sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Educação e Responsabilidade - Axioma e Praxis


O axioma da responsabilidade universal resulta da consideração de uma coexistência proporcional entre as duas facetas da responsabilidade cívica e política, a saber, a responsabilidade individual e a colectiva. Ora, da enunciação à praxis deste axioma sob a forma de princípios éticos interiorizados e manifestos nos comportamentos dos cidadãos, das organizações e dos Estados, encontramos, a título de factor de mediação, o reconhecimento político do papel da educação cuja forma e conteúdo requerem, nos nossos dias, uma estruturação científico-pedagógica, capaz de permitir uma dinâmica de ensino-aprendizagem adequada e útil à aquisição das competências técnico-sociais indispensáveis, segundo a expressão feliz de Bento de Jesus Caraça, "ao desenvolvimento integral do indivíduo" (in Conferência, 1933). Tenzin Gyatso, o 14º Dalai-Lama do Tibete, Prémio Nobel da Paz, pensador e pedagogo por formação, enunciou da seguinte forma, as grandes problemáticas do nosso tempo que, devendo ser os eixos de enquadramento e referência da estruturação da política educativa, se nos colocam como cidadãos e agentes de desenvolvimento e que deveriam enquadrar a educação contemporânea: "(...) Há ainda, como já fizemos notar, uma aceitação crescente da universalidade dos direitos humanos e da necessidade de aceitar a diversidade em domínios de importância geral, como, por exemplo, as questões religiosas. Penso que isto reflecte o reconhecimento da necessidade de uma perspectiva mais ampla que responda à diversidade da própria família humana. Daqui resulta, apesar da grande quantidade de sofrimento que continua a ser imposta aos indivíduos e aos povos, em nome da ideologia, da religião, do progresso, do desenvolvimento ou da economia, um novo sentimento de esperança para os oprimidos. Embora seja difícil, sem dúvida alguma, conseguir a paz genuína e a harmonia, isso é possível. O potencial existe. E a sua base é o sentido de responsabilidade de cada indivíduo na sua relação com todos os outros. (...) Os problemas da disparidade económica põem um desafio muito sério a toda a família humana. (...) Durante o início e até meados do século XX, havia uma opinião generalizada de que o poder económico e político tinham mais importância que a verdade. Mas creio que isto está a mudar. Mesmo as nações mais ricas e poderosas compreendem que não têm interesse em ignorar os valores humanos básicos. A noção de que há lugar para a ética nas relações internacionais está a ganhar terreno. (...) Esta evolução indica que, colectivamente, nós humanos estamos a dar mais peso a valores fundamentais como a justiça e a verdade. Também me alegra o facto de que, quanto mais a economia mundial evolui, mais visivelmente se torna interdependente. Cada país depende dos outros, em maior ou menor grau. A economia moderna, tal como o ambiente, não conhece fronteiras. (...) E quanto mais as relações económicas são interdependentes, obrigatoriamente, mais interdependentes se tornam as relações políticas. (...) É uma direcção que acredito que vai e deve continuar. Não podemos, no entanto, negar que, paralelamente à proliferação destas alianças políticas e económicas, há também o desejo manifesto de uma maior consolidação étnica, linguística, religiosa e cultural - muitas vezes de forma violenta e na sequência do afrouxamento dos laços nacionais. O que fazer com este paradoxo aparente - por um lado, a tendência para grupos cooperativos internacionais e, por outro, o impulso para a regionalização? Não há necessariamente uma contradição entre os dois. Podemos imaginar comunidades regionais unidas por acordos comerciais, sociais, políticos e de segurança que sejam compostas por uma multiplicidade de grupos étnicos, culturais e religiosos autónomos. Pode haver um sistema legal protegendo os direitos humanos básicos da comunidade em geral que deixe as comunidades constituintes livres de prosseguirem o modo de vida que desejam. É importante que a constituição de uniões seja voluntária e se baseie no reconhecimento de que o interesse dos participantes é mais bem servido através da colaboração. Não pode haver imposição. Na verdade, o desafio do novo milénio é seguramente uma maneira de criar uma cooperação internacional - ou melhor, uma cooperação intercomunitária - onde a diversidade humana é reconhecida e os direitos de todos respeitados.(...)" (in "Ética para o Novo Milénio", 1999/2000)... assim, para que o axioma da responsabilidade universal seja inerente à praxis individual e colectiva, é fundamental que, ao nível educativo se proceda de tal modo que, cada cidadão, desde criança, seja educado para ser uma Pessoa Culta... "(...) O que é o homem culto? É aquele que: 1º) Tem consciência da sua posição no cosmos e, em particular, na sociedade a que pertence; 2º) Tem consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência como ser humano; 3º) Faz do aperfeiçoamento do seu ser interior, a preocupação máxima e o fim último da vida.(...)" (Bento de Jesus Caraça, idem).

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