terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Leituras Cruzadas

Neste momento poderemos interrogar-nos: estaremos perante as consequências da chamada crise que tem atravessado o mundo ou estamos, apenas e de facto, a enfrentar os efeitos do sistema económico-financeiro pelo qual se optou, num fascínio de mercados e tecnologias, próprio dos deslumbrados jogadores que se perdem nos casinos do planeta, jogando a roleta ou o poker com a vida dos que não passam de mão-de-obra aos olhos dos apostadores, perdendo o estatuto de cidadãos?... A verdade é que, no último ano emergiu, como se de um surto se tratasse, o extraordinário número de 20 milhões de pessoas desempregadas e abriu-se a possibilidade do número dos que nessa situação se encontram, em estado de longa duração, ascender aos 43 milhões. Entretanto, enquanto o mundo se defronta com constatações como a que refere Filipe Tourais no País do Burro, por cá, continuamos centrados nas pequenas perspectivas que nos oferece o nosso pequeno espaço doméstico onde só se limpam os cantos da casa que pensamos úteis à imagem que queremos que os outros construam de nós, como bem ilustram as observações de Sérgio de Almeida Correia no Delito de Opinião e como nos explica e deixa perceber JMCorreia Pinto no Politeia. De facto, sem que se perceba a pertinência e a excepcionalidade de alguns fenómenos que não ultrapassam a dimensão da vassalagem, o país continua a surpreender-nos inutilmente com "fait-divers" que mais não são que manobras de distracção alienantes e gratuitas (leiam-se as observações de T.Mike no Vermelho Côr de Alface)... talvez para contornar leituras que se podem sistematizar sob a forma que nos é apresentada por Valupi no Aspirina B mas que, seguramente, poderiam ser enunciadas em sentido contrário, exactamente porque, de tão inquinada a verdade e a justiça, mais nos não resta do que "duvidar, duvidar sempre", "de tudo e do seu contrário"... quem ganha? Perdemos todos... porque a ambiguidade e promiscuidade dos nossos mecanismos de controle social nos deixa apenas o sentimento do eterno empate técnico, que tanto apraz aos jogadores e tanto penaliza a República e os cidadãos... Boa notícia, a ajudar-nos a aguentar tanta ligeireza de espírito e tanto desprezo pela inteligência dos cidadãos é a que nos traz Eduardo Pitta no Da Literatura e o esforço de inovação que significa o aparecimento de um novo partido que fará rir muitos portugueses mas que, por exemplo, na Alemanha, tem já uma boa expressão eleitoral provavelmente por ajudar a percepcionar a vida de uma forma mais desinteressada, mais humana, mais solidária e mais holística (leia-se o texto de Paulo Borges no Nova Águia)... Porque, de facto, vale a pena investir no que, além de muito urgente, é, acima de tudo, importante... causas em que não podemos deixar de nos empenhar, em nome da sobrevivência, do presente e do futuro: por exemplo, as da luta contra as alterações climáticas e contra a pobreza (vejam-se as chamadas de atenção de Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção). Felizmente, nem todos os povos (como bem sinaliza Raimundo Narciso no PuxaPalavra), nem todos os cidadãos (como bem denota Loubna Houssein que escapa à fúria fundamentalista do Sudão e está agora em Paris, livre para viver como é devido a todos os cidadãos do mundo), nem todas as culturas!, se deixam seduzir e escravizar pelas manobras demagógicas do poder... e, neste contexto, vale bem a pena assinalar a presença dos Tibetanos na Cimeira de Copenhaga para defender e lutar contra a destruição do "Tecto do Mundo", o Planalto do Tibete (o facto é notícia no texto do Grupo de Apoio ao Tibete que se pode ler AQUI).

6 comentários:

  1. Deixe que lhe dê, Ana Paula, os meus sinceros parabéns! Faz aqui uma exposição brilhante, dos problemas graves e sérios a nível Mundial, contrapondo os problemas da política mesquinha de trazer por casa, com os partidos do poder do Bloco Central. Este bloco central putrefacto e devastado, como de certa forma no resto do Mundo, pela cobiça do poder e ganância desmesurada daqueles que ao longo do tempo, nos roubaram a Democracia e nos tentam enganar, pondo o plebíscito nas nossas mãos! Cheira a bolor putrefacto, cheira a algo já muito difícil de suportar. Esta mentira e usurpação da verdade espalha-se como uma praga ao resto do Mundo Capitalista, no qual e através de falsas promessas levaram o homem à beira do abismo, arrastando consigo todas as espécies do Planeta.
    A ganância extrema levou ao esgotar dos recursos e para mal dos cidadãos, uma crise Mundial foi imposta pelos Governantes a tempo de açambarcarem o que de melhor há para eles, todos os recursos! Nesse ponto de vista o golpe foi duro, pois penso que a crise foi premeditada, tendo o cidadão comum como vítima.
    A maior hipocrisia desses gananciosos, foi colocar nas mãos do cidadão comum, a vida e a subsistência dos mais pobres e desprotegidos, deixando-os à mercê da solidariedade humana, onde os que pouco têm, terão que se mobilizar para socorrer os que nada têm, até quando possam e depois se verá!
    Talvez um dia, esses que pouco têm desistam para não morrerem também de fome. Entretanto eles ficarão cada vez mais ricos e poderosos. Talvez seja a essa a esperança deles, deixar morrer muitos à fome... talvez seja mais fácil reduzir a população que o CO2!
    Quanto ao Tibete, tem sido o que para mim define melhor a hipocrisia dos líderes mundiais e incluo aqui Angola e Congo. Apenas três exemplos dão para fazer um apanhado: Um por causa da água, outro pelo petróleo e minério, outro pelo coltan! Assim vão as nossas elites, com os interesses bem delineados e deixando a humanidade e as outras espécies à beira do exílio (alterações climáticas) e à morte, a bem dos recursos que tanto querem amealhar. O mundo é tão hipócrita, que me faz arrepiar!
    Conseguiram nestes anos todos e através das manipulações de massas, ficar com tudo o que havia na Terra, sem que para isso conte a vida!
    Se depender desses algozes, o destino da humanidade e não de nós, garanto-lhe Ana Paula, que a breve trecho estaremos em agonia.
    Mas se fizermos o que eles pretendem, o mesmo irá acontecer... e o que eles esperam são convulsões sociais em larga escala. Um povo que foi induzido pelos vendedores do oculto e de ilusões, através dos Media e novas tecnologias, será um povo duplamente revoltado por se ver privado de repente.
    Será um futuro negro, pois aqui sabemos quem tem nas mãos todo o armamento e para comprovar que os carrascos não estão desatentos, ano passado, o ano da crise, foi o ano em que os países do Mundo mais gastaram em armamento. No top temos a China seguida dos EUA e em 3º a UE. Para quê?
    Algo me diz que u futuro negro se adivinha, baseado apenas no paradigma os que muito têm, mais querem ter, usando jogos sujos de poder e pondo em risco a vida das garndes maiorias.
    O poder corrompe e como disse Churchil, nunca tantos foram governados (manipulados) por tão poucos!
    Quanto aos politiqueiros rascas do nosso País, para ser sincera, só mesmo com uma Revolução, a vontade e o empenho do povo. É inadmissível sermos representados por escumalha deste cariz.
    Querida Ana Paula, desculpe a seca mas precisava desabafar.Expôs tudo de forma tão límpida... que caí na tentação.
    Um beijo de um grão de pó... com muita pouca esperança. Como disse Nietszche, foi a esperança que acabou connosco!

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  2. Não tem a ver com o seu texto directamente, mas este link demonstra a extrema "bondade" do homem chamado que ganhou o Nobel da Paz (da hipocrisia).
    A ver por aqui... nada de bom.

    http://tsf.sapo.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1429474

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  3. Para corroborar a luta político partidária em Portugal é para isto:

    A empresa portuguesa Mota-Engil, cuja comissão executiva é presidida pelo ex-ministro e dirigente socialistas Jorge Coelho, atingiu no fim de Setembro uma facturação de 1,6 mil milhões de euros e um lucro de 68 milhões, o que representa um crescimento respectivo de 15 e 377% face a igual período do ano passado.

    Já para não falar da EDP, Banca, GALP e outros!

    E também isto:
    http://www.illuminatuslex.com/2009/12/perturbador-no-minimo.html

    Um beijinho de um grão de pó, para um pirilampo iluminado! :)

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  4. Olá Ana Paula
    Excelente este seu abrangente texto de leituras cruzadas, e obrigada pela referência, apesar de imerecida. Gostei especialmente da frase "Felizmente, nem todos os povos, nem todos os cidadãos, nem todas as culturas!, se deixam seduzir e escravizar pelas manobras demagógicas do poder..."
    Agradeço também ter-me dado a conhecer Leonardo Boff, a propósito da tolerância, tendo colocado lá no blogue um texto dele sobre as perspectivas em relação a Copenhaga, e com o qual também concordo inteiramente.
    Um grande abraço

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  5. Uma viagem muito interessante que aqui nos é aconselhada e com um balanço final francamente positivo.

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  6. Fada do Bosque, Manuela e Ferreira-Pinto,
    Obrigado pelas vossas palavras e pelas vossas leituras e sugestões... esperemos que Copenhaga revele alguma capacidade de intervenção e se não esgote nas palavras e nas intenções... porque os riscos que o planeta corre, não esperam o tempo que exige o equacionar de custos que subjaz às intervenções políticas, económico-financeiramente condicionadas... e este poderia ser um momento importante para que a política exercesse o seu poder, impondo-se à macro-economia e à esfera da alta finança... porém, nada augura, além da manifestação cautelosa da capacidade de análise do problema que justifica a Cimeira, que se avance no essencial... porém, tal é a gravidade da ameaça, que tudo o que se possa avançar é melhor que nada... ainda que esteja tudo por fazer - porque se muito está feito e pode evoluir no plano legislativo, muito persistirá por mudar, ao nível das práticas, das atitudes e das perspectivas... A avaliação de custos que o poder faz, resume-se, regra geral, ao enunciar da diminuição dos lucros - porque é insuficiente a valorização da noção do bem-comum que cabe desenvolver à ética laica capaz de respeitar as liberdades nomeadamente, religiosas e de, acima de tudo, defender os recursos que são de todos e que garantem a sobrevivência da espécie... Abraço :)

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