sábado, 21 de novembro de 2009

Marketing e Navegação à vista



"(...) Que difícil ser próprio e não ver senão o visível." (Alberto Caeiro)

... Jacques Brel e Alberto Caeiro - eis as evocações possíveis depois de se ouvir falar em "espionagem política", quando está em causa o Ministério Público, quando todas as condições concorrem para se falar no desrespeito pela separação de poderes e quando se induzem intenções a partir da especulação explorada após o enunciar de suspeitas, reagindo-se como se de um reflexo condicionado se tratasse... assumindo o risco de descredibilizar a investigação e a avaliação racional dos problemas... a precipitação da auto-defesa, num quadro de maioria relativa em que se adivinham difíceis, morosas e plurais negociações justifica a insensatez?... não!... explica-a mas, de facto, não a legitima... como o preço de acordos pontuais de que é exemplo a avaliação de professores ou o espanto ministerial perante o número de pessoas sem trabalho quando se cumpre a, há muito, anunciada maior taxa de desemprego de que há registo, que mais não significam senão que a tudo se está disposto para viabilizar, sem emendas, propostas polémicas que uma oposição esvaziada aproveita, de forma gratuita e sem alternativas (ou não exigiria a anulação da avaliação de professores e apresentaria, isso sim, medidas concretas para o combate ao desemprego como prioridade no debelar da crise)... A "navegação à vista" tem destas coisas: gere o possível sem se comprometer com coisa alguma e dá razão ao que fôr preciso para não aparentar perder a razão... independentemente do interesse nacional! ... porque o interesse nacional, mais do que ver aprovadas apressadas propostas de lei escassas no conteúdo, exige tempo negocial, recalendarização da agenda parlamentar, reformulação de propostas e flexibilidade analítica de Governo e oposição... ficamos assim, afinal de contas, com a sensação de que o Governo está apenas, talvez até inconscientemente por excesso de vontade de afirmação, a criar condições para a emergência de oposições consolidadas... porque medidas conjunturais são efémeras e o país carece de intervenções estruturais em que todos se comprometam, não para contabilizar vitórias de Pirro perante si próprios mas, para procurar e encontrar soluções melhores... claro que espreita, sobre o ombro de todos, a aprovação de um Orçamento de Estado, a votar... mas o interesse nacional, declarado eleitoralmente, não se satisfaz com o preço da abstenção e visa, pelo contrário, o esforço em fazer mais e melhor do que, apenas, contar com o não bloqueio dos outros... porque o Marketing não retira mas antes fornece razões para que avaliem e intervenham na realidade, quase exclusivamente, valorizando e exibindo uma imagem de aparência que se esgota no ruído das campanhas ou da publicidade mediática sobre acordos que, na realidade, pouco mudam o que urge mudar na vida do país e dos cidadãos.

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