quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Banda e a Banda Larga da Esquerda...



Acabei de escrever o texto "A Banda Larga da Esquerda" que pode ser lido AQUI.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Leituras cruzadas...

A ética política que caracteriza o panorama público português tem o seu melhor exercício no caso que Valupi tão bem intitulou com a criatividade habitual: "Louçã tem Dias" e que se pode ler no Aspirina B... concorre para dificultar o caminho à esperança da lucidez, a notícia que deu origem ao bem humorado "Ternura é (9)" de Carlos Barbosa de Oliveira no Delito de Opinião e, na senda da actualização dos absurdos, extensível às mais distintas realidades, vale a pena ler os textos de Cipriano Justo no Eleições 2009 e de Fernando Cardoso no Ayyapa Express. Face a esta breve mas sintomática, coexistente e sucessiva corrente factual, vale, também por isso, a pena, reconhecer um mínimo de decência na forma como está a ser conduzido o processo de que dá nota João Abel de Freitas no Puxa Palavra... e lavar a alma na melhor prosa portuguesa de que João Tunes dá exemplo no Caminhos da Memória.

"O Vazio é a Forma, A Forma é o Vazio"

A História - coexistência e sucessão de estórias...



Um alerta... retratos, testemunhos, ideias, imagens e práticas... para construir o reconhecimento da realidade e perceber os valores a que a História nos conduz...

A Nitidez...



"O meu olhar..." de Alberto Caeiro...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Entre a precipitação e a irritabilidade...



Entre a precipitação e a irritabilidade, ficam excessos e inutilidades... lamentáveis! ... de que são exemplo, entre tantos outros, a afirmação gratuita feita em Chão da Lagoa por Alberto João Jardim que resolveu agora dizer que "é preciso lutar contra o fascismo",reiterando a falta de discernimento habitual em que o recurso à palavra se resume a uma pobre estratégia de manipulação populista... ou a argumentação excessiva e demagógica da mais recente polémica mediática alimentada pelo líder do BE, Franciso Louçã, sobre a qual escrevi um texto que pode ser lido AQUI.

domingo, 26 de julho de 2009

Democracia Representativa - Programas e Candidatos - um olhar entre a Renovação e os Sindicatos de Voto




A apresentação dos programas partidários assume, por estes dias, particular destaque, uma vez que o seu teor representa o enunciar das políticas que podemos esperar ver defendidas e executadas pelos seus protagonistas... minimalista, o programa do PSD resume-se a um documento que contorna uma exposição clara e necessária de princípios, regras e medidas, substituindo-o por uma espécie de sumário, breve e vago, de afirmações cujo objectivo é, apenas, evidenciar a oposição ao PS... por esta razão, torna-se quase incontornável a questão da "agenda escondida" a que já me referi em textos publicados nos blogues Eleições 2009 do Público e PNET Política (para os quais fiz, aqui mesmo, ligação) e que JMCorreia Pinto colocou no Politeia de forma clara, chamando a atenção para a vertente presidencial do problema que, apesar de pouco discutida é, de facto, no contexto político actual, muito pertinente. Nos dias que correm, em plena crise social e económica, é confrangedor verificar que um dos partidos a quem o eleitorado confere geralmente resultados significativos, recorre à técnica das alusões e do não-compromisso, para ocultar o sentido e o significado económico-social e político das medidas que pensa vir a adoptar, adiando o momento da sua revelação para efeitos de manipulação de uma opinião pública que, como sempre acontece em tempos de crise, procura a acusação fácil contra a governação actual, refugiando-se na apologia linear e gratuita da oposição; por outro lado, é lamentável que, esse mesmo partido, numa opção demagógica e sectária na escolha de candidatos que, por exemplo, exclua ostensivamente algumas das suas mais-valias, denotando afinal a presumida homogeneidade de opinião que a sua líder tão bem representa... Entretanto, no que ao Partido Socialista se refere e apesar das Bases Programáticas do seu Programa investirem na promoção de indispensáveis Políticas Sociais que marcam, transversalmente, as restantes áreas da governação e sem as quais o eleitorado se não reconheceria como objecto da sua proposta política, é notória a ausência de um debate assumido sobre algumas das mais polémicas questões da legislatura que agora termina e que devem ser repensadas, nomeadamente para efeitos de agremiação da esquerda no sentido de ser alcançada uma vitória eleitoral em Setembro... entre elas, o Código do Trabalho. Contudo, a despeito do calendário em curso, incontornável e urgente como temática a integrar a agenda setting da discussão política, encontra-se um tema suspenso que é, incontornavelmente, a análise de uma das mais sérias questões da democracia representativa, a saber: o processo de constituição de listas à AR, orgão maior da Democracia. Que critérios, que estratégia e que objectivos definem a selecção e organização partidária das listas de candidatos a deputados?... o problema é particularmente importante porque estes candidatos, mais do que simples cidadãos da confiança dos aparelhos partidários, locais, regionais ou nacionais, deverão ser representantes dos interesses cívicos dos cidadãos com competências para o efeito, condição de que depende o grau de confiança e credibilidade do eleitorado... por isso, não se percebe que, no quadro da democracia representativa, a não ser por motivos de manipulação através do uso da imagem e em detrimento da substancialidade política, um partido que pretende vencer eleições, negligencie redutoramente a visibilidade de políticos reconhecidos pela qualidade do trabalho desenvolvido, de craveira e obra feita, reconhecidos pela Esquerda e não só, como pessoas sérias, empenhadas e eficazes na defesa de matérias como os Direitos, Liberdades e Garantias (é o caso do Presidente da 1ª Comissão Parlamentar, Osvaldo Castro) ou a Comunicação Social (é o caso de Arons de Carvalho)... a questão que devemos colocar e que importa perceber é se, sob a aparência de um projecto de renovação os partidos continuam -ou não? - simplesmente, a cumprir os preceitos da constituição dos "sindicatos de voto" garantidos a priori nas federações, para efeitos de cristalização do exercício do poder, reproduzindo a velha estratégia de trazer para o palco nacional, pessoas que nem as populações que, presumivelmente devem representar, reconhecem como adequadas à defesa dos seus interesses e necessidades?!... O problema é, efectivamente, um problema sério que desemboca no reconhecimento cívico do papel da democracia representativa. Todos o sabem mas, poucos o querem discutir e enfrentar... e quando surgem as oportunidades para proceder em conformidade com esta consciência, é lamentável perceber que a pretensa renovação repete os erros do passado, ficando os cidadãos sem perceber as razões que levam a que um partido com as responsabilidades e as ambições políticas do Partido Socialista, insista nesta lógica empobrecedora da transparência, da meritocracia e da seriedade democrática!...

sábado, 25 de julho de 2009

Fartos!... mesmo muito, muito fartos!


"No Irão morreram mais de 20 pessoas em protesto contra os resultados eleitorais e exigindo mais democracia. As liberdades fundamentais foram suspensas. Nas Honduras, militares golpistas extraditaram o presidente democraticamente eleito. Os protestos já geraram duas vítimas mortais. As liberdades fundamentais foram suspensas. Na China, 140 pessoas morreram em protestos contra a suposta hegemonia de uma etnia. 1400 pessoas foram presas e as liberdades fundamentais foram suspensas.

Estamos fartos disto! Estamos fartos de repressões e ditadurices. Estamos fartos de desrespeitos claros aos mais básicos direitos fundamentais. Estamos fartos de ver a liberdade ser suspensa. Estamos fartos de ver a democracia ser adiada em tantos países. Estamos fartos da paz ser constantemente hipotecada. Não pode ser! Estamos fartos e, dentro das possibilidades de cada um, vamos fazer barulho por isso! Temos dito!
"

Este texto é um contributo para a iniciativa da ATTAC Portugal: www.fartos.net a que já aderiram, na sequência do repto lançado, muitos e interessantes blogues. De acordo com a sugestão feita sob a forma de corrente, a qual integro na sequência do desafio de Carlos Santos em O Valor das Ideias, também eu lanço o repto, nos termos em que esta manifestação de solidariedade está organizada, a 12 blogues amigos, procurando não repetir aqueles que já foram indicados por anteriores adeptos desta causa:

Água Lisa
PuxaPalavra
Praça Stephens
Sustentabilidade é Acção
O País do Burro
Ali-Se
Forum Palestina
Irrealidade Prodigiosa
Tocando sem Tocar
Vermelho Côr de Alface
A Estrada da Miss
Abluente

sexta-feira, 24 de julho de 2009

SimpleX...

Fiz hoje a minha estreia no SimpleX... das razões que assistem a esta colaboração, redigi o breve testemunho que podem ler AQUI.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nota Prévia a eventuais Projectos de Revisão Constitucional...

"O Caso Mental Português" é uma espécie de manifesto sociológico da autoria de Fernando Pessoa cuja pertinência e actualidade justificam a sua evocação em contextos diversos... desta vez, a propósito da polémica suscitada pelas mais recentes declarações públicas de Alberto João Jardim. evoco-o num texto que se pode ler AQUI.

domingo, 19 de julho de 2009

Mistérios...



Na sua heteronímia, Fernando Pessoa escreveu:"(...) O único mistério das coisas é elas não terem mistério nenhum (...)"... foi, segundo penso, exactamente por isso, que os homens criaram a poesia e a ficção... para pintarem com sonhos, lendas e fantasias a beleza simples da realidade quando, crianças de olhos cansados, a não conseguem já, só por si, reconhecer.


Observação: este post é um contributo para a celebração do dia 20 de Julho, data em que, há 40 anos, os Homens desceram em pleno solo lunar!

sábado, 18 de julho de 2009

A Democracia Ameaçada...

Acabei de publicar no blog do Público, um texto sobre a nuvem de ameaças políticas que, neste momento, ensombra com gravidade o regime democrático... o texto pode ler-se AQUI.

Alegoria Contemporânea...



... numa espécie de galeria apocaliptica... com "Apocalypticodramatic" dos Tryo... no albúm "Ce que l'on séme"...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A Corrupção...



Quando se fala da corrupção em Portugal, alegam-se procedimentos, apontam-se factos e critica-se a impunidade do crime seja o do tráfico de influências ou uma qualquer das suas formas mais activas... depois... depois, estranha-se esta mesma impunidade, esta negligência, os "brandos costumes", a cumplicidade, a aceitação tácita, a tolerância e a desculpabilização que assenta, quase sempre, na falta de provas... raramente se evoca o fundamento cultural desta interiorização do que a sociedade global contemporânea caracteriza como corrupção - e que a Lei reconhece como tal - mas que, no contexto da sociedade tradicional e rural de há 40/50 anos cujas raízes se prolongam até aos nossos dias, correspondiam a simples modos funcionais de exercer o controle da organização societária não perspectivados como tal mas, pelo contrário, como a ordem "natural" (leia-se: habitual) das coisas... O interconhecimento, as relações de parentesco constituídas em redes alargadas de consanguíneos, parentes por afinidade ou por simples motivações correlativas à vizinhança e à territorialidade marcavam a lógica de recrutamento e selecção dos actores, designadamente, na área da política... e é aqui que reside a dificuldade de levar à prática, de forma efectiva, "no terreno", o combate à corrupção... porque num país pequeno como é o nosso, onde os principais detentores de riqueza trazem como fundamentos da memória a realidade transviada e demagógica da sua vivência socio-familiar e onde o acesso ao poder se mantém próximo do exercício do poder económico, factores como o interconhecimento, o parentesco e a vizinhança (lato sensu) determinam ainda o modelo pelo qual se rege o "corpo" dos agentes activos nos desempenhos públicos e privados... são filhos dos filhos e netos, sobrinhos, primos e outros colaterais quem, de facto, domina o desempenho dos cargos públicos... por presumível transmissão de carácter? por eventuais e demagógicas lealdades?... a que preço?... ao preço do constante adiar da construção e institucionalizão dos procedimentos técnicos que visam a sua imparcial e equitativa homogeneidade, no quadro de uma efectiva igualdade de oportunidades... em Portugal, como em muitos outros países, de forma mais ou menos flagrante, rejeita-se o esforço de aplicação de metodologias e princípios de trabalho ao serviço de uma cada vez mais indispensável meritocracia, na medida em que essa opção feriria sempre - ou pelo menos numa probabilidade muito elevada - as redes sociais da sociedade rural e do interconhecimento, em que a corrupção se gere como uma espécie de reciprocidade cuja avaliação fica afinal, exclusivamente dependente de si própria ou dos protagonistas que a eternizam... ... é isto que me ocorre dizer: enquanto a cobardia deixar reféns os dirigentes nacionais da sua rede de favores, não será fácil vencer a luta contra a corrupção... até porque, perante os valores tradicionais, esta não é reconhecida como tal... a questão é, de facto, mental e de natureza cultural, razão pela qual só assitiremos à sua ultrapassagem quando interiorizarmos os valores que deveriam estar presentes no senso-comum, muitos dos quais, apesar de consignados na Lei, não participam ainda das nossas práticas, afastadas, de facto, dessa construção social da esperança que, de há muito, andamos, sem sucesso, a tentar aferir...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Da Extrema-Direita à Negligência dos Brandos Costumes!


Ao contrário do que os comentadores têm vindo a dizer, mesmo os que se pretendem políticos, politólogos ou intelectuais, não considero que as palavras sejam negligenciáveis, particularmente quando são a expressão incontida e evidente da autenticidade do pensar... refiro-me às declarações de Alberto João Jardim que denotam o seu apelo a um Golpe de Estado através da concretização de uma revisão constitucional que, de há muito, advoga e que, a todo o momento evoca... haverá de facto uma agenda escondida do PSD para o caso de alcançar a governação?... espero que os cidadãos tenham o discernimento de intuir e compreender o problema, deixando de escamotear a realidade com demagogias gratuitas... de facto, considero que se trata de uma revelação extraordinariamente grave pelo dito e o não-dito que nela se arrasta! Não, não se trata de alarmismo... na Itália chegou ao poder, por mais de uma vez eleito um homem que os mais tranparentes valores democráticos excluiriam sempre da representação pública de um povo, no Parlamento Europeu presidido por um polaco estão hoje sentados 35 eurodeputados de extrema-direita e, em Portugal, a dar sinal de uma vitalidade clandestina, soa de novo a voz terrível de Alberto João Jardim que não é, podem estar certos!, um ingénuo ou um brincalhão gratuito... aliás, estou, neste momento, a ouvir na SICNotícias, Pacheco Pereira dizer que a afirmação de Jardim "não é estapafúrdia" porque a ideia está a ser discutida "nas instituições europeias" e Lobo Xavier a dizer que concorda com Alberto João Jardim porque "não há condições para retirar a condenação das organizações fascistas da constituição... e chamo a atenção para a desigualdade constitucional que isso representa... em relação às ideologias comunistas"... ainda pensam que eles andam a brincar?!

Timor - um caso de ambivalências estratégicas...


O recente anúncio público sobre as tensas relações dos militares portugueses da GNR com o poder, os grupos políticos e a população em Timor-Lorosae, justifica a abordagem da ambivalência relacional do poder político timorense com os seus aliados, nomeadamente com os que estão "no terreno"... a situação geo-estratégia de Timor não pode, de facto, resistir à influência dos contextos relacionais de vizinhança tal como nenhum país pode escapar à influência regional - excepção a esta realidade é o caso de Israel e todos sabemos a que preço... um preço duplo que passa pela violentissima e continuada agressão do povo palestiniano e, por outro lado, pela dependência de um proteccionismo externo de que os EUA têm sido os principais protagonistas em troca de serviços menos transparentes que a História se encarregará de divulgar!... mas, regressando à questão timorense, registe-se a força das circunstâncias e a correlação de forças que, no plano interno podem, neste contexto, explicar (sem que esta explicação justifique a tolerância, o silêncio e o relativizar das ocorrências) a forma de tratamento de que, neste momento, são objecto os soldados portugueses que aí se encontram em "missão de paz". A negociação de apoio político internacional para a independência de Timor-Leste encontrou em Portugal o espaço ideal, sob alegações de uma partilha afectiva de um passado histórico (que branqueou completamente a relação colonial entre os dois países e os dois povos - como se fosse possível "apagar" a História) e, fundamentalmente, pelo apelo ao uso de uma língua comum (que hoje é evidente não ter, de modo algum, expressão potencialmente dominante) e à prática de uma religião comum... A verdade é que o factor determinante do apoio português massivo à causa timorense foi, indiscutivelmente, a Igreja Católica... e, mais uma vez, como repetidamente ao longo da História, este apoio assentou nessa auto-representação da Igreja que persiste em investir na "expansão da fé", sonhando o evangelizar da Ásia, particularmente, da Ásia islâmica de que a Indonésia é exemplo maior... para além do projecto megalómano que reproduz os estereótipos dos fundamentalismos, enquanto projectos culturais hegemónicos, a Igreja arrastou os portugueses nesse "espírito de missão" de que o "cantar" de um "passado glorioso" é responsável, no mais profundo inconsciente da sociedade portuguesa, ao qual o próprio poder político nacional não resistiu num ímpeto de filantrópica boa-vontade que, de um eventual imaginário relativo ao retirar de dividendos do potencial de recursos naturais timorenses, rapidamente desistiu, percebendo que os custos e a própria disponibilidade timorense para esse efeito não estava na agenda dos líderes, nem no campo das possibilidades económico-fianceiras viáveis para ambas as partes. Conseguir a independência foi a única forma de Timor-Leste garantir o reconhecimento da sua autonomia e identidade cultural mas, o isolamento regional nunca esteve nos horizontes políticos dos seus dirigentes... a independência de Timor-Leste grangeou um respeito institucional internacional a este território, decisivo para a contenção invasora da Indonésia... imaginar que a sua estratégia de afirmação nacional implicava ou se confinaria ao deslumbramento pela protecção portuguesa, é um sintomático sinal do que poderemos designar por "ingenuidade política" que, na sequência desta definição, continuou a investir no envio de "missões de paz" para um território que, neste momento, não precisa de continuar a alardear a sua ligação católica e afectiva a Portugal, por ter adquirido já, no plano internacional, um estatuto que lhe pode garantir apoios bem mais "interessantes" como é o caso não só da ONU mas, acima de tudo, dos EUA e da Austrália... A luta de Timor-Leste pela consolidação da sua política nacional é um processo complexo de que, além de tudo o que aqui se enuncia, se não pode alhear o seu próprio passado identitário societário e cultural de que Ruy Belo deixou, na passada década de 50 do século XX, um excelente e belo testemunho sobre os rituais de morte, a arquitectura tradicional ou a organização social tribal...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Da Memória - memórias e patrimónios...

O blogue "Não Apaguem a Memória" foi hoje suspenso, mantendo-se para efeitos de consulta dos textos e documentos publicados... felizmente, a título de objectivos, a intenção deste Movimento Cívico vai continuar presente na blogosfera, através do Caminhos da Memória onde, exactamente ontem, foi inserido um texto de homenagem a Hermínio da Palma Inácio. É importante que a Memória perdure... na vida e na personalidade dos povos, das culturas, das sociedades e dos cidadãos... porque a Memória é a matéria-prima da identidade e, como tal, torna-se facilmente presa da manipulação... se não houver transmissão, aprendizagem e compreensão da dimensão patrimonial da Memória o seu determinante poder para a construção e afirmação dos seres e das coisas, fica gravemente exposto às tentações ideológicas do poder dominante que branqueia o passado para controlar o presente e preservar o seu poder, no futuro... Em Espanha, o movimento associativo que levou à proclamação governamental da "Lei da Memória" reivindica agora, através de 65 associações representativas de muitissimos mais cidadãos, famílias e até gerações, uma alteração qualitativa desta Lei que o Governo de "nuestros hermanos" proclamou mas, que ficou de aperfeiçoar... trata-se de reivindicar, nas palavras de Miguel Ángel Rodriguez, Professor de Direito Penal na Universidade de Castilla-La Mancha e um dos redactores do movimento que integra as Associações de Memória Histórica: "Que seja o Estado e não as famílias, quem assuma os trabalhos de identificação e exumação das vítimas". A reivindicação, trazida a público sob a forma de Manifesto, intitula-se: "Pelo Normal Cumprimento do Convénio Europeu de Direitos Humanos em Espanha para o Caso dos Desaparecidos" e classifica a Lei da Memória História como uma "lei da vergonha histórica", lembrando que Espanha é o segundo país do mundo com mais "desaparecidos" que, enquanto se sentiu a influência da Guerra Civil e do franquismo, atingiu a efectivamente vergonhosa e revoltante cifra de 1.500 pessoas, número que, convém salientar como o fazem os protagonistas desta iniciativa: "só fica atrás do Cambodja de Pol Pot". A intenção, a que Zapatero ficou de responder em reunião a realizar durante o ano em curso, 2009, é a de legitimar uma investigação "oficial, efectiva e independente" que, para além dos "desaparecidos", faça luz sobre outra tragédia, paralela e simultânea, a saber "o caso dos meninos perdidos" ou seja, das crianças separadas das famílias republicanas por razões de estratégia e chantagem política levada a efeito contra los Rojos.
[Obs: a) informação recolhida na edição de dia 8 de Julho do jornal "El País"; b) tradução minha das citações referidas;]

Leituras cruzadas...

Hoje é dia de "Leituras Cruzadas"... muitas, que os textos merecem e, acima de tudo, os temas e as perspectivas justificam. No momento em que, no Parlamento Europeu, foi eleito para seu Presidente um político polaco e em que o grupo de eurodeputados de extrema-direita atinge pela primeira vez um número que já não podemos ignorar (35), é interessante e requer a nossa maior atenção o facto de, por exemplo, na Itália populista e demagógica de Berlusconi, essa Itália fabulosa de Fellini, Visconti, Gramsci, Da Vinci mas também, de Mussolini, Chicciolina e Alexandra Mussolini, ser possível a afirmação assustadora de que, no Água Lisa, João Tunes nos deu conta, ele que também anotou com clarividente discernimento o que a demagogia inquisitorial propaga no nosso país onde, a reboque do fundamentalismo clerical se vai, paulatinamente, atentando contra os princípios essenciais das sociedades democráticas, como Manuel Correia bem reflectiu no PuxaPalavra. Felizmente, vão surgindo outras vozes que nos permitem ver nesta concertada intentona contra a transparência da difícil construção da Liberdade e da Igualdade, caminhos alternativos assentes na crítica e na objectividade analítica que não opta pelo facilitismo bacoco do reaccionarismo conservador. É o caso das lúcidas chamadas de atenção sobre algumas polémicas e candentes situações internacionais que, a propósito das posturas institucionais sobre as Honduras e o Afeganistão, JMCorreia Pinto aborda no Politeia ou, no que à situação política nacional se refere, Osvaldo de Castro explicita no Praça Stephens, João Rodrigues enuncia no Ladrões de Bicicletas e Miguel Vale de Almeida exemplifica em Os Tempos que Correm... da realidade dos dias, da perenidade dos factos e da gravidade das opções do presente que comprometem, sempre, o futuro, ficará o devido registo na História que, apesar de todas as leituras e justificações possíveis, não poderá ocultar os traços de profunda aberração com que, com excessiva ligeireza negligente e gratuita, vamos viabilizando políticas, legitimando demagogias e alimentando dogmatismos - como bem explica, a propósito de Auschwitz e da escravatura, A.C.Valera no Irrealidade Prodigiosa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Acordai!...



Regressei hoje de uma curta pausa, junto ao mar, onde gaivotas e alfazema sobrevoam e se debruçam sobre a areia fina onde o sol escalda e o mar acalma... na viagem de fim de tarde, doeu-me, como sempre!, o Alentejo!... esse Alentejo, sóbrio e contido, imenso e desértico, abandonado, injustiçado como se fosse um castigo a dimensão da terra e o poder dos homens, cada vez menos!, na planície desmineralizada... "Oh, Alentejo dos Pobres, Terra da Desolação, Não sirvas quem te despreza, É tua a tua Nação"... a canção, já antiga e que se pensou nunca mais ter que ser cantada, volta à memória e, sobre ela, enuncia-se, sussurante, a frase incrédula: "é o preço!?"... foi então, enquanto avançava no asfalto da estrada anónima que atravessa o solo que já foi fértil e sagrado, que se me desenhou, caleidoscópico, um esboço de pensar: um texto que escrevi há uns dias aqui mesmo, o texto de Manuel Alegre no Expresso de sábado, o texto de Baptista Bastos,publicado no DN na passada 4ªfeira e, a terminar, o som cantado do poema de José Gomes Ferreira "Acordai" na inesquecível composição do Maestro Fernando Lopes Graça... sim, é isso!... um esboço de pensar que, de repetido, se formulou composto na expressão de uma evidência que tão dificilmente parece ser compreendida: É urgente a Convergência da Esquerda... uma convergência estrutural, séria e digna do país que temos e da gente que somos... com António Costa na Câmara Municipal de Lisboa e Manuel Alegre na Presidência da República, por exemplo... com um Governo capaz, eficaz e sólido, que não seja vulnerável às fragilidades que os seus opositores sempre terão capacidade para explorar... sim, é isso! Há prioridades... ou, como diz a sabedoria popular, "cada coisa a seu tempo"... pois... agora é urgente, acima de tudo, ter em conta o que tão bem reflecte Baptista Bastos quando, no texto supra-citado, com clarividência vê: "tudo o que assusta"...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Burkas no Ocidente...



"As Noites das Mil e Uma Noites" de Naguib Mahfouz... já leram?... vale a pena! Numa linguagem clara, evocativa das referências a um passado persa, glorioso, quase em tom de parábola, a narrativa, metafórica, explica, densamente!, a psicologia que domina por certo a população de cultura árabe ou, pelo menos, a menos ocidentalizada... tão densamente que ficam as percepções, representações e tensões entre sunitas, xiitas e carijiitas, num registo oral de uma sociedade ainda afastada de uma espécie de mediatismo nacionalista, definido de acordo com paradigmas ocidentais... Sindbad, um dos personagens das histórias de Sherazade, cidadão comum na comunidade de bairro que Mahfouz retrata, transmite ao sultão os ensinamentos das suas viagens: um deles diz que, por vezes, pelo poder que têm de se voltar contra os próprios, as "velhas tradições" devem ser abandonadas... A propósito do uso da burka e da sua pretensa proibição em França, ouvi, num excerto de reportagem, a alegação feminina da segurança e da protecção das mulheres contra designadamente, os rapazes e a cultura masculina do ocidente... a questão, dramática do ponto de vista cultural, pode contudo, resultar de uma manipulação familiar e étnica dos valores em nome de projectos hegemónicos de grupos hoje minoritários que, com interesses políticos e económicos, podem recorrer à intervenção cívica para adquirir visibilidade... por isso, é, mais do que nunca, urgente a Educação Cívica, Laica e Sexual para todos... por sociedades democráticas, multiculturais e saudáveis...

Listas e Programas...

A propósito do calendário eleitoral, a problemática recorrente da definição das listas e programas, torna-se a prioridade político-partidária... entre a anomia ou a assertividade -eis a questão sobre a qual acabei de publicar no Público um pequeno texto que se pode ler aqui.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

De Xinjiang ao Tibete... pelos Direitos Humanos!

Na próxima 6ªfeira, dia 10 de Julho, Hu Jintao, Presidente da República Popular da China, visita Portugal... depois dos acontecimentos de ontem na região de Xinjiang em que foram mortas 140 pessoas e 800 ficaram feridas, podemos olhar para a China esquecendo ou minimizando a sua persistente violação do Direitos Humanos? Não, claro que não... num país em que 56 "minorias" são constantemente perseguidas, o argumento da organização "anticomunista" não pode relativizar a realidade... uma realidade que, no Tibete, se mantém, desde 1959... por isso, divulgo aqui o apelo do Grupo de Apoio ao Tibete:

"Visto estarem previstos encontros entre o Sr. Hu Jintao e o Presidente da República, o Primeiro-Ministro de Portugal, assim como o Presidente da Assembleia da República, apelamos à vossa tomada de acção.

Desta vez não organizaremos nenhuma manifestação ou acção de rua, devido à fraca adesão que anteriores acções têm tido, apenas vos propômos o envio de mensagens electrónicas para os acima referidos poderes políticos.

Entre o dia 6 de Julho (aniversário de S.S. o Dalai Lama e celebração do Dia Mundial do Tibete) e o dia 10 de Julho (data da chegada do Presidente da República da R.P.C.) apelamos a que se enviem emailes diários, apelando a que se aborde a questão Tibetana e se exija o cumprimento dos direitos humanos no Tibete.

Seguem os seus contactos:

Presidente da República
belem@presidencia.pt
ou
http://www.presidencia.pt/?action=3


Primeiro-Ministro
http://www.portugal.gov.pt/pt/Pages/Contacto.aspx


Presidente da Assembleia da República
http://www.parlamento.pt/sites/PAR/PARXLEGA/Contacto/Paginas/default.aspx


O Grupo de Apoio ao Tibete enviará também cartas ao P.R. e P.M. de Portugal assim como ao Presidente da A.R, alertando para a abordagem da questão Tibetana quando da visita a Portugal de Hu Jintao (brevemente disponível para consulta).

Caso desejem que o V/ nome seja referido como signatário na carta mencionada, p.f. informem-nos até ao fim de segunda-feira, 6 de Julho, Dia Mundial do Tibete!

Obrigada!
"

domingo, 5 de julho de 2009

Apontamentos...

Como não resisto a ficar longe da escrita, aqui fica o registo do que hoje escrevi para o blog do Público... e, aqui, o que escrevi para o PNET Política... a título de pequenos apontamentos... até amanhã... Abraços

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Não me peçam...



Zeca Afonso foi um homem de dizeres felizes... quase parafraseio aqui o seu "Não me obriguem a vir para a rua gritar..." para vos dizer: não, hoje não quero falar de coisas feias... permitam-me o intervalo!... um interregno breve face às taxas de desemprego de 9.3% em Portugal, de 9.5% em termos de média europeia ou de 19% em Espanha... permitam-me deixar de lado, por instantes, os BPN's, os BPP's, Manuel Pinho ou Cavaco Silva (para quem parece que a melhor defesa é o ataque uma vez que, depois do caso Dias Loureiro, resolveu dinamizar a sua pretensa actuação intervencionista sempre que uma notícia pode acarretar custos para o PS!!??)... estou junto ao mar... e escrevo porque me ocorre -além da natureza, a beleza, a bondade e a arte que decorrem, por exemplo, de uma peça extraordinária que acabei de descobrir numa das cenografias de Pina Bausch- a persistência dos valores... no caso, a luta contra as discriminações que se me afigura sempre oportuna e pertinente mesmo quando:

Fecho os olhos
e vou... no som de uma gaivota
que enfeita a noite
em direcção ao mar!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Orgulho Solidário...



Felizmente, temos motivos de orgulho... na gala "Solidários até à Medula" da Associação Portuguesa Contra a Leucemia, ficou a saber-se que, desde que esta Associação foi criada, o nosso país passou de um dos países com menor número de dadores de medula para o 4º país do mundo com maior número de dadores... É caso para dizer: a generosidade de um povo nasce da sua consciência, a consciência constrói-se com conhecimento e o conhecimento consciente sustenta a solidariedade! ou, muitissimo mais bem dito, repito aqui as palavras de José Cura, Maestro, Tenor e membro da APCL: "O Amor pelo próximo viaja sem passaporte"!!!...

Uma Demissão Incontornável...

Lamentável é o mínimo que se pode dizer... uma vergonha! Manuel Pinho demonstrou hoje na AR uma total ausência de sentido de Estado ao responder com um gesto bizarro a uma intervenção de um dos deputados portugueses, no caso, Bernardino Soares. Na verdade, sempre suspeitara de Manuel Pinho... nas suas atitudes transpirou sempre muito provincianismo e uma imensa, inconcebível e ridícula prepotência... uma espécie de "menino da mamã", birrento e caprichoso, incapaz de um diálogo cordato... um homem afinal mal-educado, sem o mínimo sentido de responsabilidade política, que foi capaz de se dar ao luxo de, a título de brincadeira de "mau-gosto", pensar que lhe seria admitida uma atitude como a que hoje protagonizou... e cuja auto-estima narcisista até ao insuportável, lhe permitiu pensar que tinha "condições para continuar no Governo"... felizmente, Sócrates não cedeu à tentação de justificar o facto, mesmo em período pré-eleitoral! ... se já era tardia, a demissão de Manuel Pinho aconteceu no momento certo... pelo menos provou que, no nosso país, por ora e apesar de muitos exemplos, aparências e conjunturas, ainda não vale tudo!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sintonias...



Pina Bausch morreu ontem... mas, dela fica a Celebração da Vida, que podemos continuar a dedicar a quem queremos homenagear e agradecer pela generosidade, a partilha e a interacção... com amizade e em nome da alegria, para o João Tunes, autor do precioso Água Lisa, a "Sagração da Primavera", segundo Pina Bausch.

"Los Hermanos" - entre a Democracia Formal e a Liberdade Democrática



Enquanto se inicia a retirada das tropas norte-americanas do Iraque (processo que se prevê vir a estar concluído em Agosto de 2010) e o Irão se confronta com um resultado eleitoral que fez emergir reacções em nome da democracia e contra a ditadura, nas Honduras, o golpe de Estado dinamizou um sangrento conflito entre a vigência de um normativo constitucional e o sentimento popular de uma traição... pequenos/grandes exemplos que reeditam a reflexão sobre a relação entre a institucionalidade democrática e o exercício da liberdade que é suposto andar de "mãos dadas" com a Democracia... pequenos/grandes exemplos que nos recordam da eleição de má-memória de Adolf Hitler, dos assassinatos na Guiné, da violência no Zimbabwé ou, simplesmente, das desigualdades, das discriminações e da violência social que continua latente na organização social independentemente da caução política dos seus modelos de gestão... A garantia formal da institucionalidade democrática não significa o exercício democrático... entre uma e outra dimensão do problema reside a própria antítese democrática que encontra no espaço disponível para toda a manipulação a possibilidade legítima da contradição da sua própria essência fundante... A democracia, hoje, como ontem, dá a pensar ao mundo as suas potencialidades de uso e recurso... por isso é que urge o conhecimento, a participação e o empenho cívico dos cidadãos na vida democrática que, contrários à expressão da recusa que as abstenções revelam, podem impôr limites à legalidade paradoxal dos preceitos formais, conferindo a toda a arquitectura socio-política a natureza plástica que se adequa à manifestação da vontade dos povos e garante o exercício da sua liberdade...