sábado, 24 de janeiro de 2009

Intencionalidade e Percepção



"Eros e Psyche" de Fernando Pessoa é um texto extraordinário... Não, não é sobre narcisismo... nem sequer sobre projecções egocêntricas... apenas o retrato da nossa condição humana, construtora no "outro" do que nos vai na alma... para o bem... e para o mal!... por isso, radicam na intencionalidade e na percepção os condicionalismos e motivações subjacentes às decisões e práticas do sujeito - como nos deixaram perceber, um dia, Husserl e Merleau-Ponty!... e na relação de causa-efeito circular em que se entrelaçam percepção e intencionalidade, na emergência de expressões e práticas, perdemos a noção de que, subjacente a todo o enunciado, há um sujeito que não é inconsciente da sua cognoscibilidade e se deslumbra, em si-mesmo, consigo próprio, esquecendo o "outro" que é afinal, também!, o mesmo!... porque o Ser, na sua relatividade epistémica, continua, potência e acto, Uno e Plural.

4 comentários:

  1. «"Eros e Psyche" de Fernando Pessoa é um texto extraordinário...» sim é-o... Brincando um bocadinho só com Husserl que muito nos deu a perceber através do conceito de «epokê» enquanto suspensão de toda a validade judicativa e predicativa...repare-se… “ele” conseguiu pôr o mundo entre aspas para encontrar a extra- mundaneidade arqui- originária do ego puro e voltar a reconstruir o mundo; “ele” até visou “ (...) uma reforma total da filosofia, para fazer desta uma ciência com fundamentos absolutos” (in, Meditações Cartesianas); todavia,tem o seu limite assim que entramos na esfera da inter - subjectividade, Husserl fez do “outro” o seu alter-ego (devido a constituição do outro por analogia), o que me leva a crer que está já a apropriá-lo.. é no sentido de como se eu estivesse ali, não deixando espaço à estranheza do “outro”…e puff…lá vem o limite da fenomenologia husserliana..

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  2. ... a que tentam responder os seguidores, desde logo, Merleau-Ponty... contudo, permanece interessante reflectir sobre o espaço da inter-subjectividade e tentar aferir as condições de construção da própria percepção e da "apropriação" não só porque o próprio conceito de "estranheza" implica uma dimensão demissionária do "pensamento para" e uma outra face do "pensamento de"...

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  3. Eu estava para ficar calado mas acho que tenho obigação de lhe trazer uma revelação - é a primeira pessoa a quem conto isto e peço que não espalhe. A questão é que "o Outro"... sou eu! (E já me arrependo de lhe ter contado).

    Com estima e admiração, AMP

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  4. Benvindo, AMP ou, no caso, melhor dizendo, o Mesmo!... e... obrigado pela confidência! ... serei discreta!... O seu comentário fez-me lembrar um fabuloso texto dramatúrgico de José Régio "Mário ou Eu Próprio-O Outro"... Volte sempre!

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