quarta-feira, 29 de abril de 2009

Leituras Cruzadas...

Vivemos na época da complexidade e da interdisciplinaridade... porque, felizmente!, compreendemos que a especialização pode ser redutora no que a modelos explicativos e metodologias diz respeito. Este facto implica, por um lado, uma aproximação à realidade e, por outro lado, uma disponibilidade para a emergência da criatividade e do debate. Penso ser esta a razão que me assiste no gosto em, semanalmente, proceder a uma espécie de jogo de "palavras cruzadas" sobre a realidade, a partir do qual, através do olhar dos outros, revejo, de um ou de outro modo, os meus próprios modos de olhar... faço-o aqui, nas "Leituras Cruzadas" que, esta semana, destacam o facto de não poder ser ignorado o facto da tão falada crise estar a negligenciar, a passos largos, a revitalização reformista do sistema em que se reflecte o presente e se configura o futuro da gestão social em cujo contexto deveriam ser perspectivadas as Eleições Europeias (vale a pena ler, sobre este assunto, os textos de JMCorreia Pinto no Politeia). Na verdade, a orgânica social procede de um tal modo que os períodos de mudança social são, no médio prazo, assimilados pela macro-lógica do sistema ainda que essa assimilação tenha um preço (analogicamente, vale a pena ler o texto de Nuno Ramos de Almeida no 5 Dias, sobre a pandemia da gripe em curso)... preço que é, muitas vezes, paradoxal nomeadamente por desencadear problemas paralelos que, contraditoriamente, nos levam a equacionar a racionalidade subjacente à intervenção económico-social e política por parte dos respectivos agentes. Exemplo flagrante do que acabo de evidenciar é a notícia da disposição europeia para um enorme alargamento dos horários de trabalho que, em tempos de tão elevadas taxas de desemprego (leia-se o post de Jorge Assunção no Eleições 2009), não pode deixar de nos surpreender e nos preocupar... ainda a título de matéria para se aprofundar a reflexão sobre o que está em causa, é de ler, a propósito da globalização, o texto de Jorge Bateira nos Ladrões de Bicicletas... particularmente, a propósito das questões relativas ao problema da produtividade em Portugal e da questão da inovação, leiam-se os textos de José Manuel Dias no Cogir... Finalmente, porque é relevante e não negligenciável, vale a pena ler a apreciação dos 100 dias de Obama no texto de JRV no Activismo de Sofá.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O que há de novo? (2)


Afinal, há algo de novo, no horizonte!... não, não é o facto de, uma vez mais, a Dra. Manuela Ferreira Leite só ter a noção do que diz quando o lê mas, o facto de ter rejeitado a sugestão governativa que se lhe ouviu e que tem vindo a ser notícia por vários motivos - e o seu contrário!... A sugestão não terá, ao que se percebe!, decorrido de um acto volitivo e estratégico podendo, aparentemente, ter sido motivada por uma qualquer inspiração, quiçá pouco convicta mas, indiscutivelmente assertiva quando interpelada directamente pelo jornalista sobre se estaria disposta a subscrever uma proposta de tipo Bloco Central ou AD?!... Porque foi aí que a frase que a líder do PSD utilizou e que a comunicação social tem vindo a citar de uma forma tal que, quase branqueando o respectivo contexto enunciativo, parece o contrário daquilo que efectivamente foi! ... Como o afirma o Director do DN no seu editorial de hoje, como se reitera na crónica de António Costa Pinto publicada na edição impressa deste jornal e na narrativa sobre a entrevista "de que se fala" que também foi objecto da atenção do DN de hoje. Apesar de muitos alegarem não ter ouvido a entrevista, fomos muitos os que, realmente!, ouvimos em directo o que bem descrevem os textos do DN... portanto, de novo, no nosso país, parece ter acontecido uma espécie de interferência eléctrica, após a qual já ninguém sabe o que diz ... ou o que ouve!!! - esperemos que não seja o prenúncio de uma nova pandemia...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O que há de novo?


Não, ainda não são boas as notícias que se vão conhecendo! A crise persiste e as soluções que se lhe vão propondo começam - como, infelizmente!, dado o tipo de lideranças políticas que as protagonizam, seria de esperar! - a dar sinais de uma insustentabilidade evidente, decorrente da sua falta de coesão e coordenação internacional (apesar das Cimeiras internacionais a que temos vindo a assistir nos últimos meses)... exemplo maior deste facto é a penalização por excesso de défice de países que estão, de forma evidente, a sentir nas respectivas economias os efeitos da crise, por parte da União Europeia (como bem descreve Carlos Santos no Valor das Ideias), a que acresce, recorrentemente, a actualização do diagnóstico do FMI que já só perspectiva para 2011 a tão desejada recuperação (como refere Nuno Teles no Ladrões de Bicicletas)... Entretanto, por cá, além do anúncio do risco de pandemia da "gripe da América do Norte" (também conhecida como "gripe suína"), é notícia a disponibilidade da líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, para reeditar o Bloco Central, numa versão que pode ou não equivaler à AD... disponibilidade que só surpreende por ser considerada uma espécie de alteração da postura deste partido... na verdade, seria excessivamente provocatório para os próprios militantes sociais-democratas, eliminar esta possibilidade no quadro caótico das expectativas eleitorais que a opinião pública, nomeadamente reflectida nas sondagens, deixa entrever... depois do anúncio da coligação em Lisboa liderada por Santana Lopes, esta afirmação da Dra.Manuela Ferreira Leite denota uma espécie de último recurso antes do isolamento final... Portanto... nada de novo no horizonte!

domingo, 26 de abril de 2009

Benção Política - "o santo e a senha" de uma canonização anunciada...




Em pleno século XXI, a canonização de Nuno Álvares Pereira não deixa denotar outro significado senão o de um oportunismo político. De facto, por muitos argumentos históricos, nacionalistas ou patrióticos, que se possam apresentar, é incontornável que, no contexto da sociedade laica e democrática em que vivemos, elevar uma figura guerreira do século XIV ao mais elevado reconhecimento da Igreja Católica, com o apoio do Vaticano e de um grupo de portugueses, escuteiros, monárquicos e outros, se assemelha a uma prática de legitimação simbólica obscurantista, promotora da efabulação e reiteradora da confusão entre religião e estado... no fundo, trata-se, isso sim,de um desrespeito pela História enquanto conhecimento racional e de uma atitude anti-científica em que o valor da verdade é ultrapassado pelo recurso ideológico à manipulação populista. Dito de outro modo, no actual contexto de crise política e económica, utilizar a mentalidade nacionalista como elemento religioso é, inquestionavelmente, uma atitude política que se não pode desligar da intencionalidade do exercício de uma função social, a saber, influenciar, pelo recurso ao simbólico, os cidadãos através do reforço de uma radicalização de valores direccionados num sentido contrário ao que, tendencialmente, se promove na sociedade civil, a saber, a não discriminação, a paz, o entendimento, a concertação de esforços colectivos, o combate aos fanatismos, dogmatismos e nacionalismos. A perspectiva do "herói nacional", defensor da independência e da soberania é uma percepção alargada e abstracta que legitimaria actuações seguramente consideradas bizarras, ora por uns, ora por outros... e, se este facto não tem gravidade na medida em que se inscreve na possibilidade da afirmação pública do pluralismo democrático e da liberdade de expressão, podemos contudo imaginar um conjunto de reacções cívicas e políticas se, de repente, fosse decidida, com base nos referidos argumentos de promoção da defesa pátria, da soberania e da independência, a canonização de Otelo Saraiva de Carvalho, de Mário Soares ou, até mesmo, de Salazar... absurdo? Porquê? Para diferentes sectores da sociedade portuguesa, cada um à sua maneira e de acordo com os seus projectos político-ideológicos "salvou" a Pátria, respectivamente, do fascismo, da guerra, do imperialismo estrangeiro ou do comunismo!!! ... neste contexto, a canonização de Nuno Álvares Pereira em nada serve o bem-comum... porque esta canonização desemboca inevitavelmente na constatação da manipulação política levada à prática por sectores tradicionalistas da sociedade portuguesa com o aval do Vaticano, abrindo um precedente sério na regulação da separação dos poderes entre a Igreja e o Estado... este acontecimento, coincidindo com as recentes posturas da Igreja Católica no que se refere à forma como interpreta e julga os casos de violação de menores (lembremos o recente caso passado no Brasil, da excomunhão de uma menina de 9 anos por aborto decorrente de violação continuada), de prevenção da Sida (que Bento XVI arrasou com as declarações em África sobre o uso do preservativo), de discriminação da sexualidade entre pessoas do mesmo sexo (que os Bispos afirmam publicamente não deverem casar mesmo quando o que está em causa é o seu casamento civil e não religioso), de mobilização política dos poderosos lobbies económicos católicos e do acentuar da necessidade de se avaliarem as políticas familiares partidárias como critério para o exercício do voto, são, em contexto pré-eleitoral, atitudes que muito deixam a desejar no que se refere à intenção subjacente a todos estes procedimentos... porque, obviamente, não se trata de defender o interesse público mas, isso sim, de defender, corporativamente, outras realidades que implicam projectos sociais, políticos e ideológicos - cuja legitimidade, no quadro democrático da sociedade contemporânea, deveria assentar no assumir da natureza política do seu significado, de forma pública e frontal, de modo a reduzir os custos sociais da manipulação que resulta da utilização da religiosidade dos cidadãos!... contudo, fazê-lo implicaria diminuir ou anular aquilo a que Claude Lévi-Strauss chamou "a eficácia simbólica", razão pela qual, deste silenciar o carácter político deste evento, se deduz a consciência e a intencionalidade subjacente a todo este processo.

Revolução - sinónimo e senha... para a Liberdade!



Internacional, o grito por uma Revolução...



... por um Mundo Melhor!... para Todos!

sábado, 25 de abril de 2009

A dimensão internacional... da Poesia à Música... pela Revolução!



A dimensão internacional da "Revolução dos Cravos"... de Portugal ao Brasil... dos povos hispânicos aos ibéricos... a "ousadia da esperança"!... porque... Vale a pena acreditar!...

Abril... ontem e hoje!



25 de Abril... de 1974 a 2009... Sempre!... na voz de Carlos do Carmo ou de Chico Buarque... de Holanda... do Brasil... de Portugal... por um Mundo Melhor!... para Todos! ... Acreditar... lutar... persistir... Sempre!

Dos Discursos à Entrevista - a Memória, a Esperança e a Coragem...



Hoje, 25 de Abril, na Sessão Solene que, anualmente, celebra o Dia da Liberdade na Assembleia da República, foi comovente ver um Capitão de Abril subir à tribuna para se emocionar pela memória da coragem que levantou o Movimento dos Capitães para acabar de vez com a Guerra Colonial, dar voz à Liberdade de Expressão e abrir a porta do país à Democracia! Da arrogante campanha que Paulo Rangel aproveitou para fazer em nome do PSD à feliz consistência do discurso de Jaime Gama, o discurso do Presidente da República insistiu no combate à abstenção... A crise, sempre presente, deu mote a todas as intervenções... entretanto, ocorre-me a lembrança de que, antes da coragem que tornou possível o 25 de Abril, havia muita pobreza, muito medo, fome e até guerra!... por isso, apesar de todas as dificuldades, é preciso não perder o discernimento e saber a natureza do caminho que escolhemos, com a responsabilidade da consciência que nos conduz o voto!... sabemos que, em 1984, a governação desses anos deu lugar à entrevista de Zeca Afonso que aqui vos trago... para que não esqueça!... e para que, face aos problemas do presente, não desistamos do sonho, da esperança e da coragem!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 de Abril, Sempre!



Apaixonante, o 25 de Abril foi, na História de Portugal, um acontecimento inesquecível... Nenhum comentário, sob a forma de análise "a posteriori" poderá fazer esquecer a quem o viveu, mais ou menos jovem, o clima de alegria e esperança com que os portugueses acreditaram na Revolução... na mudança... na Democracia... num Mundo Melhor para Todos! Viva o 25 de Abril!

As palavras que fizeram nascer Abril...



Há 35 anos, na noite de 24 para 25 de Abril, depois das senhas cantadas na Rádio que abriram caminho para a Democracia através de uma revolução que ficou conhecida em todo o mundo como "A Revolução dos Cravos", um Comunicado do Movimento das Forças Armadas marcou, para sempre, Portugal... foi aí que, para o país nasceu o 25 de Abril!

Cantar de Emigração...



Na Homenagem a Adriano Correia de Oliveira, "Cantar de Emigração"... por um país que quase partiu... até Abril chegar!

A Queda do Império...



"A Queda do Império" ... por Vitorino e Filipa Pais.

Leituras Cruzadas...

Em vésperas de celebração dos 35 anos do 25 de Abril, faz sentido equacionar comparativamente no que pensámos que a democracia mudaria na sociedade portuguesa e, de forma mais alargada, na qualidade de Democracia de que usufruimos na Europa e no Mundo... Enquanto se conhecem as práticas de tortura que, até há bem pouco, se praticaram nos EUA (ver o texto de Ana Gomes no Causa Nossa) com a caução política de alguns primeiros-ministros europeus de então que, a partir da chamada "Cimeira da Vergonha" (dos Açores, "se bem se lembram"!), apoiaram Bush na sua inominável cruzada contra o Iraque, relembrar a política portuguesa anterior a Abril de 1974 é, pelo menos, necessário... para que as pessoas e nomeadamente, as novas gerações compreendam o que significou para o país, por um lado, a Guerra Colonial que afectou transversalmente toda a sociedade portuguesa e, por outro lado, a PIDE, polícia política que controlava e penalizava cruelmente a partir da suspeição e da denúncia, encontrando na Mocidade Portuguesa um facilitador para a delação e a legitimidade ideológica dos procedimentos do regime (leia-se o texto de João Abel de Freitas no PuxaPalavra). A memória é, de facto, relevante... porque sem ela se procede ao branqueamento da História e o presente perde consistência no entendimento da sua complexidade (leiam-se os textos de Nuno Novaes Tito no Eleições 2009 e de Francisco Seixas da Costa no Duas ou Três Coisas)... porque hoje, aos olhos de muitos, se torna quase impossível acreditar que, nesses tempos, entre inúmeras proibições, era também proibido, por exemplo, ler as melhores e mais reconhecidas obras da Literatura Internacional, nomeadamente "Ulysses" de James Joyce (sobre a qual vale a pena ler um belo texto de Osvaldo Castro).

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dos Livros e da Crise...


Hoje é Dia Mundial do Livro!... Portugal, com um dos mais baixos indices de leitura da União Europeia, ouviu hoje notícias que, entre referências de vários editores que explicam o facto em função dos elevados preços dos livros por razões que decorrem da pequena dimensão do mercado livreiro nacional, pode, uma vez mais constatar a adequação da imagem da "pescadinha de rabo na boca"... uma vez que o mercado é pequeno porque se lê pouco! ... A constatação merece a nossa melhor atenção nomeadamente porque as formas que têm vindo a ser desenvolvidas para incentivar a leitura não produziram os resultados esperados; disso é exemplo a campanha "Ler Mais" que obteve uma visibilidade nacional superior ao que é habitual quando se trata de questões culturais... portanto, há, seguramente, razões de outra ordem que justificam a persistência deste comportamento e, se a questão dos preços é uma delas, devemos pensar no actual contexto de crise cujos custos são já demasiado elevados para a generalidade dos cidadãos e que, segundo os dados divulgados ontem pelo FMI, serão ainda agravados em termos de efeitos, nomeadamente, ao nível do desemprego, do PBI e do défice. Por tudo isto, seria bom que os protagonistas políticos portugueses, ao invés de reduzirem a sua intervenção ao "apontar o dedo" à governação como "bode expiatório" de uma crise que nos transcende a todos e para a qual ninguém tem, até agora, "receitas milagrosas", investissem as suas energias na criação de soluções capazes de atenuar os custos sociais desta crise que ameaça, com particular destaque pelas razões apontadas no início deste post, o consumo cultural... para que as crianças de hoje não tenham no futuro que responder como o meu amigo Alberto, quando lhe perguntaram qual o livro que mais o marcara em toda a sua vida: "O livro dos fiados!"...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Liberdade e Informação...


Este texto não pretende esgotar-se no caso emblemático que refere... pretende contudo, quando nos aproximamos da celebração do 25 de Abril, alertar-nos para a dupla dimensão ilusória que participa na formatação das mentalidades e no uso dos meios da sociedade contemporânea. O DN traz hoje uma notícia que merece a atenção da sociedade portuguesa que, ao longo dos últimos meses, tem sido avassaladoramente bombardeada com suspeições, intrigas, omissões e pressupostos a propósito do designado Caso Freeport que agora tem novos desenvolvimentos, relevantes, no contexto do ambiente misteriosamente conspirativo com que a comunicação social portuguesa tem apresentado este "caso". A este propósito refira-se ainda que, ontem, na entrevista à RTP1, José Sócrates transmitiu uma imagem de determinação, clareza e segurança política apesar do teor das análises dos "comentadores de serviço" das diversas estações televisivas - que, naturalmente, legitimam a nossa perplexidade... na verdade, mais uma vez, trabalhando contra si próprios na ânsia de protagonismo e audição, qualificaram o que viram e ouviram (será que viram e ouviram?) de um tal modo que vale a pena lembrar o velho ditado "mais cego é aquele que não quer ver"... depois de tantos "tiros no pé", seria não só gratificante mas, acima de tudo, dignificante, se, um destes dias, a comunicação social portuguesa recusasse ser um contributo pró-activo da manipulação da opinião pública e voltasse a trabalhar com o profissionalismo responsável que todos os cidadãos merecem e dela têm o direito de esperar... porque os cidadãos querem e precisam de ser informados com objectividade e lisura... é isso que compete ao exercício democrático sério e livre... o tempo do boato, da intriga e da suspeição participa de uma organização social retrógada que em nada coincide com a sociedade do conhecimento e com o sentido de responsabilidade cívica inerente à dimensão de fenómenos como a globalização... o boato e a suspeição podem ser notícia, assumida que seja a sua condição de origem; contudo, nesses termos, não deveriam ocupar as agendas de modo a forçar à indução da culpa ou da interpretação de hipóteses especulativas como verdades. A Liberdade que o 25 de Abril de 1974 proporcionou à sociedade portuguesa, celebra, no próximo sábado, 35 anos... lembremo-nos que a suspeição infundada, o medo, o alarmismo, a manipulação e o boato dos fascismos (cuja polícia política também se designou "polícia de informação") foi uma arma política que pode assumir a forma de liberdade de imprensa ou de expressão se os seus protagonistas não mantiverem sempre presente, na formação e na acção, a ética democrática do direito à verdade e à justiça. Viva o 25 de Abril!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A aparência das contradições...


A falta de consenso final nem sempre significa fracasso... disso é testemunho, na designada "Cimeira das Américas", o facto da Venezuela voltar a ter nos EUA, um representante diplomático... mas, como não é legítima a generalização abusiva, devemos perguntar o que significou a troca de acusações de "racismo" e "sionismo" que marcou o primeiro dia da "Cimeira de Durban". O facto, na minha opinião, denota a exigência da comunidade cívica internacional de uma condenação do abuso do poder bélico por Israel confrontando os políticos com a problemática possibilidade de, ao fazê-lo, poderem emitir indicações contrárias ao seu sentido ou seja, verem associada a sua postura a afirmações radicais ou fundamentalistas... o caso da "Cimeira das Américas" com que iniciei este post vem a este propósito para chamar a atenção de que, nem sempre, "abandonar" os eventos é a forma mais eficaz de fazer valer a razão que assiste a cada um, podendo até, pelo contrário, ser exactamente interpretada como indicação de "sinal contrário"... na verdade, o diálogo é urgente e importa que, de forma contundente, se afirme a racionalidade dos argumentos, demonstrando-se na prática que o "Ocidente" não pretende persistir numa política diplomática que recorre a "dois pesos e duas medidas"... porque a justeza do seu posicionamento é condição "a priori" da sua credibilidade e o mais eficiente instrumento da afirmação da sua razoabilidade!... A legitimidade da existência dos Estados não pode ser posta em causa!... este é um princípio inegociável!... tal como o é a inadmissibilidade do apoio à acção bélica continuada de um Estado contra um outro, no contexto de uma desproporcionalidade de meios que vitimiza gerações e gerações de civis, ao ponto da memória genealógica das famílias não poder enunciar-se sem referência a vítimas mortais do mesmo conflito... A "susceptibilidade" diplomática não pode sobrepôr-se à luta contra a discriminação racial porque a gravidade deste problema na sociedade contemporânea justifica a sua prioridade na agenda política de todos... ora, no mesmo dia em que foi conhecida a defesa da tortura por ex-responsáveis por serviços de informação, bem como o facto de terem sido infligidas cerca de 300 simulações de afogamento, a título de tortura, a prisioneiros associados a práticas de terrorismo, "voltar as costas" ao diálogo é uma atitude que reforça a dimensão da insegurança internacional - facto que, reconheça-se!, no âmbito de uma crise económica mundial que continua em ritmo de recessão, não é, de todo, desejável... para ninguém!

Interrogar o paradoxo...



"É pra rir ou pra chorar?" de Gabriel, o Pensador... num tempo em que a realidade se apresenta mais paradoxal que nunca, deixando entre silêncios, omissões e protocolos, espaço para a ausência eficaz de uma acção, finalmente concertada, entre princípios e práticas...

domingo, 19 de abril de 2009

Exemplos... de (des)educação cívica?!...

Estranhamente, regista-se hoje a persistência de dificuldades na obtenção do consenso internacional inequívoco para apoiar a Declaração Internacional Contra o Racismo... e digo estranhamente porque, apesar do acordo diplomático conseguido na preparação da Cimeira de Durban (ver aqui), muitos países aí não estarão amanhã representados, contrariando a evidente prioridade que este combate requer no contexto crescentemente multicultural mundial, onde a dimensão desta problemática afecta demasiadas vertentes da convivência socio-política (leia-se a este propósito o texto publicado no Forum Palestina). Os exemplos pedagógicos que se requerem a nível internacional como instrumento de influência no que às políticas nacionais diz respeito, teimam assim em escapar ao assumir de responsabilidades nitidamente reforçadas com a globalização que todos foram consensuais em desenvolver, pensando - quiçá?- apenas, nas vantagens económico-financeiras que daí resultariam, sem prudência para prevenir crises do teor da que estamos hoje a viver... entretanto, por cá, mantém-se a intenção de promover Jaime Neves, a General, apesar do papel que desempenhou no 25 de Novembro, quando esteve em causa a continuidade do processo democrático iniciado em 25 de Abril de 1974 (vale a pena ler a excelente ironia com que, desta vez, João Tunes alude ao facto no Água Lisa)... para exemplos educativos numa sociedade democrática que pretende a promoção da cidadania e dos Direitos Humanos, não estaremos demasiado mal-servidos?

Eleições - entre o pragmatismo ideológico e a honestidade intelectual...


Quando, no final do século XX, se anunciou o "fim das ideologias" e o "fim da História", assistiu-se à emergência do pragmatismo como retórica de uma espécie de angustiada pós-modernidade, ansiosa por se libertar de um passado que sentia desadequado às respostas necessárias a que apelava o ritmo anunciado de uma mudança vertiginosa, visível na senda da globalização informativa e económico-política. Na altura, dizer que essa representação de um pragmatismo pós-moderno era, ela própria, efeito do confronto com a mudança e como tal, efémera e hiperbólica, seria atribuível a "velhos do Restelo"... convenhamos agora que, hoje, apesar dessa rejeição "a priori", a "moda" do dito pragmatismo resultou numa tal plasticidade de recurso à argumentação que, ao cidadão comum, eleitor, é cada vez mais difícil discernir entre o pensamento comunista, socialista, social-democrata ou democrata-cristão porque, no auge das campanhas feitas por oposição à governação em exercício, todos se socorrem dos mesmos considerandos... são disso exemplos claros, problemas políticos recentes registados em Portugal de que destaco, pela sua evidência, a discussão sobre o Estatuto dos Açores (sobre o qual aqui escrevi) e o discurso do Presidente da República aos Empresários Cristãos (que aqui comentei) em que, designadamente, responsáveis de partidos tais como o PCP, o BE, o PSD e o CDS assumiram as mesmas posturas, ignorando contextos e significados do teor de cada um dos assuntos referidos... registando-se que é no pragmatismo ideológico que este oportunismo eleitoralista encontra sustentabilidade, cabe agora à comunicação social e aos próprios partidos, em nome da honestidade intelectual e política, esclarecer, sistemática e inequivocamente, o teor dos seus projectos, programas e princípios... se é que os têm e se efectivamente querem merecer o voto consciente e sólido do eleitorado. De outro modo, será apenas a mediatização partidária a vencer, através de votos emocionais decorrentes da tradição, da mistificação ou do dogmatismo corporativo, em que o voto é o simples registo de um ritual que a sociedade da imagem impõe, justificando a abstenção e, consequentemente, o reforço do descrédito político.

Construir a Cidade...



"A Filosofia nasce do ócio" - diziam os gregos... os Gregos que pensaram o princípio de todas as coisas, o Ser, o Não-Ser, o movimento, a causalidade, a virtude (Areté), a sabedoria (Sophia), a razão (Logos),o conhecimento (Episteme)... e a Polis. Pensar a Cidade é hoje pensar a sua orgânica funcional para a tornar saudável e dignamente habitável para todos, permitindo a circulação e o bem-estar social aos cidadãos... e como o Homem povoa os espaços que habita de sonhos e memórias, dar visibilidade ao imaginário construído pelo tempo e o sentir dos que nela passam, é proporcionar a cada um, o integrar da História vivenciável no presente através da preservação do Património.

sábado, 18 de abril de 2009

O Projecto Social... entre a política e a religião!


O papel da Igreja no apoio ao assistencialismo social tem sido perspectivado, por várias governações, como uma mais-valia de um sector da sociedade portuguesa que se não avoca como político... contudo, num Estado de Direito democrático, laico e progressista, deixar a política social nacional vulnerável à sua reivindicação pelo poder religioso, é, no mínimo, grave. Há dias, quando a Igreja anunciou o lançamento de uma nova face do seu "projecto social", fiquei a pensar que a expressão representa, mais ou menos conscientemente, uma intencionalidade que transcende o acto assistencialista e humanitário e a interrogação colocou-se-me, subitamente irónica: será que a Igreja vai a votos nas próximas eleições?... Hoje, num dos jornais da tarde, ouvi excertos de intervenções de Cavaco Silva, Presidente da República e de Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, em iniciativa pública caracterizada pelos jornalistas como protagonizada por e para "Gestores Cristãos"!!!... e, numa sala cheia de pessoas, maioritariamente - se não, quase exclusivamente! - do sexo masculino, em que os dois intervenientes criticaram a falta de apoios sociais aos mais desfavorecidos e a necessidade de um compromisso ético nesse sentido, o Cardeal Patriarca de Lisboa, José Policarpo, afirmou que o lucro é legítimo se o seu fim fôr a defesa do bem-comum... o público era, repito, segundo a informação da cadeia televisiva em que me dei conta deste evento, constituído por "gestores cristãos"... num ano marcado por actos eleitorais sucessivos e num momento em que se discute a penalização do enriquecimento ilícito, estaremos perante o simples voluntarismo de expressões de solidariedade social? ... tratar-se-á de uma pura coincidência irrelevante?... ou, dado o perfil político dos interventores e o facto do Vaticano ter passado a emitir regularmente sinais claros de exercício de influências socio-políticas, estaremos face ao desenvolvimento de um "projecto social", protagonizado pela Igreja através de uma rede de aliados em áreas estratégicas como o são a economia e a política? ... afinal, nas eleições europeias está em causa muito mais do que se assume... lembremo-nos que, como há relativamente pouco tempo dizia numa grande entrevista televisiva o Professor Adriano Moreira, o Tratado de Lisboa foi objecto de discussão porque, no seu Preâmbulo, se tentou integrar a afirmação da Europa como comunidade cristã... pois!...

A crise social... e política!

A sociedade portuguesa atravessa uma crise social que, apesar da cerrada crítica transversal do leque partidário, não poderia ter sido evitada... efectivamente, uma certa inevitabilidade desta crise decorria já, há décadas, previsível, na análise decorrente do cruzamento de dados tais como os resultados da política económica (agravada significativamente após a elegibilidade do combate do défice como prioridade nacional) e os indicadores sociais retirados da leitura demográfica do país, do aumento do desemprego, da criação de emprego, da produtividade por sector económico, do consumo e das importações. Compreende-se, por isso, o carácter demagógico-oportunista dessas mesmas críticas que, afinal de contas, sem apresentarem alternativas sistémicas de reorganização socio-económica, se limitam a apontar falhas genéricas assentes em acusações eleitoralistas ou a sugerir medidas pontuais que, independentemente da sua pertinência (é o caso da proposta de condenação do enriquecimento ilícito apresentada pelo BE e aprovada, na generalidade, na AR nomeadamente com o apoio do PS), não indiciam qualquer grau de eficácia no que respeita à reforma estruturalmente integrada que é indispensável à reprogramação da política da economia nacional. Sem soluções económicas estruturais, o país continuará à deriva segundo o ritmo da reacção eleitoral dos cidadãos a quem não resta senão manifestar resistência e oposição às governações vigentes... continuada e alternadamente! ... Esta tem sido, afinal de contas, a característica generalizada dos resultados das eleições... contudo, partidos e políticos não revelam ter percebido com seriedade este fenómeno, insistindo na mesma lógica sofística de um tal modo que mais se assemelha ao desinteresse perante a causa pública do bem-comum, revertido na luta gratuita pelo exercício do poder.

Tango to Évora...



Uma interpretação feminina de "Tango to Évora" de Loreena McKennitt...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Leituras Cruzadas...

Hoje, 17 de Abril, vale a pena ler o que diz Rui Tavares no Sem Muros, reflectindo, exactamente no dia em que, em 1969, em Coimbra, os estudantes universitários deram voz à contestação (veja-se o post de Osvaldo Castro no Praça Stephens), o que ocorre no Ensino Superior... na verdade, compreender hoje o nosso país passa pela recuperação da memória e pelo não negligenciar de um passado que, constantemente interpelado, deixa à actualidade uma problematização incessante que, sem anular a inquietude, arrasta como virtude o não nos deixar adormecer (leia-se o comentário no Não-Ficção Portuguesa ao livro recentemente dado à estampa "Salazar, o Maçon")... Talvez assim se perceba melhor o estado da arte do momento que justifica a notícia de que faz eco Pedro Correia no Delito de Opinião, a emergência de raciocínios como o de Miguel Madeira no Vento Sueste ou o texto de Carlos Santos no Eleições 2009... mas, para nos viabilizar informação capaz de nos continuar a deixar pensar por nós próprios, talvez seja mesmo interessante visitar o PNET Política e o PNET Economia...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Recriar a Polis - uma ideia para Lisboa!


O aparecimento de um movimento cívico que apoia a organização de uma coligação de esquerda para se candidatar à CML é uma ideia interessante. Na verdade, fazem falta elementos, individuais e decorrentes de dinâmicas de grupos, capazes de refrescar ideias e projectos, de propôr novas soluções e de permitir a emergência da criatividade na gestão da Polis. Há, demasiado frequentemente, nos partidos políticos, a cristalização de clichés de governação que, enredados na complexidade dos interesses políticos que tenta evitar fricções sempre exploráveis pelas oposições, perdem a sua actualidade e deixam de motivar o eleitorado... quando os cidadãos precisam de se sentir mais próximos do exercício do poder é preciso responder-lhes de forma assertiva, criando mecanismos que viabilizem essa aproximação - o que nem sempre acontece em função de investimentos financeiros... Há soluções viáveis de aproximação da governação aos eleitores e formas eficazes de promover a participação cívica das pessoas... aguardam-se conteúdos para dar forma a esta ideia que, esperemos!, não seja liminarmente rejeitada por "miopias" partidárias... afinal, sabemos que tudo o que passa na cabeça dos homens, pode ser discutido com dignidade!... e, quando a sociedade emite sinais que prenunciam tempos difíceis (leiam-se a este propósito 3 textos que José Manuel Dias no Cogir e João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas publicaram ainda há pouco), são necessárias plataformas de entendimento... para se recriar a Cidade!

Poemas à altura dos tempos...



...como esta escolha dos R.E.M.: "Everybody Hurts"...

domingo, 12 de abril de 2009

O Tempo, parceiro da Vontade...


O Tempo, parceiro da Vontade, permanece nessa condição enquanto o pensarmos como espaço de acção... como espaço de adiamento, o Tempo será sempre apenas uma possibilidade, um projecto e uma desculpa que pode resultar em tempo perdido... mas, o tempo, o tal que tudo "cura", é o espaço onde o presente regista, como impressões digitais, o futuro... deambulando sobre o tema, a propósito de tudo quanto se prenuncia e se deseja, encontrei um texto belissimo, de Raimundo Narciso, publicado em 2004, no Memórias, onde se denota com claridade, o poder do tempo pelo registo de um passado explorado até em hipotéticos cenários passados simultaneamente consigo próprio, protagonista hoje, também, de um outro tempo onde, apesar de tudo, os cenários continuam complexos e nos mantêm... perplexos!... como justamente expõe João Abel de Freitas no PuxaPalavra!... Num ano eleitoral como é 2009, equacionar a mudança e problematizar a realidade é, indiscutivelmente, um desafio de que nos não devemos alhear... para que o tempo não reedite o passado e para que o presente se "desconstrua" nas suas bloqueantes conjunturas narcisistas e a sociedade nos permita uma aproximação, cada vez mais transparente, ao que todos desejamos, para todos!, em Democracia!

Dia dos 3 P's: Páscoa, Paz e Política...


Domingo de Páscoa. As confissões religiosas celebram, em cultos antropomorfizados, a renovação da Natureza que a Primavera simboliza... A persistência cultural deste arquétipo persiste até hoje na sociedade globalizada em que vivemos, dita do conhecimento e da informação, onde não foi, por determinação da nossa própria condição, ultrapassada a consciência de uma dialéctica da natureza e do pensamento de que resulta a consciência social que reconhece na dimensão simbólica do poder a essência da sua autoridade e exercício... contudo, o afastamento que a tecnologia, a mediatização, o consumismo e o quotidiano individual promovem relativamente ao grau de concentração que desenvolvemos sobre o que somos e o que gostariamos de ser, não permitem, no âmbito da reivindicação e da prática dos nossos direitos de cidadania, que a vivência colectiva do ritual e do simbólico coincida com a nossa prática. Devolver aos cidadãos o tempo para o desenvolvimento de si próprios é também um Direito Fundamental que integra a noção de uma existência digna e que, por isso mesmo, participa dos Direitos Humanos... no vocabulário socio-político esta dimensão da vida social é parte da Cultura e, ao que constatamos, a Cultura continua sem o reconhecimento ou sequer a valorização devida na agenda política do nosso tempo. Continuamos, em Abril, no limiar do Sonho... transposto o portal que nos separava da Democracia, ensaiamos os passos políticos, reproduzindo o que vemos fazer os outros, nossos vizinhos e parceiros na União Europeia mas, não arriscamos a Liberdade de colocar, acima de tudo, o interesse público que é, inequivocamente, o direito a uma vida melhor para todos! Reféns de sistemas em rede, burocratizados e digitalmente organizados, perdemos o controle da nossa própria gestão... E essa é, entre outras que a título de exemplo desenvolvi em dois post's publicados, um, aqui mesmo e outro no Forum Palestina, uma das realidades a que é preciso atender em tempo de elaboração e divulgação de programas políticos para que, na verdade, as eleições sejam expressão próxima dos anseios dos cidadãos e das populações, como escrevi no post publicado no blog do Público Eleições 2009. Com realismo, sem demagogia, é possível um mundo melhor!

sábado, 11 de abril de 2009

A razão da urgência...



... e ainda podem pensar que não é urgente uma mudança radical dos princípios e mecanismos com que se gerem as sociedades? ... "Troubles of the World" por Mahalia Jackson... porque... Humanidade somos Todos Nós!... mesmo quando já não suportamos fingir que não percebemos a realidade que manipula a verdade... com sangue, suor e lágrimas de seres com os mesmos Direitos de todos e cada um de Nós!

Leituras Cruzadas...

No contexto das anunciadas prioridades económicas de combate à crise, definidas no âmbito das recentes Cimeiras do G20 e da União Europeia, o combate aos off-shores e ao proteccionismo foram consensuais... no entanto, enquanto a circulação de capitais prossegue os seus circuitos, aproveitando a margem de manobra que o tempo lhe permitirá até que entre em vigor qualquer legislação nesse sentido, vamos tomando consciência dos bastidores das economias nacionais na rede internacional e da dimensão que este tipo de tomada de decisões significa (vejam-se, a título de exemplo, a referência ao caso português enunciada de forma sintética por José Manuel Dias no Cogir e as achegas reflectidas a outro propósito mas, ainda assim recorrentes, de Raimundo Narciso no PuxaPalavra e de Vital Moreira no Causa Nossa)... Talvez assim se perceba melhor a imperiosa necessidade de ir dando voz a sinais contrários aos estímulos de degradação da confiança pública que a realidade emite como os designados "sinais de esperança" que Barack Obama refere relativamente à economia norte-americana (leia-se o que diz Carlos Santos em O Valor das Ideias), nomeadamente quando o Governador de Nova-Iorque anuncia a redução de 7.000 postos de trabalho nas empresas municipais locais (ver o texto de José Manuel Dias no Cogir). Entretanto, no plano internacional, também as dinâmicas negociais continuam a persistir em caminhos que merecem reflexão sobre as novas formas diplomáticas que é preciso "levar para o terreno" sob pena de assitirmos à reprodução de novos episódios que retardarão o acesso às reformas que, reconhecidamente, todos constatamos mas, cuja resposta adequada está ainda longe de se concretizar (como se depreende da leitura de dois textos recentes de JMCorreia Pinto no Politeia)... para que se não "deite a perder" a possível capacidade de concretização das intenções expressas pelo discurso de Obama em Praga, a que Osvaldo Castro se refere no Praça Stephens num post enriquecido por um excelente texto de Daniel Cruzeiro.

Notas breves sobre a Crise... Política!

Apenas duas notas breves sobre a crise política: enquanto, na União Europeia, a incapacidade de responder assertivamente à crise com a necessária mudança, permite a Durão Barroso antever a sua continuidade como Presidente da Comissão Europeia (sobre o que me pronunciei no blog do Público, Eleições 2009), em Portugal, o apelo à participação na manifestação do 25 de Abril coincide com a intenção de promover Jaime Neves a General (leia-se a este propósito o texto de Raimundo Narciso no PuxaPalavra)...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Zéthoven - o caso de uma Democracia Feliz para as Crianças e as Populações...



Segundo o Maestro, Compositor, Músico e Professor Luís Cipriano, a Música é onde, efectivamente, se vive verdadeiramente a Democracia... porque nunca na leitura e interpretação de uma partitura, ao contrário do que acontece em qualquer debate político mesmo nos Parlamentos, se verifica a sobreposição de vozes, intervenções ou sonoridades... porque uma orquestra implica o respeito e a audição atenta de cada um, com a consciência de que esse é um princípio indispensável para a qualidade, o reconhecimento e a valorização individual e colectiva... O projecto "Escolinha do Zéthoven" é uma das mais fascinantes existências da vida cívica e cultural da sociedade portuguesa... Nascido na Covilhã (cuja autarquia se desligou do projecto quebrando um protocolo que levou à sua condenação judicial por duas vezes por litigância e má-fé) e alargado a toda a região, do Ministério da Educação o projecto recebe apenas 1% do seu orçamento, para o qual contribui com 2.000 euros o Instituto Português da Juventude, quantias irrisórias para um projecto extraordinário, multidimensional e comovente! Dirigido para o preenchimento das tarefas extra-curriculares utilizadas aqui sim de forma cativante, útil e pedagógica, funciona em escolas primárias da região e na Associação Cultural da Beira Interior onde, todos os sábados, crianças carenciadas vivem o sonho de uma realização artística que os redime do quotidiano com transporte, alimentação e meios gratuitos... O sonho de Luís Cipriano e das crianças da Beira Interior vive de apoios autárquicos e empresariais de que se destaca o da Câmara de Pinhel, exemplo de como um Homem pode mudar o sentir de uma população apenas e só porque o seu Presidente da Câmara investiu, de alma e coração, numa Academia de Música onde o Zéthoven cria e cresce reconhecido com prémios e concertos ganhos já um pouco por todo o mundo. Vale a pena ver a Grande Reportagem da SIC Notícias que não resisto a dar a conhecer! Parabéns e Votos de Longa Vida, Zéthoven!

O choque...



O sismo que atingiu, em Itália, a região de Abruzzo, destruindo a histórica cidade de L'Áquilla, a cerca de uma centena de kilómetros de Roma, veio tornar presente e premente a preocupação dos cidadãos com as suas exigências sociais e políticas... tão assustadora é esta realidade provocada pelos escassos 30 segundos de duração do terramoto, causadores de uma contabilidade imediata e avalassadora, que atingiu cerca de 300 vítimas mortais, mais de 25 mil desalojados e uma cidade em escombros, que dela se tem falado pouco! O facto confronta-nos com o paradigma do irrealismo e da desumanidade com que são geridas as sociedades, designadamente estas nossas sociedades ditas democráticas, desenvolvidas, promotoras dos Direitos Humanos e do conhecimento! Como se numa época de puro obscurantismo vivessemos, o tão próximo sismo de Itália (para já não falar de todos os sismos que assolam, de quando em quando, os mais variados locais do planeta - lembram-se do filme "A Vida Continua" de Abbas Kiarostami?) não tem merecido a discussão pública, política, cívica e científica a que nos obrigaria uma forma de cidadania consciente e séria. Incontornáveis, as localizações planetárias sobre placas tectónicas e o risco sísmico, deveriam ser alvo de incansáveis pesquisas se, efectivamente, fosse a vida e a protecção das pessoas, a principal prioridade política. Não é! Instalada a discussão sobre a capacidade de previsão sísmica que um investigador, com provas dadas quando a 29 de Março anunciou o risco próximo de forte actividade sísmica na região que, desde 2ªfeira, oito dias depois da sua previsão, já tremeu 400 vezes, pode continuar mas, não é minimamente aceitável que seja ignorada a possibilidade da capacidade tecnológica da ciência poder já registar um fenómeno que dificilmente podemos acreditar que se não faça anunciar na movimentação das placas tectónicas. Contudo, surgem apenas estudiosos subscrevendo a sua impossibilidade e os políticos limitam-se a lamentar as vítimas. Onde estão os debates cívicos, científicos e políticos sobre o fenómeno, a discussão efectiva dos meios e do conhecimento da Protecção Civil, o estudo escolar dos riscos e a consciência esclarecida das populações ou as medidas efectivas nos planos da assistência civil e hospitalar? Onde está a articulação legislativa, de meios, métodos e procedimentos cooperativos europeus? Nada!... nada à vista! Afinal, a filosofia racional, democrática e científica dos nossos dias parece confinada ao conformismo de fatalidades com a força do Destino, mítica figura de tempos quase míticos... e os cidadãos, confinados ao silêncio e ao desamparo da inconsciência pública, gerem as suas interrogações como medos irracionais ao invés de exigirem uma sociedade que altere, definitiva e radicalmente, as suas prioridades, tentando ignorar o problema sem dele falar como se a não verbalização evitasse a realidade! Entretanto, a estéril discussão política continua à volta da domesticidade medieval da injúria e da má-língua, da demagogia e do mediatismo alienante.

Bailado...



Dançado, sob a forma de Bailado, o "Adagio" de Albinoni é expressão literária de um sentir não verbalizado... ou, dito de outra forma, uma forma não-verbal de Poesia!

Fusão...



Deixo as palavras arrumadas na gaveta semi-aberta da consciência sobre a política em que hoje não me apetece desgastar... porque, entretanto, sinto assaltado o olhar com imagens de L'Áquilla em escombros e o pensar suspenso sobre a sistemática mesquinhez de um poder que investe em Presidentes da Comissão Europeia incipientes e acríticos, capazes da crueldade do Iraque... talvez, também por isso, sinto a noite como espaço de não-pensar... e descanso... descanso na música com que se faz dentro o que é de fora e se experimenta a invísivel fusão da essência do tempo com a paz, com que podemos ver o que é de fora como se fosse de dentro... foi assim, penso!, que Joaquín Rodrigo criou o "Concerto de Aranjuez"... e Paco de Lucia o tocou!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Som da Alma...



"Adagio" de Albinoni... pela Orquestra Filarmónica de Berlim, conduzida por Herbert von Karajan... quando o som único da alma agradecida dispensa todas as imagens e as palavras com que sempre perseguimos, em eterno anseio, o dizer o indizível...

domingo, 5 de abril de 2009

Obama em Praga - compromisso e causa...



Obama deu voz a mais uma das batalhas cruciais do nosso tempo... sobre o Vltava, em Hradcany Praha, Obama voltou a fazer-se ouvir, de novo nas ruas da velha Europa, com o apoio dos cidadãos livres de todo o mundo, simbolizados nos que presenciaram e aplaudiram hoje o seu discurso sobre o compromisso que é necessário abraçar, pela sobrevivência do planeta e pela segurança das pessoas: o desarmamento nuclear. Independentemente do ruído, do espectáculo e dos resultados das Cimeiras, na mais bela cidade europeia, onde um povo tranquilo e consciente se vê a braços com uma governação de direita, um passado histórico de dependências e invasões estrangeiras, a ânsia contemporânea da partilha de uma coexistência pacífica e democrática e o receio da perda da soberania do país que amam, Obama foi, estou certa!, escutado com o coração por um povo que gostaria de ter um Homem como ele à frente do projecto de futuro que não sabe exactamente como construir. Estive em Praga, há cerca de 6 meses... apaixonada pela cidade e pela vivência cívica de um povo que enfrenta os dias sem desistir, deixando que se respire, nas suas praças, esplanadas e igrejas, a serenidade da música e dos dias, emocionaram-me as imagens da imensa praça do castelo, apinhada de pessoas atentas e despertas para ouvir e aplaudir Obama... um político que, antes de erguer publicamente ao nível mundial a bandeira desta causa que é a luta contra o armamento nuclear, recebeu Gorbatchov na Casa Branca, numa demonstração sem paralelo de seriedade, humildade, dignidade e nobreza de carácter... Lutar contra o armamento nuclear é hoje um dever que deverá integrar a luta pelos Direitos Humanos!

"Pode ser a Gota de Água..."

Por vezes, a "gota de água" faz transbordar... e os efeitos desse excesso terão sempre uma dimensão proporcional ao volume do recipiente... Ora, quando chove, não podemos, com toda a certeza evitar todas as gotas de água, principalmente se caminhamos numa estrada de piso incerto onde os tectos protectores que se vislumbram da estrada, ameaçam ruir... e, face à crise que atravessamos, deveremos perguntar-nos: será que a Europa não está a "meter água" na forma como equaciona a sobrevivência à crise?... Acabei publicar no Eleições 2009, o texto "Uma Ideia de Europa - 3" que aqui transcrevo:

As chamadas "crises de crescimento" da UE têm evoluído ciclicamente, numa lógica acumulativa que, de Tratado em Tratado, se tem preocupado em garantir os pressupostos do mercado, optando por algumas reformas institucionais mas, principalmente, pela política de alargamento do número dos seus Estados-membros. Por resolver, ficaram duas questões essenciais a que, necessariamente, regressaremos por força das circunstâncias, provavelmente bem mais depressa do que seria suposto mas, desta vez, com uma capacidade de intervenção muitissimo menor, perdida que foi a oportunidade de se pensar e decidir atempadamente, de forma preventiva... nessa altura, seremos confrontados com a urgência da resolução dos problemas que apenas nos serão colocados depois de equacionadas as forças de resistência e garantidos os apoios no quadro desta discreta mas insofismável política "do facto consumado". Refiro-me a três problemas, problemáticas a que todos procuram escapar, evitando conflitos potencialmente lesivos do princípio equitativo da proporcionalidade, cuja preservação tem sido o argumento capaz de vencer muitas resistências nacionais mas, que não representam mais do que um adiamento levado o mais possível à proximidade de um "ponto de não-retorno", utilizado estrategicamente como forma de controle de custos do seu impacto: a) a "Europa a Duas Velocidades"; b) a "Europa das Regiões"; c) a "Europa da Flexisegurança"... é caso para dizer: procuram-se políticos realistas e corajosos para pensar e agir sobre a questão europeia... ou então, das duas, uma: conformamos com o "destino" previsto nos bastidores na amálgama dos conformistas e submissos ou "rezamos" para que surja um super-herói, inspirado no lendário "Robin dos Bosques"... "Ser ou Não Ser, eis a questão" - dizia Shakespeare...

"Apartheid" Europeu...

Em Itália, um autarca criou autocarros para uso exclusivo de imigrantes em situação ilegal ou em vias de legalização... acusado de Racismo, o autarca não retrocedeu na aplicação da sua concepção de política social, demonstrando que, ao contrário do que poderiamos pensar, o "apartheid" não se finou com a política sul-africana que Nelson Mandela combateu, conseguindo devolver às populações a dignidade humana a que todos temos direito... Esta "ressureição" do institucionalizar de mecanismos inequivocamente discriminatórios, denota que o recurso à utilização do apartheid como forma de organização social continua disponível enquanto houver governantes cuja ideologia atenta contra os mais elementares Direitos Humanos. Entretanto, até há bem pouco tempo, a República Checa que agora detém a Presidência da UE, como estratégia de expulsão da etnia cigana do seu território, incentivava a saída desta população do seu país, oferecendo-lhe bilhetes de avião para qualquer destino que escolhessem... desde que não voltassem! Serão, política e civicamente, admissíveis estas políticas no contexto de uma União Europeia que proclama a valorização da diversidade e se caracteriza por um multiculturalismo cujo reconhecimento é indispensável à coexistência pacífica? É esta Europa aquela a que queremos pertencer?... numa tentativa de encontrar fundamentos para a resposta negativa a esta questão, publiquei no blog Eleições 2009, primeiro, o texto Uma ideia de Europa e, depois, Uma Ideia de Europa - 2... provavelmente, publicarei ainda, Uma ideia de Europa - 3 e Uma ideia de Europa - 4... Apartheid Europeu? Não, Obrigado!

sábado, 4 de abril de 2009

Ditadura e Livre-Pensamento...



"Les Anarchistes", uma homenagem de Leo Ferré... para ouvir antes e depois de se ler no Água Lisa o conteúdo do post de João Tunes.

Ética da Cidadania - Educação e Multiculturalidade


Proferi ontem, no III Congresso Internacional de Psicologia da Educação que decorreu, durante dois dias, na Universidade Lusófona, organizado pelo Professor Doutor Carlos Simões da Faculdade de Psicologia cuja direcção está a cargo do Professor Doutor Carlos Poiares, uma conferência intitulada: "Cidadania, Ética e Multiculturalidade face à dimensão socio-cognitiva da Psicologia da Educação". O tema, vasto e actual, proporcionou-me a dissertação, dirigida a psicólogos, professores e a alunos da licenciatura nesta área, sobre a Complexidade, enquanto paradigma das Ciências Sociais contemporâneas, numa perspectiva de interacção entre os múltiplos e simultâneos planos da vivência interior e exterior dos indivíduos, das culturas de origem (de raiz étnica, familiar e cultural) à intervenção e participação activa cívica e profissional. A percepção da complexidade da mudança como área de intervenção da Psicologia da Educação cria naturalmente inquietude, como o referiram alguns dos participantes durante e após o debate, tal é a dimensão do trabalho a desenvolver numa sociedade que se pretende democrática em tempos de re-emergência da xenofobia e da insegurança... mas, se o tamanho da tarefa nos inquieta, não pode, mesmo assim ou apesar disso, diminuir o nosso investimento na sua realização... por isso, "mãos à obra"!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Do Dia Internacional da Literatura Infantil...



Celebrou-se ontem, 2 de Abril, o Dia Internacional da Literatura Infantil... instrumento precioso para a construção sociocognitiva das crianças, os livros infantis são também veículos de uma ética construtora de uma cidadania multicultural indispensável para uma saudável integração na sociedade contemporânea e para o reforço da coexistência pacífica!... Podem ler-se, escrever-se e contar-se... e desses modos de aceder à transversalidade etária e cultural, em permanente abertura pela interpretação que permitem e pela diversidade da sua apresentação, poderiamos encontrar na literatura infantil um sólido catalizador dessa formação que, famílias e escolas, sabem necessária... porém, do Dia Internacional da Literatura Infantil pouco eco tivemos na política e na comunicação social... é pena! Leram a história "O Principe Feliz" de Oscar Wilde?... os contos de Andersen ou de Grimm? Vale a pena reler... se o fizermos, descobrimos a razão pela qual vale a pena oferecê-los e ensiná-los a todas as crianças do mundo... talvez depois da sua redescoberta sejamos capazes de explorar o mundo editorial e aceder aos contos de todas as culturas onde, sempre, as nossas crianças encontrarão sentido e significado!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Leituras Cruzadas...

A Cimeira do G20 é, naturalmente, o ponto da ordem do dia a que todos estaremos atentos, apesar de serem relativamente previsíveis os seus resultados, como muito bem enuncia JM Correia Pinto no Politeia... e como estamos em tempos de revisitação da orgânica da Europa vale a pena consultar a informação disponibilizada por F.Seixas da Costa no Duas ou Três Coisas e ter em conta uma leitura até agora negligenciada mas, realmente importante, de uma vertente da UE que Carlos Santos desenvolve em O Valor das Ideias. Apesar de muitos outros assuntos ocuparem a agenda da comunicação social, a economia nacional continua a ser o mais grave problema com que os portugueses se defrontam; por isso, vale a pena ler o que destaca José Manuel Dias no Cogir. Muitos outros merecem ser lidos mas, porque hoje a Economia foi tema deste Leituras Cruzadas, é ainda de registar a chamada de atenção para a globalização económica em contexto de crise que João Rodrigues refere no Ladrão de Bicicletas. Finalmente, para nos para fazer sorrir, nada melhor do que visitar o que publicou João Tunes no Água Lisa.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Declaração...



Barack Obama e Lula da Silva irão participar no G20... imagino-lhes o coração e os sonhos perante o cenário!... talvez dentro de si ainda possam repetir o que Georges Moustaki escreveu e disse na sua "Déclaration"... e as suas vozes levem à Cimeira das 20 economias mais fortes, as palavras certeiras de quem sabe o que aí significa a sua presença, quem representam e o que deles ainda se espera...

Tema de fundo para o G20...



Foi ao pensar na Cimeira do G20, depois de ouvir as reivindicações de Sarkozy e as declarações do Presidente da Comissão Europeia, que me ocorreu a actualidade de: "Les Bourgeois" de Jacques Brel...