sexta-feira, 10 de abril de 2009

O choque...



O sismo que atingiu, em Itália, a região de Abruzzo, destruindo a histórica cidade de L'Áquilla, a cerca de uma centena de kilómetros de Roma, veio tornar presente e premente a preocupação dos cidadãos com as suas exigências sociais e políticas... tão assustadora é esta realidade provocada pelos escassos 30 segundos de duração do terramoto, causadores de uma contabilidade imediata e avalassadora, que atingiu cerca de 300 vítimas mortais, mais de 25 mil desalojados e uma cidade em escombros, que dela se tem falado pouco! O facto confronta-nos com o paradigma do irrealismo e da desumanidade com que são geridas as sociedades, designadamente estas nossas sociedades ditas democráticas, desenvolvidas, promotoras dos Direitos Humanos e do conhecimento! Como se numa época de puro obscurantismo vivessemos, o tão próximo sismo de Itália (para já não falar de todos os sismos que assolam, de quando em quando, os mais variados locais do planeta - lembram-se do filme "A Vida Continua" de Abbas Kiarostami?) não tem merecido a discussão pública, política, cívica e científica a que nos obrigaria uma forma de cidadania consciente e séria. Incontornáveis, as localizações planetárias sobre placas tectónicas e o risco sísmico, deveriam ser alvo de incansáveis pesquisas se, efectivamente, fosse a vida e a protecção das pessoas, a principal prioridade política. Não é! Instalada a discussão sobre a capacidade de previsão sísmica que um investigador, com provas dadas quando a 29 de Março anunciou o risco próximo de forte actividade sísmica na região que, desde 2ªfeira, oito dias depois da sua previsão, já tremeu 400 vezes, pode continuar mas, não é minimamente aceitável que seja ignorada a possibilidade da capacidade tecnológica da ciência poder já registar um fenómeno que dificilmente podemos acreditar que se não faça anunciar na movimentação das placas tectónicas. Contudo, surgem apenas estudiosos subscrevendo a sua impossibilidade e os políticos limitam-se a lamentar as vítimas. Onde estão os debates cívicos, científicos e políticos sobre o fenómeno, a discussão efectiva dos meios e do conhecimento da Protecção Civil, o estudo escolar dos riscos e a consciência esclarecida das populações ou as medidas efectivas nos planos da assistência civil e hospitalar? Onde está a articulação legislativa, de meios, métodos e procedimentos cooperativos europeus? Nada!... nada à vista! Afinal, a filosofia racional, democrática e científica dos nossos dias parece confinada ao conformismo de fatalidades com a força do Destino, mítica figura de tempos quase míticos... e os cidadãos, confinados ao silêncio e ao desamparo da inconsciência pública, gerem as suas interrogações como medos irracionais ao invés de exigirem uma sociedade que altere, definitiva e radicalmente, as suas prioridades, tentando ignorar o problema sem dele falar como se a não verbalização evitasse a realidade! Entretanto, a estéril discussão política continua à volta da domesticidade medieval da injúria e da má-língua, da demagogia e do mediatismo alienante.

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