quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

As Pontas do Arco-Íris


Hoje, 31 de Dezembro de 2009, depois do sol irromper após a chuva, a manhã sorriu em arco-íris... e, de repente, ocorreu-me: e se, afinal, uma das suas pontas fôr o final do ano e, a outra, o lugar onde nasce o Ano Novo? ...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Por um Saharaa Livre...



Conheci a luta do Povo Saharui na segunda metade dos anos 80 do já passado século XX, quando li o texto de António Vitorino de Almeida publicado pelo "O Jornal"... depois, encontrei em Badajoz um LP duplo, em vinil, claro!, gravado pela Frente Polisário e utilizei-o para o genérico do "Espaço Mulher" que mantive semanalmente, durante algum tempo numa das rádios regionais deste país, ao sul... Agora, depois da luta de Aminatou Haidar, enquanto aguardamos por um Sahara Livre, encontro, bom para a partilha em tempos que se querem de aproximação e cultura, elevação e discernimento, a voz de Mariem Hassan... um dos exemplos do heroísmo oculto que passa entre tanta (de)informação...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sinais para o futuro?!


O simbolismo é, na vida, na religião e na política, a dimensão de recurso dos indícios que recusamos negligenciar... mais ou menos, discreta ou evidentemente, lançamos mão do simbólico para aludir a factos capazes de destacar mensagens que actualizam o que, num determinado momento, pode não encontrar condições materiais de afirmação pública. Por isso, quase sempre, o simbólico é um acto de comunicação com o outro, expressão intencionalmente direccionada de um contacto assertivo com o exterior... e é exactamente nesta perspectiva que adquire relevância significativa, o conjunto de acontecimentos que marcam os últimos dias de 2009: a deportação de 4.000 cidadãos de etnia Hmong da Tailândia para o Laos, a execução de um cidadão britânico por posse de droga na República Popular da China, a detenção de um activista de direitos cívicos norte-americano na Coreia do Norte e a reivindicação da Al-Qaeda do recentissimo atentado falhado ao avião que se dirigia aos Estados Unidos e que despertou, de novo, o medo e a fobia da segurança no Ocidente. Tétrico, no meio de todos estes sinais, é o facto de, desta forma, se manipular a legitimidade do medo e se reduzir a esperança individual e colectiva no futuro que se vê condicionado nas aspirações de liberdade em que a democracia ainda nos permite acreditar.

Contributo para a Comprensão do Inesperado Paradoxo



"(...) O sentimento metafísico e o religioso são directamente opostos (...) O sentimento religioso é inteiramente irracionalizável, nem pode haver teologia, ou sociologia utópica, senão por engano ou por doença. O sentimento metafísico é racionalizável, como todo o sentimento de uma coisa definida, que basta tornar-se inteiramente definida para se tornar matéria racional, ou científica.(...)"


(Álvaro de Campos in

"Aviso por Causa da Moral")

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sons do Sul


... Tres Notas para Decir Te Quiero - um tema de Vicente d'Amigo...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Leituras Cruzadas

Quando a realidade nos interpela como acontece no que João Rodrigues escreve sobre "Confiança e Instituições" no Ladrões de Bicicletas, somos levados a pensar no estado da arte da nossa pertença a uma ideia de país (leiam-se "O Estado da Nação" de JMCoutinho Ribeiro no Delito de Opinião, "Esfera Armilar..." de Paulo Borges no Nova Águia e "Medricas" de Valupi no Aspirina B)... e o sentir que daí resulta leva-nos mais longe (leiam-se os textos "Uma Gota Rubra..." de Daniel Oliveira no Arrastão e "O Poder das Palavras" de Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção), deixando-nos entre o espanto (leiam-se os textos de Raimundo Narciso "Preservar a Memória..." no Memórias e de João Tunes "Uma Placa Escondida... e o resto" no Água Lisa) e a vontade de reagir... pelo menos como o fazem T.Mike em "Papa apela..." no Vermelho Côr de Alface, Rui Herbon no "Silent Night" em A Escada de Penrose e António Carlos Valera com "Ágora" e "O Sorriso de Mona Lisa" no Irrealidade Prodigiosa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sons de Dentro e de Fora...


... se, como dizia O Principezinho de St.Exupéry, "o essencial é invisível para os olhos", quem, dentro de nós, vê esse essencial invisível é, talvez, o sentir que se nos dá a conhecer através da voz... a voz de dentro, interior ou, em certos casos, também, a que é exterior... que o som dos belos sininhos que repicam cá dentro, no melhor de nós, nos permitam fruir com saúde e alegria, um Feliz Natal!... para dar o tom, aqui fica a interpretação de Plácido Domingo de uma "Ave Maria", composta por... Charles Aznavour! Um grande abraço e... até sábado!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Pescador... em Belém!




(Dedicado a Manuel Alegre, o Autor e o Homem)



A Poesia Portuguesa, Camões, Sá de Miranda, António Ferreira, Bocage, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, fez-me pensar e defender, desde que me lembro de pensar sobre a matéria, que, no nosso país, a Filosofia se escreve sob a forma e sob os véus da linguagem poética. Por isso, hoje, quando o país, descrente, assiste ao que, nos seus palcos, se encena, ocorre-me o poema:
"Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.

Eu que de cana em punho escrevo o inesperado
e leio na corrente o poema de Heraclito
ou talvez o segredo revelado
que nunca em livro algum será escrito.

Eu pescador que tantas vezes faço
a mim mesmo a pergunta de Elsenor
e quais águas que passam sei que passo
sem saber a resposta. Eu pescador.

Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.

Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso e o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar. Eu pescador.

Eu pecador que nunca me confesso
senão pescando o que se vê e não se vê
e mais que peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.

Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete. Eu pescador."

(Manuel Alegre "O Oitavo Poema do Pescador"
in "Senhora das Tempestades - Livro III - O Livro do Pescador")

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Hot Club de Portugal e a Fénix



Steve Potts no Hot Club em Lisboa... o som e a imagem de uma eternidade que se não pode perder com a brevidade de um incêndio infeliz... Portugal tem que reconstruir o Hot Club... com urgência!... Pelo património musical português e por todos nós!... para que, qual fénix renascida, possamos voltar a um espaço ímpar da cultura portuguesa!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quem tem medo de Manuel Alegre?

O que se tem especulado sobre as relações entre S.Bento e Belém, ou seja, entre o Governo e a Presidência da República, dá que pensar... de facto, o papel intervencionista do Presidente da República durante o ciclo eleitoral que terminou em Outubro, em defesa - ainda que mais ou menos velada - de um PSD sem programa e sem estratégia, e a actual vitimização de Cavaco Silva que, através da comunicação social, se tem procurado fazer nos últimos dias, conduz-nos a uma reflexão importante sobre as estratégias em curso relativamente às eleições presidenciais que nos vão ficando, cada vez, mais próximas. Para quem tem o interesse nacional como prioridade é fundamental não perder de vista, para além das tentações de protagonismo partidário, que a concertação estratégica e, acima de tudo, o desenvolvimento do país real que somos, tem que presidir às relações entre os orgãos soberanos da Nação, como garante de que ainda o somos, País e Pátria. Por isso, considerando, no actual quadro parlamentar português, a importância decisiva de uma Presidência da República capaz de defender, sem medo e sem cedências, a Democracia que o estado actual da economia fragiliza, e, por outro lado, a capacidade negocial que só a autoridade ético-política confere, penso que o nervosismo que as mútuas acusações da bipolaridade PS-PSD, exploráveis pelos media, viabilizam, reflectem, antes de mais, a consciência de que o capital de descontentamento dos sufrágios eleitorais do Verão, ainda sobrevive. Daí que considere que a vitimização e a frieza de Cavaco Silva face ao Governo e à Assembleia da República denotam o receio do apoio do PS à candidatura de Manuel Alegre à Belém... atitude que será, na verdade, a única atitude inteligente e estrategicamente eficaz, para assegurar a estabilidade indispensável ao repensar e reformar das políticas sociais e económicas de que o país, indiscutivelmente, precisa.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Contributos para a Teoria do Caos Económico-Social?



Quando em Portugal assistimos a uma quebra na produção de cereais de cerca de 40% e constatamos um decréscimo de consumo de pão da ordem dos 30%, é caso para se perguntar se estaremos a avaliar com realismo a crise económica e, consequentemente, social, que estamos a viver. O número de pessoas sem-abrigo, a pobreza, o custo e o nível de vida dos portugueses, denotável, de modo inequívoco, no desemprego que já ultrapassou a faixa dos 10%, constituem sinais evidentes de uma emergência social a que urge dar resposta imediata com o desenvolvimento de medidas excepcionais de combate à crise cuja natureza, sabemo-lo todos!, é, simultaneamente, nacional e internacional. Contudo, não se vislumbram mudanças significativas, no curto ou no médio prazo. Infelizmente, pelo contrário, constatamos uma espécie de disfuncionalidade injustificável em realidades tais como a que hoje vi anunciada na SICNotícias, sobre o facto do investimento destinado ao turismo ter a região de Lisboa a absorver 70% do orçamento estimado!!!... Assimetrias regionais, desenvolvimento sustentado, equilíbrio e coesão social - ficam assim como arcaismos dos modelos de desenvolvimento num país que nos esforçamos por pensar empenhado em sobreviver e consolidar o tecido social?... é que, para o caso de se não lembrarem, o tecido social somos, todos!, nós!!!

O Clima - entre a solidariedade e a escravatura


Hoje é Dia Internacional da Solidariedade! ... Felizmente, assinalamos a data... infelizmente, somos incapazes de gerir os problemas da Humanidade com a seriedade, o rigor e a boa-fé que nos requer a vida de Todos os Cidadãos do Mundo e a sobrevivência do Planeta. A Cimeira de Copenhaga foi a desilusão dos milhares de pessoas que, por todo o planeta, reivindicaram um acordo vinculativo e eficaz na redução de emissões de carbono e no cumprimento de todas as medidas reconhecidas como indispensáveis à sustentabilidade planetária. Uma desilusão previsível, registe-se... infelizmente, claro! Porque enquanto os políticos e os economistas de todo o mundo não assumirem as suas responsabilidades sociais no que respeita à coexistência dos povos e das culturas, a obtenção de acordos internacionais desta dimensão será sempre uma interrogação a que escapará um grande número de governantes, defensores de economias nacionais assentes em formas industriais de produção que justificam, na sua perspectiva etnocêntrica, o bloqueio. Entre o esforço de solidariedade, a consciência da gravidade do problema das alterações climáticas e a escravatura político-financeira das economias nacionais ao sistema de gestão monetária mundial que é decisivo alterar segundo critérios sociais e não economicistas, ficamos, todos, reféns de uma interdependência de benefícios constantemente adiados.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Na dúvida...



... porque, por vezes, ficamos entre o riso e as lágrimas, vale a pena repetir os ecos do mesmo sentir... aqui, com "É pra rir ou pra chorar" de Gabriel, o Pensador.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Da Corrupção em Portugal

Gostei de ouvir Vera Jardim, hoje, no programa Dia D, da SIC. Raramente se tem a oportunidade de ouvir um político, ex-ministro, deputado, agora responsável pelos trabalhos da Comissão que, na AR, vai estudar o dossier da corrupção, falar com tanta clareza sobre o problema. Fica assim claro, para os portugueses, que nem todos negligenciam o problema e que, de facto, há matérias em que se devem tomar novas medidas, inspiradas designadamente em procedimentos já em vigor em muitos países europeus. Porém, do que de mais útil foi dito, nomeadamente por corresponder à agenda das preocupações dos cidadãos relativamente ao enriquecimento ilícito e às práticas da corrupção, destaco a diferença entre dois conceitos, a saber, as modalidades designadas "corrupção branca" e "corrupção negra", cuja distinção nos permite discernir as abordagens que a sociedade pode e deve fazer, para uma avaliação justa do problema. De facto e com razão, os índices de percepção da corrupção a que aludimos num post anterior, encontram razão de ser não apenas na visibilidade mediática dos casos que, cada vez mais, se vão conhecendo mas, também, na confusão conceptual em que radica a representação social do fenómeno. Antes de mais, convém reconhecer que, na cultura tradicional portuguesa, o agora designado "tráfico de influências" era inerente à orgânica social, como resultado recorrente da pequena dimensão territorial do país, cujo tecido social facilmente se revia - e ainda se revê - em redes de interconhecimento reconstituíveis, sem necessidade de recurso a investigações policiais da especialidade, capazes de emergir por acção de um olhar socialmente crítico e, consequentemente, distanciado. Neste contexto, a negligência processual com que se elaboravam juízos era - e ainda é - responsável pelo facto do senso comum não identificar práticas socio-culturais com indícios susceptíveis de suspeição da corrupção... e é neste contexto que se pode e deve compreender a "corrupção branca", enquanto realidade complexa que implica o desenvolvimento de uma cultura de cidadania assente na transparência e na ética, capaz de nos permitir "filtrar" a elevada taxa de percepção da corrupção, em nome do rigor, da igualdade e da justiça. Porém e além do mais, a distinção desta dicotomia conceptual, tem o mérito de evidenciar a chamada "corrupção negra" em que o enriquecimento ilícito desempenha o papel de indicador fundamental na detecção de práticas que configuram inequivocamente os contornos do crime e que se ocultam na indistinção generalizada dos dois conceitos. Preto no branco, a realidade carece urgentemente de ser percepcionada objectivamente, para além da grande mancha cinzenta que parece cobrir, homogeneamente, a sociedade portuguesa.

A Urgência da Criatividade e o Bloqueio Educativo - bases para uma reflexão sobre o atavismo económico-social

Soube-se hoje que Portugal é o 3º país com mais elevado número de empregos perdidos no 3º trimestre de 2009... compreende-se assim mais uma das faces do desemprego e da ineficácia efectiva das formas de combate ao flagelo que, a jusante e a montante da "crise", se manifesta persistente no nosso país onde, há muito, a produtividade continua a "perder terreno" para a inércia endógena de uma economia que sobrevive pelo recurso a receitas artificiais e penalizadoras da vida e do esforço dos cidadãos, indispensáveis apenas porque, pura e simplesmente, não se desenvolvem alternativas produtivas revitalizadoras da dinâmica social. O problema não é um exclusivo da realidade portuguesa mas adquire contornos mais graves na medida em que essa gravidade é proporcional ao grau de sustentabilidade consolidada de cada economia nacional. Um dos problemas que estão na origem desta fonte de anomia social, aparentemente reconhecido por todos mas para o qual se não encontra capacidade de resposta nas instituições vocacionadas para o efeito, reside na educação e na sua falta de estímulos à criatividade que mantém, colectivamente deficitário, o investimento na inovação. A este propósito, como contributo relevante para a reflexão séria sobre as causas e o diagnóstico desta dimensão societária que o conhecimento - que tanto se proclama! - não assume, vale a pena registar e divulgar a sugestão que, em boa-hora, nos chegou através da Fada do Bosque, a propósito de um vídeo que pode ser visto AQUI.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O "Vulcão"




Chama-se Custódia Gallego e interpreta, até 20 de Dezembro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D.Maria II, a peça "Vulcão" escrita por Abel Neves e encenada por João Grosso. Quem não viu, devia ir ver... porque se trata de um trabalho que devolve ao teatro a profundissima dimensão humana que o dignifica como Arte Nobre da Representação e da Vida... e se o texto é muito bom, a relembrar grandes clássicos da abordagem relacional dos seres humanos no mundo complexo dos sentimentos, dos juízos e das práticas, a encenação é perfeita na rigorosa adequação de uma espécie de luva que cabe apenas na mão para que foi desenhada, com uma luminotecnia e uma sonoplastia exactas, capazes de reforçar e redobrar a força dramática de Custódia Gallego - uma actriz que é uma força da natureza como há muito se não via... num monólogo com cerca de 90m, uma mulher, sózinha em palco, a uma muito reduzida distância dos espectadores, rasga a noite e preenche o espaço, com uma voz, um rosto e um corpo que, na sua profunda e densissima solidão, anima personagens, acções e sentires de uma narrativa a que se assiste, sem dela se ver senão a personagem que encarna, Valdete. "Vulcão" é inesquecível, imperdível e, como tal, ficaremos, seguramente, mais pobres se perdermos a oportunidade de conhecer esta obra e esta representação. Está de parabéns a dramaturgia portuguesa e o mundo da arte em Portugal!... Deixo-vos um excerto do texto de Abel Neves, publicado no programa: "(...) A verdade é que todos nós praticamos a arte do monólogo, uns mais do que outros, mais em murmúrio uns do que os outros, uns mais capazes de se fazerem ouvir, muitos irremediavelmente perdidos no enigma deste mundo. (...) "Vulcão" não é mais do que uma história que nunca existiu, mas que a fascinante disponibilidade de corpo e espírito de uma actriz consegue trazer ao palco para que possamos, talvez, não só restaurar - e para melhor - as arruinadas vidas de muitos, como precaver-nos - em muitos casos também - contra os malefícios de algumas acções e que, afinal, até têm bom remédio. Não é que o teatro faça milagres, porque os não faz, mas ajuda a pensar outras vidas, possíveis e melhores, e a clarear horizontes. Nós, os que com o público andamos no teatro, ainda vamos acreditando nisso."... Eu também!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Leituras Cruzadas

Neste momento poderemos interrogar-nos: estaremos perante as consequências da chamada crise que tem atravessado o mundo ou estamos, apenas e de facto, a enfrentar os efeitos do sistema económico-financeiro pelo qual se optou, num fascínio de mercados e tecnologias, próprio dos deslumbrados jogadores que se perdem nos casinos do planeta, jogando a roleta ou o poker com a vida dos que não passam de mão-de-obra aos olhos dos apostadores, perdendo o estatuto de cidadãos?... A verdade é que, no último ano emergiu, como se de um surto se tratasse, o extraordinário número de 20 milhões de pessoas desempregadas e abriu-se a possibilidade do número dos que nessa situação se encontram, em estado de longa duração, ascender aos 43 milhões. Entretanto, enquanto o mundo se defronta com constatações como a que refere Filipe Tourais no País do Burro, por cá, continuamos centrados nas pequenas perspectivas que nos oferece o nosso pequeno espaço doméstico onde só se limpam os cantos da casa que pensamos úteis à imagem que queremos que os outros construam de nós, como bem ilustram as observações de Sérgio de Almeida Correia no Delito de Opinião e como nos explica e deixa perceber JMCorreia Pinto no Politeia. De facto, sem que se perceba a pertinência e a excepcionalidade de alguns fenómenos que não ultrapassam a dimensão da vassalagem, o país continua a surpreender-nos inutilmente com "fait-divers" que mais não são que manobras de distracção alienantes e gratuitas (leiam-se as observações de T.Mike no Vermelho Côr de Alface)... talvez para contornar leituras que se podem sistematizar sob a forma que nos é apresentada por Valupi no Aspirina B mas que, seguramente, poderiam ser enunciadas em sentido contrário, exactamente porque, de tão inquinada a verdade e a justiça, mais nos não resta do que "duvidar, duvidar sempre", "de tudo e do seu contrário"... quem ganha? Perdemos todos... porque a ambiguidade e promiscuidade dos nossos mecanismos de controle social nos deixa apenas o sentimento do eterno empate técnico, que tanto apraz aos jogadores e tanto penaliza a República e os cidadãos... Boa notícia, a ajudar-nos a aguentar tanta ligeireza de espírito e tanto desprezo pela inteligência dos cidadãos é a que nos traz Eduardo Pitta no Da Literatura e o esforço de inovação que significa o aparecimento de um novo partido que fará rir muitos portugueses mas que, por exemplo, na Alemanha, tem já uma boa expressão eleitoral provavelmente por ajudar a percepcionar a vida de uma forma mais desinteressada, mais humana, mais solidária e mais holística (leia-se o texto de Paulo Borges no Nova Águia)... Porque, de facto, vale a pena investir no que, além de muito urgente, é, acima de tudo, importante... causas em que não podemos deixar de nos empenhar, em nome da sobrevivência, do presente e do futuro: por exemplo, as da luta contra as alterações climáticas e contra a pobreza (vejam-se as chamadas de atenção de Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção). Felizmente, nem todos os povos (como bem sinaliza Raimundo Narciso no PuxaPalavra), nem todos os cidadãos (como bem denota Loubna Houssein que escapa à fúria fundamentalista do Sudão e está agora em Paris, livre para viver como é devido a todos os cidadãos do mundo), nem todas as culturas!, se deixam seduzir e escravizar pelas manobras demagógicas do poder... e, neste contexto, vale bem a pena assinalar a presença dos Tibetanos na Cimeira de Copenhaga para defender e lutar contra a destruição do "Tecto do Mundo", o Planalto do Tibete (o facto é notícia no texto do Grupo de Apoio ao Tibete que se pode ler AQUI).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Minaretes e Sinos versus Liberdade e Laicidade...










Minaretes, Sinos, Campainhas... símbolos de "chamamento", sinais de exercício de um poder dirigido a outrem... no espaço público, torres de igrejas e minaretes assinalam o local em que sacerdotes e almuadem chamam os fiéis à oração... igrejas e minaretes sacralizam o espaço, numa apropriação consentida pelo costume e a História dos povos, das culturas e dos lugares... Nos dias que correm, em sociedades que se pretendem laicas, democráticas e livres, sociedades que compreenderam já a natureza da necessária coexistência pacífica entre crenças, religiões, ideologias e identidades para a preservação de uma Humanidade que reconhecemos multicultural, sociedades em que o diálogo inter-religioso e a liberdade religiosa perceberam, unidos na sua diversidade e na prioridade do reconhecimento ao direito à paz e à igualdade, que a esfera do religioso pertence à dimensão dos direitos de cidadania, privados, com o direito ao respeito e ao reconhecimento de todos... não faria mais sentido, deixar igrejas e minaretes, sons de sinos e vozes de almuadem, no registo da construção histórica das sociedades em que vivemos? Ou valerá a pena reeditar guerras e conflitos (provocados, quiçá, intencionalmente, para o efeito) entre a diversidade do pensamento religioso, pretexto manipulável para o incendiar de conflitos sociais?... Não será mais adequado ao espírito democrático das sociedades laicas, a não exibição pública do poder religioso, dúbio poder de exercício da apropriação do espaço?... Porque a laicidade respeita a diversidade, garante a não-discriminação e permite o respeito e o reconhecimento da diferença, não seriamos todos mais iguais e mais livres se soubessemos resistir à tentação de exibir as fontes do nosso etnocentrismo e da nossa perigosa vontade de poder?

Aprendizagens e Reflexões em Jeito Latino...


... ler a imprensa, em Portugal, é dos exercícios intelectualmente menos estimulantes em que podemos investir... tempos houve em que lia 2 jornais diários nacionais todas as manhãs e todos os semanários, além de outra imprensa geralmente espanhola ou francesa... hoje, com facilidade sinto inútil a leitura dos jornais portugueses onde o rasgo cívico, intelectual e a própria liberdade de opinião mal encontram espaço para se pronunciar, entre linhas repetitivas e assuntos gastos até à exaustão... não, não se trata de não relevar o que é relevante e de o discutir exaustivamente... trata-se de alargar o leque de leituras e de interpretações, de promover uma informação diversificada e de qualidade e, mais que tudo, de, efectivamente, se reflectir na imprensa o mosaico de diversidade que somos... cultural, ideológica, intelectual... a ausência de um jornalismo sério de investigação e de uma opinião sustentada, reflectida e vária, cansa quem não procura a imprensa para, apenas, a reproduzir... porque quem busca informação quer pensar e não ler para saber como pensar... porque o que a liberdade e a democracia nos permitem é o direito de pensar que se não esgota - e muitas vezes nem sequer se revê- nos modos que nos induzem a deduzir... e quando falo na imprensa, falo na restante comunicação social que, no nosso país, progressivamente, se reduz à reprodução de uma agenda de interesses, cada vez mais óbvia e castradora... queixam-se da falta de leitores?... não me surpreende... bons leitores exigem melhores leituras... desculpem-me os bons e cada vez mais raros profissionais... mas, depois de ter lido o El Pais de hoje não resisti ao desabafo... ficam 4 exemplos de notícias e opiniões que vale a pena registar, entre muitos outros que vale a pena destacar dessa minha leitura: sobre a vitória de Evo Morales na Bolívia, sobre Victor Jara, sobre Haidar e a luta por um Sahara livre e o texto, brilhante, de Manuel Vicent... depois de lermos "nuestros hermanos" dá vontade de perguntar: O que cantam os poetas lusos de agora?... e, indo um pouco mais além, que cantamos nós, os europeus de hoje? ...

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Apelo da Memória e o Sentido do Simbólico



"Plegaria a un labrador" é o cântico inesquecível de uma voz que pertence aos nossos dias e à eternidade da nossa História, num tempo em que a terra e os "campesinos" sofrem o genocídio de uma modernidade que não encontrou, apesar de tudo, uma forma equilibrada de nos permitir viver o Mundo com os direitos que temos e as justas expectativas que construimos... Victor Jara teve ontem o seu segundo enterro como bem se escreveu no El País que Osvaldo Castro nos fez AQUI chegar... Hoje, numa sociedade que vive ainda para a auto-gestão dos mal-distribuídos recursos, cabe lembrar o Direito de Todos a um Mundo Melhor, um Mundo que seja, de facto, pertença dos Cidadãos... nos dias que antecedem a Cimeira de Copenhaga que, por tantas cidades, tem levantado a voz de milhares em nome da urgente intervenção no que ao Clima se refere, lembremo-nos que o Ambiente, a Natureza, a Terra, a Sociedade, a Economia e, consequentemente, a Vida de Todos também depende de nós... se não nos aquietarmos às determinações financeiras com que se preocupam os gestores económicos e políticos, fazendo das cidades os reinos do betão onde se guardam dinheiro e instrumentos da sua reprodução, ao preço da vida dos reféns... simples cidadãos... que somos nós!

Património Poético...


... de Federico Garcia Lorca, "Romance de la Luna, Luna" (do "Cancionero Gitano" 1924-1927)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ilusionismos... entre a demagogia e a eficácia

Mais de 10% de desemprego é, de facto, para um pequeno país como o nosso, uma calamidade social que, por ser previsível, não se torna, por isso, menos dramática mesmo se comparada com taxas de desemprego de outros países europeus cujas economias detêm, apesar de tudo, um grau de sustentabilidade e, consequentemente, de recuperação, que em pouco ou nada se compara com o nosso!... assinalem-se as boas medidas que o PM anunciou na AR sobre o aumento do salário mínimo e a diminuição das contribuições sociais para as empresas como incremento à empregabilidade... medidas que são, apesar de tudo, paliativos! ... de resto, considerando que toda a arquitectura económico-social, a ser revista com rigor em termos de rentabilização das potencialidades inerentes à legislação vigente no nosso país, poderia contribuir para diminuir as formas de desperdício da produtividade que ainda temos e para aumentar a confiança dos cidadãos nas instituições nacionais - que tão necessária é ao investimento pessoal e social na revitalização económica - seria desejável que o combate à corrupção e ao tráfico de influências insistisse na fiscalização dos procedimentos públicos e que a transparência fosse regra de prática corrente, com fácil e regular acesso para a opinião pública, não apenas para o sector privado mas, para o sector público!... ao invés de se valorizarem códigos de boas práticas que, na realidade, não passam de de placebos porquanto o problema não é o desconhecimento da correcção de procedimentos mas, isso sim, o seu efectivo cumprimento... além disso, o excesso de "letra morta" descredibiliza o investimento nos procedimentos e aproxima-os da interpretação demagógica. Entre Ser e Parecer ou entre Eficácia e Demagogia corremos o risco de, com boas intenções, mais não fazermos do que promover manobras de distracção, que em nada contribuem para a urgente mudança que é indispensável ao funcionamento executivo e que radica, por muito que se fomente a propaganda, numa espécie de benévola mas indiscutível inutilidade que recorre à ilusão consentida... mas que, afinal de contas, persiste na continuidade da resistência à mudança...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Violência de Género no Espaço Doméstico, o lado invisível do não-dito



... a luta das mulheres é um combate silencioso contra os medos... os medos da sua própria fragilidade e os medos escondidos nos homens pela representação masculina do mundo em que vivem, onde lhes cabe o papel de proprietários e guerreiros... o mais extraordinário é que, já no século XXI e depois de tanta visibilidade, tanta legislação e tanta campanha, homens e mulheres continuem a recorrer à imposição da sua vontade pela força e à sua aceitação pela tolerância e a negligência no reclamar e praticar, de facto, os direitos de igualdade de género que as sociedades democráticas procuram valorizar... O assédio, a reacção instintiva, os modos de tratamento, as alusões em discurso indirecto, o imaginário popular e a sociedade de consumo, continuam presentes no nosso quotidiano sem que, grande parte das vezes, disso nos apercebamos e sem que isso nos suscite reacção... e quando acordamos para a realidade sempre que o crime público nos entra pela casa dentro, através da televisão ou dos jornais, não projectamos nessas realidades o extremar de atitudes que conhecemos e que vamos relativizando... como num jogo de espelhos que confunde os inseguros e os mais jovens, entre a promoção dos direitos que a sociedade vai apregoando, taciturna, e o exacerbar de uma cultura de moda que leva ao limite as representações tradicionais sobre homens e mulheres (a imagem sensual no vestuário e na postura corporal que acentua, dicotomicamente, a fragilidade feminina e a virilidade masculina), vivemos ainda um mundo onde a própria participação profissional feminina no mercado de trabalho se deixa reduzir às representações tradicionais da divisão sexual do trabalho... por isso, é fácil perceber a solidão silenciosa das mulheres que é, afinal, o lado invisível da violência social no espaço doméstico, na família e na transmissão educacional onde o exemplo continua a ditar a aprendizagem do não-dito.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Violência Contra as Mulheres



Muito se tem falado na violência doméstica e na violência de género, nomeadamente porque o passado dia 25 de Novembro assinala, simbolicamente, a preocupação social e política com o fenómeno. Entretanto, são cada vez mais os casos públicos destas formas de violência pela visibilidade que a comunicação social lhes confere e pela capacidade que as vítimas vão adquirindo no que à confiança institucional respeita, registado que é o aumento, por um lado, da quantidade de denúncias e, por outro lado, da produção legislativa nesta matéria. A discussão do problema é, porém, muito mais vasta e se a prioridade é, de facto, assistir às vítimas e prevenir a recorrência destes crimes ditos passionais, a verdade é que esta realidade é quase sempre reflexo de enormes dificuldades de afirmação pessoal e identitária por parte dos intervenientes que neles se envolvem, em contextos caracterizados por uma excepcional vulnerabilidade, directamente associada às afectividades que as carências socio-individuais configuram e os cidadãos tentam ultrapassar num mundo de silêncios personalizados em conflito com o mundo... Não há esquerda nem direita, nem religião ou ideologia nesta conflitualidade violentissima que grassa na privacidade e no espaço público... há, isso sim, uma dimensão cultural que permite encarar o outro com sobranceria e hipervalorizar o "próprio" como detentor do poder, para além de todos os valores e juízos que possam ser defendidos e enunciados... a violência é sempre expressão de uma representação de direito ao seu exercício e salvo situações extremas de auto-defesa, visa sempre exercer esse poder sobre o outro e... vencer. Independentemente de outras abordagens que aqui iremos , eventualmente, fazer sobre o tema, dá a pensar a possibilidade legitimada pela cultura tradicional da representação masculina da mulher assentar ainda numa perspectiva da sua dependência individual... uma espécie de infantilização da mulher, mãe e filha, objecto da protecção e da condescendência do mais forte... como se as mulheres não tivessem direitos de opção, opinião e decisão própria, como se todos eles dependessem da concordância masculina!... Infelizmente, o problema não se esgota na sociedade portuguesa e merece, também por isso, maior reflexão.

Para além do manto diáfano da fantasia...




A desertificação social dos territórios do interior é, em Portugal, na Europa, na América do Sul, na China e na Índia (para só citar os exemplos mais relevantes), o maior drama das sociedades contemporâneas e, consequentemente, da sociedade portuguesa... por muito que o ignorem, minimizem ou relativizem os políticos! O problema das megacidades que proliferam no planeta (de S.Paulo a Bombaim, da Cidade do México a Beijing, de um a outro continente, de norte a sul, de leste a oeste) persegue as tendências demográficas de um mundo que selecciona como território de eleição, o espaço urbano onde se concentram os investimentos económicos e financeiros que criam emprego e alimentam sonhos e expectativas, projectando ansiedades e ambições e transferindo desesperanças. Abandonada, a agricultura deixou sem futuro, pelo menos, duas ou três gerações... sem alternativas viáveis quer no campo, quer na cidade! ... consequências?... campos abandonados, anomia e êxodo rurais, desemprego urbano e um esvaziamento populacional de mais de um terço dos territórios nacionais... Não se trata, naturalmente, de "ressuscitar" a velha actividade agrícola tradicional; trata-se, isso sim, de saber que futuro económico e social vamos construir para, no presente e no futuro, responder às necessidades de uma população que não pode continuar a aumentar o número de habitantes das concentrações urbanas que, sem emprego ou habitação, alimentam os bairros sociais e clandestinos, as redes de excluídos e pobres que, mais ou menos directamente, engrossarão, inevitavelmente, as fileiras de uma economia paralela que hoje, nas megacidades, atinge já proporções desconhecidas mas quase, seguramente, a roçar a maioria silenciosa das suas gentes... Repito: ignorar e relativizar o problema é esconder a cabeça na areia! ... e, que eu saiba, ainda somos muitos os que preferem a condição humana ao estatuto de avestruz!... Talvez por isso me canse a política das intrigas, das suspeitas e da má-fé, da injustiça, da impunidade e da retórica demagógica e sobranceira em que os "poderosos" (no sentido dos que têm acesso ao poder, pelas várias vias de acesso que permitem a sua aproximação) se escutam e destratam, uns aos outros, convictos de que dispersam a atenção da opinião pública - para o que concorre, definitivamente, a cobertura que lhes é garantida pela comunicação social que atentamente lhes segue os interesses, sem razão e sem reserva... Entretanto, o mundo continua a girar e se não houvesse campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome, o próximo Natal seria o grito de fome de muitos e muitos concidadãos que já acorrem, sufocados pela pobreza, ao que seriam "petisquinhos" do 1º de Maio na Alameda (sim, eu vi!!!) para poderem ter a refeição do dia, convictos ainda de que, um dia, tudo será melhor, para todos...
(Este post foi também publicado AQUI)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma noite de respostas...



... depois de responder às gratificantes reflexões, comentários e palavras que aqui foram sendo registadas, a propósito dos 2 post's anteriores, não me resta mais, por hoje, do que partilhar convosco um tema que é, de certa forma, de todos nós... na voz inconfundível de Maria Bethânia... com Aquele Abraço :)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Presentes...




A Nossa Candeia fez ontem, dia 26 de Novembro, um ano de existência!Por isso, venho hoje até aqui, muito rapidamente por razões de trabalho que me ocuparão até domingo, partilhar convosco um presente que, generosamente, recebi do Sustentabilidade é Acção e que atribuo, com um abraço, em particular, aos comentadores do post do anterior (com um pedido de desculpas por não ter ainda respondido), a todos os amigos, seguidores, leitores, comentadores e a todos os blogs de que sou Seguidora... com um agradecimento sentido pela partilha da sensibilidade e da inteligência com que esta interacção blogosférica vai revitalizando os dias... faço votos de continuação de boas leituras e bons post's (numa voltinha breve pelos blogs que costumo visitar, registo muitos bons e pertinentes textos que me suscitam a vontade de comentar e escrever... a que devo resistir por estar assoberbada de trabalho)... para todos, ficam, a título de Prémio, o Selo da Amizade e o Selo "Bloggers por Um Mundo Melhor"!... Até domingo!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Da Dimensão Subjectiva da Justiça ao Estado de Direito


A discussão sobre "escutas" que decorre, com especialistas da matéria, no programa "P'rós e Contras" da RTP1, revela, de forma incontornável e evidente, perante a opinião pública, a dimensão subjectiva do Direito que os cidadãos supostamente considerariam inequívoco, por dele decorrer a própria Lei, proclamada e assumida matriz do Estado democrático. Antes de mais, convém dizer que é saudável podermos ter acesso à verdade - a esta verdade, da subjectividade da discussão do Direito e da sua polémica - apesar de, na realidade, o facto contribuir decisivamente para o sentimento de insegurança das pessoas. A debilidade das condições que configuram as investigações, bem como as fugas de informação e as violações do segredo de justiça que não permitem escamotear as promíscuas relações entre o poder político e a comunicação social, assumem publicamente as limitações do poder judicial e a fortissima tentação da sua politização, designadamente partidária. No meio de tanta impunidade, tanta suspeita e tanta desautorização institucional é difícil pensar a Justiça como equitativa e independente, autónoma e credível. Importa por isso, antes de mais, destacar a evidente necessidade de uma formação específica, capaz de transcender o senso comum de uma cultura assente no interconhecimento, para todos os profissionais do sector da Justiça... até que essa formação seja um facto, ficaremos expostos às proximidades sociais que se sobrepõem ao rigor profissional e aos quesitos institucionais... infelizmente, é claro! ... para mal do Estado, da Democracia, da Justiça, da Igualdade, da Liberdade e do Direito... para mal, afinal, de todos os cidadãos!
(Este post será também publicado no A Regra do Jogo)

Scheherazade...


... um tema de Rimsky-Korsakov para Scheherazade... também transcrito e tocado por Serge Prokofiev...

domingo, 22 de novembro de 2009

Leituras Cruzadas

As Leituras Cruzadas de hoje são, de certo modo, especiais... começam por assinalar a morte de um blogger que não conheci pessoalmente mas que muito gostei de ter como colega no Público-Eleições 2009... era um homem de direita, um homem sério e um democrata. É para todos uma perda e, para os seus amigos, uma dôr... Chamava-se Jorge Ferreira, era líder político ao lado de Manuel Monteiro e sabia reconhecer a razão para além dos quadrantes partidários. Além disso, doente, acompanhou o dossier da blogosfera que o Público preparou para o ciclo eleitoral do Verão passado, como um dos seus mais assíduos colaboradores, mostrando que a vida vale a pena até ao fim. Registo três textos que se lhe referem: dois de Pedro Correia no Delito de Opinião e outro no Água Lisa de João Tunes. Os registos denotam a qualidade do homem que agora partiu e que faz falta à democracia que deixa de o ser sem diversidade e liberdade de expressão, opinião e debate... Entretanto, pelo mundo, registam-se os dramas de sempre, fruto do dogmatismo demagógico de que temos notícias no Forum Palestina e no Cesto da Gávea e que nos merecem reflexões como a que Francisco Seixas da Costa denota no seu Duas ou Três Coisas. Registem-se, a propósito de escritos destacáveis: os Parabéns que nos merecem os 3 aninhos do Activismo de Sofá, a boa ideia de Bruno Sena Martins pela evocação memorável que faz no Avatares de um Desejo, as palavras de T.Mike no Vermelho Côr de Alface, a memória que fez Medeiros Ferreira evocar Mário Barradas e o audível silêncio dos pássaros que nos permite Fernando Cardoso no Ayappa Express.

sábado, 21 de novembro de 2009

Teatro Mário Barradas... em Évora


Morreu Mário Barradas. Acabei de o saber... e, para além de pensar que o Teatro Garcia de Resende deveria passar a chamar-se: Teatro Mário Barradas, assinalo este momento com a evocação de uma pequena e insignificante história suscitada pelo luto... porque o luto dos amigos, em nós, evoca o seu melhor... De facto, não deixa de me ocorrer a imagem de um encontro que com ele tive, sob os arcos que vão do Largo Luís de Camões para o Garcia, lá, em Évora, quando a cidade era a capital da cultura e o povo a vivia de peito aberto, na rua... Eu tinha 16 anos e encontrara-o em boa hora porque me pairava na cabeça o projecto de abraçar as artes que o Centro Cultural de Évora em mim despertara... disse-lhe!... ele, demorou um pouco para retorquir e perguntou-me: "Estás a acabar o Liceu, não é? Mas pensaste ir para a Universidade... diz lá que curso querias fazer" e eu, um pouco desiludida por pensar que ele ia ficar entusiasmado por haver jovens que acompanhavam o trabalho cultural que a Companhia levara, depois do 25 de Abril, ao coração do Alentejo, respondi: "Filosofia..."... o Mário parou, olhou para mim e disse: "Vai para a Faculdade... tira Filosofia"... eu tentei ripostar: "mas... posso fazer as duas coisas até porque o teatro pode articular-se com o estudo e a leitura"... ele voltou a parar e, em frente da Violeta (a pastelaria, claro), disse-me, muito sério: "És muito nova... vai primeiro fazer Filosofia... depois, se ainda quiseres vir, vem"... Acompanhei o trabalho de Mário Barradas e do grupo de actores que criou, do Centro Cultural de Évora ao Cendrev e à Companhia... devo à sua arte e à sua forma de estar na vida, uma parte do que sou. Por isso, hoje, sinto que todos perdemos um Amigo e um Mestre... mas se sinto que a minha vida ganhou muito por habitar o espaço que ele escolheu para trabalhar, imagino a perda dos meus amigos que, com ele, partilharam uma vida inteira de quotidianos, mágoas, alegrias e trabalho... conforta-me saber que a herança que o Mário Barradas deixou a este país tem na Ana Meira, no Alvaro Corte-Real, na Isabel Bilou, na Rosário Gonzaga, no Rui Nuno, no Vitor Zambujo, no Zé Russo e em tantos outros (de que não posso deixar de destacar o Fernando Mora Ramos), a garantia de continuidade de que as novas gerações já dão sinal. Um grande, grande abraço a todos... por todos nós, os que aprendemos a construção do ser também convosco!... dele deixo a fotografia (na companhia de J.Benite) e um texto que pode ser lido AQUI.

Ainda a Tolerância...


... na sequência da evocação de Voltaire que aqui chegou pela mão de JMCorreia Pinto (autor do lúcido e irreverente Politeia), vale a pena ler o texto de Leonard Boff... AQUI.

Marketing e Navegação à vista



"(...) Que difícil ser próprio e não ver senão o visível." (Alberto Caeiro)

... Jacques Brel e Alberto Caeiro - eis as evocações possíveis depois de se ouvir falar em "espionagem política", quando está em causa o Ministério Público, quando todas as condições concorrem para se falar no desrespeito pela separação de poderes e quando se induzem intenções a partir da especulação explorada após o enunciar de suspeitas, reagindo-se como se de um reflexo condicionado se tratasse... assumindo o risco de descredibilizar a investigação e a avaliação racional dos problemas... a precipitação da auto-defesa, num quadro de maioria relativa em que se adivinham difíceis, morosas e plurais negociações justifica a insensatez?... não!... explica-a mas, de facto, não a legitima... como o preço de acordos pontuais de que é exemplo a avaliação de professores ou o espanto ministerial perante o número de pessoas sem trabalho quando se cumpre a, há muito, anunciada maior taxa de desemprego de que há registo, que mais não significam senão que a tudo se está disposto para viabilizar, sem emendas, propostas polémicas que uma oposição esvaziada aproveita, de forma gratuita e sem alternativas (ou não exigiria a anulação da avaliação de professores e apresentaria, isso sim, medidas concretas para o combate ao desemprego como prioridade no debelar da crise)... A "navegação à vista" tem destas coisas: gere o possível sem se comprometer com coisa alguma e dá razão ao que fôr preciso para não aparentar perder a razão... independentemente do interesse nacional! ... porque o interesse nacional, mais do que ver aprovadas apressadas propostas de lei escassas no conteúdo, exige tempo negocial, recalendarização da agenda parlamentar, reformulação de propostas e flexibilidade analítica de Governo e oposição... ficamos assim, afinal de contas, com a sensação de que o Governo está apenas, talvez até inconscientemente por excesso de vontade de afirmação, a criar condições para a emergência de oposições consolidadas... porque medidas conjunturais são efémeras e o país carece de intervenções estruturais em que todos se comprometam, não para contabilizar vitórias de Pirro perante si próprios mas, para procurar e encontrar soluções melhores... claro que espreita, sobre o ombro de todos, a aprovação de um Orçamento de Estado, a votar... mas o interesse nacional, declarado eleitoralmente, não se satisfaz com o preço da abstenção e visa, pelo contrário, o esforço em fazer mais e melhor do que, apenas, contar com o não bloqueio dos outros... porque o Marketing não retira mas antes fornece razões para que avaliem e intervenham na realidade, quase exclusivamente, valorizando e exibindo uma imagem de aparência que se esgota no ruído das campanhas ou da publicidade mediática sobre acordos que, na realidade, pouco mudam o que urge mudar na vida do país e dos cidadãos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tolerância... Precisa-se!



No passado dia 16, foi Dia Internacional da Tolerância e no Crónicas do Rochedo foi lançado um repto de celebração simbólica que consiste em responder, sinceramente, a 3 perguntas... Considerando os tempos que correm e a cada vez maior relevância da diversidade na sociedade multicultural e multiétnica em que vivemos, aqui fica o contributo do A Nossa Candeia:



1 -O que significa ser Tolerante?


Ser tolerante significa ser capaz de respeitar crenças, valores, atitudes e práticas diferentes das que a nossa cultura configura no conjunto de opções de vida que enquadram as nossas decisões.



2 - Em que tipo de situações tenho dificuldades em praticar a Tolerância?


Tenho dificuldades em praticar a Tolerância perante a injustiça e a crueldade conscientes e intencionais, perante o dogmatismo mas, acima de tudo, sempre que estão em causa Direitos Humanos...



3 - Tolerância será abrir mão das próprias convicções?


Não. As convicções individuais que participam da identidade do que somos e do que escolhemos ser, persistem na exacta medida da nossa determinação em as afirmar, enquanto expressão auto-regulada da nossa existência... neste sentido, a Tolerância é uma aprendizagem a que as próprias convicções devem ser sensíveis porque, mais do que qualquer outra coisa, é o exercício da Tolerância que as legitima.



As 3 perguntas devem agora ser transmitidas aos que reconhecem a importância desta reflexão... vão ver que não é tão simples como parece mas, posso dizer-vos que o resultado deste pequeno esforço é gratificante, principalmente pelo tempo que dedicamos ao pensar sobre o assunto, no contexto da nossa própria auto-avaliação. Desejo-vos uma boa experiência!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Portugal no Índice Internacional de Percepção da Corrupção


Segundo a Transparency International, em 2009, Portugal ocupa o lugar nº35 de uma lista de 180 países que, anualmente, são ordenados segundo o Indice de Percepção da Corrupção... considerando o número de casos que tem vindo a público, relativamente a suspeitas e processos que investigam o fenómeno no nosso país, bem como o impacto mediático que têm motivado, o lugar 35 desta tabela pode sugerir aos mais incautos, expressões do género: "afinal, até não estamos assim tão mal"... uma breve consulta da lista publicada corrigirá qualquer tipo de esperança... basta ver com atenção o nome de cada um dos países que se nos seguem, para se tornar indubitável a linha de fronteira em que, de facto, nos situamos... confirme-se AQUI.

Discrição de alto nível...


A propósito do "Face Oculta" e no âmbito da divulgação da audiência do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, hoje, às 18h, em Belém, os portugueses ouviram o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, interpelado pelos jornalistas, dizer: "(...) que estou preocupado, estou... coisa diferente é fazer declarações à comunicação social (...)"... seria preciso dizer mais, para alimentar a especulação?... De facto, a delicadeza destes contextos dificilmente escapa à lógica do "ser preso por ter cão e ser preso por não ter"... será, talvez também por isso, aconselhável mais discernimento e sentido de responsabilidade na gestão da "coisa pública"... isto se, na verdade, ainda se considerar prioritária a estabilidade governativa para um país que precisa, urgentemente, de soluções socio-económicas decisivas para o quotidiano das pessoas, no curto e no médio prazo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma História Cantada...



... por Chico Buarque... uma melodia para começar bem a semana :)

domingo, 15 de novembro de 2009

Um desafio para 5 revelações


Um simpático desafio enviado pelo T.Mike do Vermelho Côr de Alface consiste em que os bloggers convidados a aceitar este repto, procedam da seguinte forma:


1 - Seguir as Regras;

2 - Colocar o selo no início da mensagem que indica quem está, quem esteve, ou estará na brincadeira;

3 - Completar as 5 frases seguintes:


Eu já tive... mais confiança na classe política;

Eu nunca... assisti a um jogo de futebol num estádio;

Eu sei... que é na Educação que radica a resistência à corrupção;

Eu quero... uma Democracia Melhor, com mais: Justiça, Liberdade, Educação e Meritocracia;

Eu sonho... com um Mundo Melhor para Todos.



sábado, 14 de novembro de 2009

Da Manipulação Informativa à Ficção Literária como Catarse




Informação, contra-informação, suspeitas, factos, comentários e opiniões fazem o conhecimento? Não. E aproximam-nos da realidade?... apenas e só na medida em que forem epistemologicamente consideradas as afirmações e os seus contextos. Eis a razão porque, apenas se pudessemos dedicar todo o nosso tempo ao tratamento multidisciplinar das notícias e dos textos que chegam ao conhecimento público, configurando a opinião mediática que nos é apresentada como colectiva, poderiamos confiar, sem reservas, no que se diz e/ou no seu contraditório. Porém, hoje mais do que nunca, todos avocam a liberdade para usar o espaço público e todos evocam as suas fontes como fidedignas ainda que, em grande parte, sejam anónimas, pelo menos do ponto de vista do leitor-cidadão. A democracia surge assim, aparentemente, como um espaço aberto e não-restritivo de exercício da circulação informativa... sem que, proporcionalmente à sua importância, seja analisado ou discutido com seriedade, o problema central da sua legitimação: o poder económico em que assenta a propriedade dos media e as esferas políticas que nele desenvolvem a sua intervenção garantindo, exclusivamente, a gestão manipulada do teor do que vai emergindo, em função de interesses individuais ou de grupo. Não interessa nada o interesse nacional a não ser aquele que afecta os lobbies, formais ou informais, como não interessa o interesse colectivo de cidadãos e populações... essa é, afinal, a razão que justifica a dispersão da "causa pública" na política, que nos obriga a viver rodeados de uma poluição de intrigas inter-partidárias vestidas das mais diversas roupagens, com rostos de oportunidade que nos afastam do que sabemos ser essencial: combater a pobreza, o desemprego e a discriminação, criar riqueza, emprego, aumentar a produtividade, criar confiança nos consumidores e consolidar a confiança nas instituições democráticas. Porém, cada vez mais, em Portugal, Economia, Justiça, Trabalho, Segurança Social, Saúde, Educação e Cultura, parecem minimizar as causas, dispersando-se pelas consequências casuísticas de situações que nem deveriam existir se a sociedade formasse, na família, na escola, nos meios de comunicação social e no espaço público, pessoas capazes de resistir às tentações facilitistas de ascensão social pelo recurso a meios muito próximos do acesso ao dinheiro, mais ou menos, "ilícito" - conceito que, entre nós, radica na negligência de costumes e práticas relativamente a valores éticos de cidadania... continua, também por isso, a ser catártica a literatura, clássica e contemporânea, com a qual avaliamos e aferimos padrões do comportamento social, sem o condicionalismo da responsabilidade que sobre nós pesa quando pensamos o enquadramento em que se move o nosso quotidiano... Stieg Larsson, jornalista sueco, criou, em 2004, uma metáfora interessante das sociedades ocidentais contemporâneas, numa trilogia aliciante intitulada "Millenium", cuja personagem principal diz a certa altura: "Não há inocentes. Há apenas diferentes graus de responsabilidade"... depois de entregar o livro ao editor, numa daquelas ironias da vida que a doença resolve desencadear, Stieg Larsson morreu... ... fica a obra... fascinante para quem gosta de um bom romance de ficção por muito se interessar pela realidade.

Petição Contra a Fome...


Vale a pena ler... e subscrever... porque, se nos não bastam as intenções e as palavras, não podemos, também, por outro lado, dar-nos ao luxo de não integrar esse esforço já com história mas, acima de tudo, com futuro, que a canção enunciava assim: "junta a tua à nossa voz":

PETIÇÃO CONTRA A FOME ... um documento a que Manuela Araújo e Rui Herbon, respectivamente, no Sustentabilidade é Acção e A Escada de Penrose, me permitiram aceder.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Perguntas incomodamente insidiosas...




Há coisas assim... incómodas!... emergem, súbitas, à nossa mente e instalam-se, venenosas, insidiosas, persistentes, inquisitivas... perguntas, interrogações, dúvidas... talvez por uma espécie de reflexo condicionado provocado pelas faces ocultas de tantas coisas, pelo hábito sistemático que se vai tornando costume, de tudo, em política, acabar por revelar um preço, à partida, insuspeito - pelo menos para os incautos e os de boa-fé... vejamos... cheguei a hesitar em formular esta sequência de perguntas para mim mesma, em a pensar em voz alta, mais ainda em a escrever e a partilhar... mas torna-se-me pesado o silêncio e a persistência em a ignorar... assim, de boa-fé, aqui fica: será que se pode estabelecer alguma relação entre a defesa da continuidade dos colonatos judaicos na Cisjordânia e a aprovação do plano de saúde para milhões de norte-americanos até agora privados de um direito fundamental? ... será que um direito fundamental num canto do planeta pode justificar o contribuir para a violação de direitos fundamentais num outro espaço planetário?... que raio de humanidade é esta que inquina a acção política deixando o livre-arbítrio condicionado a opções tão injustamente desumanas?... será que nos habituámos de tal modo a encontrar razões escusas em todos os procedimentos, ao ponto de inventarmos causalidades e correlações, misturando factos e hipóteses explicativas?... será que perdemos, de vez, a nossa ingenuidade?... ou estaremos agora na posse de um molho de chaves perante um sem-número de portas, à procura de supostas correspondências?...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Leituras cruzadas...

Enquanto se desenvolvem as investigações sobre as faces mais ou menos ocultas do poder que grassam pelo nosso pobre país enquanto a Europa se debate com problemas que, cedo ou tarde, terão continuidade em impasses para os quais o funcionamento institucional da UE não está devidamente preparado (vale a pena ler os textos de António Serzedelo no Vidas Alternativas), o mundo celebra uma das mais simbólicas quedas do mundo contemporâneo: a do Muro de Berlim que, há 20 anos e por 28 anos, dividiu, política e militarmente, o espaço europeu. A data, 9 de Novembro, regista, entre nós, interessantes comentários, díspares é certo mas, sintomáticos do enriquecimento que significa a pluralidade democrática (vejam-se os textos de João Pinto e Castro no Jugular, de Pedro Correia no Delito de Opinião, de Daniel Oliveira no Arrastão, Vitor Dias no O Tempo das Cerejas, João Pedro Dias no Câmara dos Comuns, Raimundo Narciso no PuxaPalavra, Carlos Barbosa de Oliveira no Crónicas do Rochedo e João Tunes no Água Lisa* ).
Entretanto, como bem se demonstra numa leitura rápida do noticiário seleccionado pelo SOS Racismo, continuamos a construir outros muros por todo o lado (leia-se a reportagem da BBC transcrita pelo Forum Palestina) até que esteja interiorizada politicamente a noção de que a Educação é que construirá a Cultura de Cidadania de que todos e as novas gerações em particular, precisamos (vale a pena reflectir sobre o texto de Paulo Querido no Certamente) para que o planeta sobreviva às dicotomias que a História já demonstrou contraproducentes e ineficazes para a gestão humanizada da organização económico-social... porque, com uma economia de mercado em plena crise (leia-se o texto de João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas) a reeditar a reflexão urgente sobre valores e ideologias mas, em relação à qual se não registam respostas desassombradas e corajosas, capazes de se inclinarem humildemente perante as lições da História, temos ainda, passe a expressão, "muita pedra para partir"... resta-nos desejar que o preço não custe a vida ao futuro!
(Nota: o texto de João Tunes foi inserido neste post posteriormente à data inicial da sua publicação)

Viva Berlim! (O Muro de Berlim - 3)

Celebram-se hoje, dia 9 de Novembro de 2009, os 20 anos da Queda do Muro de Berlim que resgatou à História, os 28 anos de incompreensível e inaceitável separação de um povo. Sem atender aos laços familiares, afectivos e culturais, a ocupação política do poder determinou, com base na ocupação residencial dos cidadãos, a sua segregação e a interdição da sua mobilidade e comunicação.

No dia 9 de Novembro de 1989, o Muro caiu e em 18 de Março de 1990 deu-se, a partir do resultado das eleições livres realizadas para o efeito, a Reunificação da Alemanha. Hoje, 20 anos depois, todos descobrem as limitações do "outro lado": desemprego, pobreza, exclusão, dificuldades de integração... mas, o reconhecimento é comum: valeu a pena!... porque a cidadania venceu o muro da violência política e agora, ocidentais e orientais, como um só povo, caminham juntos para o futuro!... Foi assim que os Berlinenses viveram o Concerto The Wall que, em 1990, juntou na sua cidade, sob a direcção de Roger Waters dos Pink Floyd, muitos, muitos amigos, cujo espectáculo performativo o YouTube nos permite conhecer em 12 partes de que aqui trazemos, pelo seu simbolismo, a 7ª e a 12ª!... na Potsdam Platz, o mesmo local onde, em 1945, 1948,1949, 1961 e 1989, os Berlinenses viveram momentos dramáticos que a Europa guarda na memória como símbolos da história do século XX. Viva Berlim!

domingo, 8 de novembro de 2009

GORBY, o Espírito da Mudança (O Muro de Berlim - 2)



Mikail Gorbatchev, o comunista sem-medo, o democrata destemido, o político corajoso, o rosto, a voz e a acção da mudança, institucionalizou o fim da Guerra Fria... amado e respeitado, tornou-se a voz dos Berlinenses que gritavam, faz agora 20 anos, pelo fim do Muro e o Direito à Liberdade... "Gorby, Gorby, Gorby!" - eis o "grito de Ipiranga" que demoliu o Muro de Berlim... Mikail Gorbatchev que, na passada 6ªfeira, dia 6 de Outubro de 2009, disse à televisão francesa, com a humildade que só podem ostentar os que não precisam da vaidade do protagonismo e os que reconhecem a importância dos povos, ter sido a vontade dos cidadãos que derrubou esse Muro da Vergonha, cuja queda demonstrou, surpreendendo a História, que as Pessoas fazem e podem fazer o Mundo...



O Muro de Berlim - 1




Berlim foi, entre 1961 e 1989, exemplo do que já foi designado por "esquizofrenia geopolítica" da Guerra Fria e o seu Muro, tristemente célebre, o rosto, a carne e o sangue dessa loucura... No contexto da estratégia dos Aliados que permitiu a derrota dos exércitos de Hitler, Berlim foi conquistada em Maio de 1945 pelo Exército Vermelho e dividida, para efeitos de controle e gestão política, em 4 sectores: russo, americano, inglês e francês. Contudo, herdeira maior da II Guerra Mundial, a Guerra Fria radicalizou posturas de divisão do mundo para o exercício hegemónico do poder e, em 1948, Berlim passou a estar dividida apenas em 2 sectores: soviético e ocidental. Foi então que Stalin decidiu, como expressão da sua rejeição do Plano Marshall que institucionalizou a aliança política da Europa com os EUA que, até hoje, conhecemos, impôr aos Berlinenses um bloqueio total, tornando-os reféns de um jogo político-ideológico de expressão militar que se prolongaria até final dos anos 80 do século XX. A reacção ocidental, protagonizada pelos EUA através da manutenção de uma "ponte aérea" que distribuiu persistentemente, durante 11 meses, alimentos à população cercada, levou à desistência do plano stalinista em 12 de Maio de 1949 e Berlim passou os 12 anos seguintes num clima de tensões, restrições e conflitos que, pelo medo, criou condições para a criação de 66,5 kms de gradeamento, 302 torres de observação, 127 redes electrificadas e 255 pistas para ferozes cães de guarda preparados para perseguir os que tentassem ultrapassar o espaço interdito. Estava criado o Muro de Berlim e inaugurado um mundo paralelo, coexistente e antagónico, feito de duas realidades que se não podiam tocar, reduzidas ao imaginário sobre a realidade de uns e de outros... um muro que criou ódios, medos, expectativas e suscitou altruísmos, revoltas e curiosidade. O muro da força, da violência e do terror contra a sociedade civil perduraria, com a conivência de todos, até 1989.