser objeto deste agradecimento, a expressão sincera -e orgulhosa!- do meu: Muito, Muito Obrigada! por resistirem e continuarem, lucidamente, de forma honesta e desassombrada, a desempenhar o Vosso trabalho!]       

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pedrão do Maranhão - A Música, a Poesia e a Arte...


... e porque no Youtube não encontro os belos temas dos seus trabalhos "Canturias" e "Jazz Samba", partilho o lindíssimo tema que este compositor escreveu, na bonita voz de Ana Maria Carvalho:

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sonoridades Femininas...


... Mari Boine em "I Come from the Other Side"...