domingo, 13 de dezembro de 2009

O "Vulcão"




Chama-se Custódia Gallego e interpreta, até 20 de Dezembro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D.Maria II, a peça "Vulcão" escrita por Abel Neves e encenada por João Grosso. Quem não viu, devia ir ver... porque se trata de um trabalho que devolve ao teatro a profundissima dimensão humana que o dignifica como Arte Nobre da Representação e da Vida... e se o texto é muito bom, a relembrar grandes clássicos da abordagem relacional dos seres humanos no mundo complexo dos sentimentos, dos juízos e das práticas, a encenação é perfeita na rigorosa adequação de uma espécie de luva que cabe apenas na mão para que foi desenhada, com uma luminotecnia e uma sonoplastia exactas, capazes de reforçar e redobrar a força dramática de Custódia Gallego - uma actriz que é uma força da natureza como há muito se não via... num monólogo com cerca de 90m, uma mulher, sózinha em palco, a uma muito reduzida distância dos espectadores, rasga a noite e preenche o espaço, com uma voz, um rosto e um corpo que, na sua profunda e densissima solidão, anima personagens, acções e sentires de uma narrativa a que se assiste, sem dela se ver senão a personagem que encarna, Valdete. "Vulcão" é inesquecível, imperdível e, como tal, ficaremos, seguramente, mais pobres se perdermos a oportunidade de conhecer esta obra e esta representação. Está de parabéns a dramaturgia portuguesa e o mundo da arte em Portugal!... Deixo-vos um excerto do texto de Abel Neves, publicado no programa: "(...) A verdade é que todos nós praticamos a arte do monólogo, uns mais do que outros, mais em murmúrio uns do que os outros, uns mais capazes de se fazerem ouvir, muitos irremediavelmente perdidos no enigma deste mundo. (...) "Vulcão" não é mais do que uma história que nunca existiu, mas que a fascinante disponibilidade de corpo e espírito de uma actriz consegue trazer ao palco para que possamos, talvez, não só restaurar - e para melhor - as arruinadas vidas de muitos, como precaver-nos - em muitos casos também - contra os malefícios de algumas acções e que, afinal, até têm bom remédio. Não é que o teatro faça milagres, porque os não faz, mas ajuda a pensar outras vidas, possíveis e melhores, e a clarear horizontes. Nós, os que com o público andamos no teatro, ainda vamos acreditando nisso."... Eu também!

11 comentários:

  1. Excelente, Ana Paula. Trata-se de um texto de grande sensibilidade e rigor na apreciação de uma peça que merece ser vista.Parabéns pela sua veia de comentadora de teatro!
    Abraço.

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  2. Querida Ana Paula
    Obrigada por este bocadinho...
    Eu como mulher simples do campo e da província, fiquei encantada, pela sua descrição desta obra, pela forma como vê as coisas e como sempre pela mensagem de esperança que deixa! Até nós público, que andamos arredados do teatro e das artes pela força das circunstâncias, nos faz sentir a "vivência" desses peculiares e benignos momentos! :)) Obrigada

    Um beijo, de um grão de pó. :)

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  3. Obrigado pela generosidade das suas palavras, Sokinus... de facto, o bom teatro é uma arte inestimável, capaz de redimir o mundo quando acontece a qualidade global da obra, feita da elevação de todas as suas componentes - como se verifica neste caso. Indiscutivelmente, a não perder!
    Um grande abraço :)

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  4. Querida Fada do Bosque,
    Se o nosso país apoiasse a cultura como seria desejável, esta peça poderia percorrer o país em digressão... infelizmente, deixaram essas práticas para um número reduzido de pivots de lazer e alguns preferidos do regime que pavoneiam o entertainement, sem atender à cultura e à arte. Tenho a certeza que iria muito de gostar de assistir a este trabalho que nos galvaniza a alma sequiosa de humanidade.
    Um grande beijinho de pirilampo feliz :)

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  5. Olá Ana Paula

    Infelizmente o nosso país é muito macrocéfalo, com um norte a querer torná-lo bicéfalo, mas sem força para isso. Por cá pelo Minho, lá vão passando algumas boas peças às vezes. Ao Porto ainda poder-me-ia deslocar para ver bom teatro, mas a Lisboa, só se tiver de ir, são muitos quilómetros...
    Espero que o Vulcão venha cá ao norte.
    Beijinhos e obrigada pelo texto.

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  6. Olá Manuela,

    É um facto! A macrocefalia do país contribui para reforçar um dos mais graves problemas que temos: as assimetrias regionais. Mais grave ainda é concorrer para multiplicar os efeitos da acumulação populacional nos centros urbanos sem que estes possuam estruturas de integração socio-económica para os cidadãos que, fugindo da desertificação e do desemprego, pouca razão têm para avaliar positivamente a sua opção. Quanto à cultura, espero que, pelo menos, o Porto possa abrir as portas ao "Vulcão" e, se assim fôr, vale a pena ir ver, Manuela. Tenho a certeza que vai gostar.
    Um beijinho e... como sempre, obrigado por estar atenta :)

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  7. Querida Ana Paula.
    Está aqui o cerne da questão humana.
    Ajude divulgando este vídeo no seu blogue.
    Vou pedir a uma série de bloggers, para tomarem esta iniciativa. Se puder divulgar ficaria muito contente e vai de encontro também ao tema das artes.



    http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html

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  8. Tem aqui também uma versão do mesmo filme, resumida.

    Um beijinho de um grão de pó. :))

    http://www.youtube.com/watch?v=PlldjTqL_50&feature=player_embedded#

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  9. Querida Fada do Bosque,

    Obrigado pela sugestão do vídeo que, para já, fica indicado conforme ao seu comentário... porém, não lhe consegui aceder de modo a poder fazer link ou sequer reproduzi-lo... por isso, gostaria que me avisasse assim que algum blogue o coloque em circulação, de modo a que eu lhe possa aceder para melhor o divulgar... o problema, para já, parece ser o facto do endereço que me indica não estar activo?!... confesso que não percebo o suficente para resolver, de imediato, o problema... fico, por isso, a aguardar um "atalho" mais directo para ajudar à divulgação sugerida...
    Um beijinho de pirilampo aborrecido pela falta de pronta eficácia :)

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  10. Querida Fada do Bosque!!! ... a persistência é tudo!... já consegui aceder e já inseri um post onde a chave (como nos sonetos!) é o vídeo que, em boa-hora, me sugeriu!
    Um beijinho de pirilampo sorridente :)

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  11. Muito obrigada Ana Paula! :))
    Quem quer pode. Ainda bem que foi em boa hora!... Agora falto eu... terei de tentar até conseguir.
    Um beijinho de um grão de pó, feliz! :))

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