quarta-feira, 31 de março de 2010

Cumplicidades Políticas e Religiosas Contra os Direitos Humanos


... e assim, entre o silêncio, a omissão, a estratégia, a negligência e a relativização fenomenológica, as vítimas continuarão vítimas, enquanto culpados e cúmplices continuam, de uma ou de outra forma, no exercício do poder... O que significam transparência, democracia, honestidade, igualdade e liberdade face a estas realidades?... o mesmo que a moral e a ética significam para a demagogia e a autoridade política de tantas e tantas instituições religiosas?

Das águas turvas da nossa submersão...


Durante muito tempo, na sequência dos mitos pacificadores que a repressão política do Estado Novo promoveu, Portugal acreditou que era "um país de brandos costumes", letárgica e poeticamente "à beira-mar plantado"... depois, face à emergência da realidade socio-económica e política num contexto de liberdade de expressão, os portugueses começaram a percepcionar-se de forma diferente, ao ponto de valorizarem o que a expressão popular institucionalizou sob a conhecida designação do "chico-espertismo"... talvez por isso e apesar de tudo o que se estudou e compreendeu sobre o papel da "honra" e da "vergonha" nas sociedades mediterrânicas, hoje, os portugueses, no exercício de funções de alta responsabilidade continuam a deixar rastos de uma imagem vulgarmente empobrecedora e lesiva do prestígio do nosso país - o que, no actual contexto económico, concorre para a descredibilidade política não apenas internacional mas, acima de tudo, nacional. O caso dos submarinos encomendados à empresa alemã que hoje é notícia por maus motivos, é mais um contributo para este cômputo de "casos" com que, desde a Guerra do Iraque, nos temos internacionalizado (vale a pena ler aqui, aqui e aqui).

Ainda os Negócios Suspeitos...

A empresa a que o Estado português encomenda os submarinos noticiou hoje, no "Der Spiegel", que o negócio tem contornos obscuros. Surpreendente? ... já não!... Infelizmente, as dinâmicas suspeitas de total ausência de transparência, vão sendo comuns no nosso país... e desta vez a "brincadeira" vai custar 880 milhões de euros ao erário público... a ler AQUI.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Imperdoável Hipocrisia Católica...


... a dos que avocam autoridade moral para julgar o mundo e as suas práticas humanas (divórcio, aborto, uniões de facto, casamentos gay, educação sexual escolar, relações afectivo-sexuais extra-conjugais, preservativos e prevenção da SIDA, vida sexual na adolescência, homossexualidade e sei lá mais quantos outros exemplos se poderiam enumerar), quando protegem hediondas práticas criminosas, designadamente contra crianças. A exploração sexual das crianças e os abusos a que são submetidos os menores, evidenciam o quão imperdoável é a pedofilia, crime e doença que, ao ter por agentes, pessoas que recorrem ao uso do poder, da manipulação e do medo suscitado pelo seu status, configura a natureza dupla e tripla do próprio crime (pela evidência da sua premeditação, pela sua natureza e pela idade das vítimas). Pior que tudo, inqualificável e vergonhoso, é, para além do Papa ter discursado e presidido às cerimónias da Semana Santa, em Roma, tentando relativizar o seu próprio silêncio durante anos sobre o abuso sexual dos padres sobre as crianças em todo o mundo, a Igreja Católica ter permitido a existência e vigência do documento que, com autoria do então Cardeal Ratzinger, hoje Papa, AQUI podemos conhecer porque só agora chegou ao conhecimento público.

domingo, 28 de março de 2010

Os Rostos de uma Luta... pelos Direitos de Cidadania







No século XX aprofundou-se o saber sobre o papel das mulheres na construção dos modos de ser e de estar dos filhos e, a par da luta pelos direitos das mulheres, desenvolveu-se a reflexão que permitiu compreender até que ponto a própria mulher tem sido fundamental na reprodução dos estereotipos contra os quais tem lutado com esforço e dificuldades. O mundo da cultura e da etnologia é, na sociedade contemporânea, o reduto de causas, efeitos e potenciais factores resolutivos e recorrentes de grande parte dos problemas socio-políticos... A ideia ocorreu-me a propósito da chamada de atenção que vi no Carta a Garcia... ontem na Argentina, foram as Mães na Praça de Mayo; hoje, em Cuba, são as Damas de Blanco... e, nas suas expressões públicas, encontramos a mesma reivindicação sobre o direito à vida, em relação ao qual é indiscutível a sua autoridade e a universalidade do seu reconhecimento. Porque me lembrei de partilhar convosco este apontamento? Porque, subitamente, vi nestas manifestações um sinal de criatividade, justa e inteligente. Para quando no resto do mundo? Por certo, lá, no Afeganistão, na Palestina, em Israel, no Sudão ou na Somália, o sentir é o mesmo...

Indicadores de Percepção Pública

Uma expressão curial diz que "as sondagens valem o que valem"... assim é. Porém, vale a pena, independentemente do que podem significar no médio ou no longo prazo, dar atenção aos sinais - ao menos como regulação da nossa imagem da percepção pública... aqui ficam disponíveis (via Margens de Erro) os resultados comparáveis de Março no trabalho da Intercampus para o Rádio Clube e a TVI.

sábado, 27 de março de 2010

Mário Barradas no Dia Mundial do Teatro... em Évora


Associo-me hoje, 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, à justa porque mais do que merecida homenagem do Cendrev a Mário Barradas. Escrevi aqui assim que soube da sua morte, tal como o fiz no jornal Diário do Sul... muito haverá a dizer, a estudar e a escrever sobre a sua obra, o seu pensamento e a sua forma de estar na vida. Para além de apenas acrescentar ao pouco que se tem dito que também em Timor, Mário Barradas criou um pequeno grupo de teatro, que foi ele quem, em Portugal, legislou sobre o Teatro em Portugal depois do 25 de Abril, que as 2 cidades em que mais investiu tempo e trabalho, a saber, Évora e Almada, se tornaram capitais reais da cultura no território nacional, de Mário Barradas guardaremos sempre a frontalidade, a amizade, a sinceridade, o saber, a cultura e a alma. Por isso, para quem é grato à memória e à herança, Mário Barradas não desapareceu nem irá desaparecer... por isso, continuo à espera do Teatro Mário Barradas em Évora... até quando? Até que aconteça! Mas, entretanto: Obrigado ao Cendrev pela homenagem de hoje. Aquele Abraço.

O PSD, Hoje...


Pedro Passos Coelho ganhou as eleições directas no PSD com 61 % dos votos expressos. A vitória, previsível e, como tal, nada surpreendente (apesar da já conhecida estratégia dos media em efabular a realidade pela incapacidade de, com ela, se confrontar em troca de um permanente e inglório esforço em a inventar) é uma boa notícia para o panorama político-partidário português, na medida em que revitaliza as imagens públicas da vida nacional, arrastando, necessariamente (não se sabe por quanto tempo, é certo!) uma dinamização do diálogo político, importante para a governabilidade e a expectativa dos cidadãos. A vitória de Passos Coelho é, para o interior do seu partido, acima de tudo, o assinalar do fim do penoso ciclo de anomia política decorrente da queda do governo de Santana Lopes e do destrutivo período da imagem pública do PSD resultante da gestão de Manuela Ferreira Leite mas é, também, a evidência da derrota das pretensões de Paulo Rangel que nunca percebeu que a sua vitória eleitoral nas europeias resultara de uma conjugação muito particular e irrepetível (fruto, por um lado, da retaliação e desmobilização popular contra o PS num acto eleitoral de menor proximidade e, por outro lado, da unidade conjuntural de esforços sociais-democratas para a afirmação da sua imagem pública enquanto segundo partido da oposição)... sobre a vitória de Passos Coelho e a nova liderança do PSD, gostei de ler e por isso destaco os textos de Osvaldo Castro, Eduardo Pitta e Pedro Correia, respectivamente, nos A Carta a Garcia, Da Literatura e Delito de Opinião.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sonoridades... intemporais...

Do sentido e da gratuidade do uso do espaço público

Há manifestações públicas que nos devem interpelar porque, para além de uma pretensa manifestação de irreverência, nos interpelam sobre o seu sentido ou, em última análise, sobre a sua intencionalidade... nomeadamente porque, ao colocarem-se estas perguntas e ao não se obterem respostas, nos deparamos com uma gratuitidade de tipo non-sense que, no frágil contexto da sociedade e da economia portuguesas, em nada denotam utilidade - a não ser para a especulação e a interpretação provocatória que o país e os cidadãos não merecem... ver Aqui.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Leituras Cruzadas...

Um dos mais relevantes problemas do desenvolvimento sustentado contemporâneo na União Europeia que, no nosso país, adquire uma pertinência incontornável, refere-se à prevalência das políticas fiscal e financeira sobre a política económica. Contudo, o país continua a insistir apenas na leitura das evidências decorrentes do PEC - o qual, apesar de tudo, por estar na ordem do dia, tem tido o mérito de permitir algumas importantes análises que se constituem como as únicas "achegas" que se aproximam do problema que acabo de enunciar e de que destaco algumas observações e reflexões de JMCorreia Pinto , no Politeia. Contudo, sobre o PEC tem também sido produzida muita argumentação demagógica (veja-se o reparo anotado por Paulo Pedroso no Banco Corrido) sem ser tida em consideração a situação socio-económica e política contextual que caracteriza actualmente a Europa (ver Aqui e Aqui)... e, enquanto o país prossegue a sua senda de "soma zero" no que se refere ao envolvimento útil e positivo das dinâmicas político-partidárias nos processos de reconstrução/recuperação nacional (vale a pena ler as observações de Porfírio Silva no Machina Speculatrix e de João Ricardo Vasconcelos no Activismo de Sofá), felizmente, vamos conhecendo outras realidades que nos reacendem a esperança na capacidade possível de construção de alternativas (leiam-se os textos publicados por Michael Bahrent no Alternatives Économiques e por Osvaldo Castro no A Carta a Garcia)... apesar da hipocrisia que continua a contaminar de forma ignóbil a nossa sociedade (vale a pena ler o que dizem João Tunes no Água Lisa e Rui Herbon no Jugular), à revelia de todos os valores e de todos os direitos!

terça-feira, 23 de março de 2010

Da Saúde e da Pobreza ao Emudecimento Económico

A vitória de Barack Obama sobre a América do passado que persiste em glorificar um sistema que mais não fez do que agravar as desigualdades sociais, negligenciando os direitos dos cidadãos e caucionando a discriminação económica, tem o rosto da nova Reforma da Saúde que abre o acesso à assistência médica e aos cuidados de saúde dos milhões de pessoas que, nos EUA, se viam privadas do exercício de um direito fundamental. Para além da inequívoca importância do facto, esta luta politicamente travada com persistência e apesar das empedernidas e demagógicas resistências que ergueram medos e levantaram suspeitas, valeu a pena não só, lá, na América, mas, como mensagem global do combate que é preciso continuar a travar contra a discriminação, contra o racismo e contra a xenofobia de que são vítimas, cumulativa e injustamente, os cidadãos atingidos, reduzidos ou condenados à pobreza. Por cá, esta manhã reparei nos rostos desalentados, magros e escurecidos de falta de sono, tranquilidade e alimento de muitos portugueses que atravessavam as ruas e esperavam autocarros, entre um certo ar de abandono do espaço público, de negligência ou desinteresse pelo que é de todos... a pobreza tem, entre nós, um rosto cada vez mais público e mais triste. Por isso, se torna difícil aceitar e compreender que, ao invés de se discutir uma forma de, conjuntamente, se revitalizar a economia, toda a discussão permaneça centrada nos mecanismos financeiros de controle da dívida externa... vivemos uma espécie de déjá vu... e o que mais nos penaliza é ver que todos os agentes políticos se pronunciam, alimentando quezílias e interesses corporativos próprios, sem apresentar soluções, obcecados em se ultrapassarem uns aos outros e em justificar ou condenar medidas de austeridade cuja necessidade não está em causa mas que não deveriam, de modo algum, esgotar o pensamento político e económico do país... onde conceitos fundamentais como "economia social" e "economia ecológica" parecem desconhecidos ou, não o sendo, são contudo, simples e assumidamente, negligenciáveis.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Bullying - Os Rostos da Violência



Vivemos em sociedades violentas. Apesar de toda a propaganda e dos termos de comparação com sociedades guerreiras ou em estado de guerra, as sociedades ocidentais e democráticas de hoje continuam a manifestar expressões de agressividade que, cada vez mais sofisticadas e diversas, não deixam de ser extremamente preocupantes. Cabe, por isso, aos agentes sociais, políticos e educativos estar atentos, de modo a serem compreendidas as causas e prevenidos os efeitos da violência social que grassa entre nós, de forma mais ou menos dissimulada, relativizada ou negligenciada. O bullying está na ordem do dia, nomeadamente por se evidenciar em meio escolar. Sejamos claros! Sempre existiu violência na escola! Os mais fortes sempre agrediram os mais fracos e os mais pobres... meninos e meninas! O bullying não é, por isso, uma nova realidade mas, isso sim, apenas!, um novo conceito que designa comportamentos caracterizados pela agressão (psicológica, verbal ou física) manifestada de forma intencional e repetida. Ao bullying assiste uma atitude de assédio, transversal ao sexo e à idade, desenvolvida sob a égide do comportamento de grupo - o que evidencia, quer a atitude, quer a prática, como estratégia de integração social no sentido do reconhecimento da afirmação do poder pela massa grupal que se refugia no anonimato em que se pratica um certo sentido de lealdade cujo reverso é, se assim o podemos dizer, uma espécie de corporativismo de índole vária: sexual, etário ou de interesses. Combater o bullying é uma tarefa hercúlea que implica o revolucionar da gestão relacional nas famílias e na sociabilidade, o repensar dos valores, das práticas e da função social da educação... até porque a importância do bullying emergiu da consciência pedagógica e cívica do drama da violência, em sociedades que só nos últimos 50 anos (e, no caso português, nos últimos 20) se tornaram sociedades valorizadoras dos afectos e promotoras da coexistência social pacífica num contexto valorizador da diversidade. O bullying existe por uma quantidade de interacções multifactoriais, próprias da sociedade contemporânea, que não podem ser escamoteadas: da ausência comunicacional na família à desestruturação das respectivas relações hierárquicas verticais (não substituídas por correspondências horizontais com significativo impacto na regulação dos comportamentos); da alteração da percepção social dos mais velhos (que reduz o respeito e a consideração pelos adultos e os idosos) ao crescimento institucionalizado das crianças; da reprodução das imagens e estereotipos dos media, da publicidade e da moda ao desenvolvimento de redes de ensino e aprendizagem técnica, disciplinarmente específicas, mas destituídas de uma integração holística de cidadania e responsabilidade social... Ao bullying são ainda, indiscutível e determinantemente inerentes, como mecanismos processuais, as questões da afirmação infanto-juvenil no espaço público e os respectivos pressupostos individuais ao nivel da estruturação da personalidade, do carácter e dos códigos sociais... e, neste plano, deve destacar-se, por um lado, a dimensão da emergência de sentimentos tais como os de justiça/injustiça, vingança/inveja, penalização/culpabilização ou exibição/afirmação que carecem da atenção reguladora dos adultos, entretanto, assoberbados pelos estímulos externos de um meio apelativo à competição e à concorrência onde se lhes revela cada vez mais difícil o exercício do discernimento. A violência mata. O bullying também... e o bullying afecta não só crianças e jovens mas, também, adultos... porque o bullying, como todas as manifestações de assédio, tem como palco o meio profissional... vejam-se os professores que, provavelmente vão ter que encontrar protecção na justiça e na elegilidade da sua agressão ao nível do crime público porque a relativização dos fenómenos e manifestações da violência deixou de, por excesso de banalização, merecer a atenção cívica das pessoas e das autoridades.

domingo, 21 de março de 2010

Portugal... Ontem e Hoje...

"PORTUGAL EM PARIS
Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e Abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.
Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
sem nada
despejada nas ruas de Paris.
E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de Abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris."
(Manuel Alegre in "O Canto e as Armas - Canto V-Lusíada Exilado")

Recados... subliminares...



"Zero and One"... de Laurie Anderson... sabem porquê?...
Por exemplo:



Porquê? Sabem porquê? Porque...



... Tenham uma Boa Primavera!... e que nela renasça... toda a poesia e toda a consciência!

sábado, 20 de março de 2010

Tributo...


... a Ibrahim Ferrer ... com o imortal: "Dos Gardenias"!... para prenúncio de uma urgente e doce Primavera :)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Do PEC às Funções Sociais do Estado...

Confesso! Ainda não compreendi a razão pela qual se chama PEC-Programa de Estabilidade e Crescimento ao... PEC! O rigor requeria que o documento se designasse, honesta e frontalmente, Programa de Austeridade para o Combate à Crise... no mínimo! - e para além de todas as justas e merecidas críticas que o nome aqui sugerido pudesse implicar mas teria, pelo menos, o mérito de não efabular os objectivos das medidas a adoptar e de não desvirtuar os conceitos de "estabilidade" e "crescimento"!... porque é uma amarga e desrespeitosa ironia, designar por "programa de estabilidade e crescimento" um conjunto de medidas que incidem mais sobre os mais pobres do que sobre a taxa de 45% de IRS ou o adiamento de infra-estruturas, no contexto de uma hipótese decorrente de uma espécie de "overbooking", previsto para os utentes dependentes de prestações sociais como o subsídio de desemprego, o Rendimento Social de Inserção ou o suplemento complementar para idosos (vale a pena ler o que Paulo Pedroso bem escreveu sobre a matéria no Banco Corrido). Vejamos... quando se designa e anuncia um documento desta natureza, num clima socio-económico fragilizado como o nosso, como instrumento de apoio ao crescimento e à estabilidade, está, assumidamente!, a perverter-se a linguagem, a ideologia e a percepção cívica da governibilidade de toda uma população que vive de facto!, cada vez mais, em dificuldades, num cenário onde não páram de crescer os apelos aos sacrifícios colectivos - que, a serem feitos, deveriam ser fundamentados, justificados e compreendidos como expressão de "último recurso", no quadro de uma governação que valorizasse e defendesse, "de factum" e "de jure", as funções sociais do Estado. É caso para reflectir... porque fica cada vez mais inverosímil a defesa destas propostas e procedimentos adoptados por quem governa e constrói o referido programa a pensar em termos pauperrimamente economicistas, reduzindo a vida nacional ao deficit e ao esforço de controle das contas públicas que o exterior tutela e penaliza, em prejuízo da sociedade portuguesa e do efectivo crescimento da economia nacional - que, diga-se em abono da verdade!, se dá ao luxo de se pensar e apregoar, ignorando potencialidades de investimento e desenvolvimento de sectores estratégicos nacionais de que destaco, a título de mero exemplo, a indústria naval portuguesa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Leituras Cruzadas...

A democracia portuguesa atravessa um período curioso... claro que todos sabemos que, em tempos de crise, se verifica o aumento exponencial da contestação e do autoritarismo... mas, mesmo assim, quando, em França, se regista, para além de uma elevadissima taxa de abstenção, a clara vitória dos socialistas nas eleições regionais, por cá, o segundo maior partido do espectro parlamentar nacional, afirma métodos e defende procedimentos (vejam-se os textos de José Freitas no Aventar, de António Manuel Venda e de Carlos Barbosa de Oliveira no Delito de Opinião, de Filipe Tourais no O País do Burro e de José Adelino Maltez no Sobre o Tempo que Passa e no Albergue Espanhol). Claro que o espírito da participação democrática é uma questão que merece, em todos os partidos (sem excepção, apesar das omissões e acusações mais ou menos irónicas, melhor ou menos bem conseguidas), uma atenta, séria e descomplexada reflexão sobre a natureza das organizações partidárias e o respectivo espírito de conformidade relativamente à essência conceptual da Democracia... mais, a discussão aberta sobre a relação efectiva entre funcionamento partidário e exercício efectivo das competências democráticas, implica a discussão sobre o grau de articulação entre representatividade e participação democráticas que se pretende vigente no sistema político e, nomeadamente, no que se refere à liberdade de expressão e ao recorrente exercício do pensamento crítico em organizações que se pretendem de discussão e formação de opinião (leiam-se os textos de Vitor Dias no O Tempo das Cerejas, de Ricardo Santos Pinto no Aventar e de Paulo Querido no Certamente). Num tempo em que urge encarar com seriedade os desafios da sociedade global que continua a revelar dificuldades de compatibilização com as realidades socio-económicas e culturais nacionais (leiam-se os textos de João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas e de Rui Herbon no Jugular)... Para, em última análise, deixarmos de contribuir para o aumento de factos e de probabilidades como a que, no Jugular, Ana Matos Pires tão frontalmente enuncia.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um Certo Entendimento da Representatividade Democrática

Não sei se por motivos de desassombro político, quiçá suscitados pela decisão em se assumir a verdadeira vocação de um partido que, sob a designação PPD-PSD, avoca a social-democracia!, mas, o facto é que a calendarização estatutária do direito ao exercício da crítica e a afirmação de que o PSD deve assumir a bipolarização do sistema político em Portugal, apresentadas como propostas por Pedro Santana Lopes (ontem no Congresso Extraordinário -efectivamente!!!- do PSD em Mafra e hoje no Jornal da Noite, na SIC-Notícias), denotam um entendimento da democracia representativa a que, de democrático, resta apenas o epíteto e cuja efectiva representatividade reduz a democracia pluralista ao binónimo da alternância partidária. Não sei se esta dimensão do 2º maior partido português é surpreendente ou se apenas confirma o que muitos, de há muito!, afirmam quando não hesitam em associar o PSD à direita!... Centro? Qual centro? Social-democracia? Qual social-democracia? Os conceitos já não são o que eram ou a sua evocação foi sempre meramente populista? - eis a questão que se colocaria ao eleitorado se a comunicação social disponibilizasse o seu tempo e o seu espaço para o exercício da análise e do pensamento crítico - a não ser, é claro!, que receie incorrer no risco de expulsão!

domingo, 14 de março de 2010

Em Cartaz: Um PSD Ensandecido...


Manuela Ferreira Leite anunciara a suspensão da democracia... por isso, não poderá ser surpreendente para quem nela acreditou, o facto de, para quem nunca reconheceu seriedade e credibilidade às suas palavras, o PSD, enquanto organização partidária, denotar agora sinais inequívocos que o demonstram ensandecido. Primeiro, os delegados só puderam participar activamente nos trabalhos do Congresso (ainda que, em democracia, um Congresso partidário se presuma como Forum onde a participação é equitativa e apenas sujeita às inscrições prévias acessíveis a todos); depois, foram as sanções para quem "falar mal" dos líderes, sanções que culminam com a expulsão dos críticos!!!... A loucura total!... para abrir os trabalhos e para os fechar... com coerência, está à vista! Faz, por isso, sentido que o populismo do discurso dispersivo do Presidente da CM Caldas da Rainha tenha galvanizado o Congresso... apesar de ter dito coisas espantosas para quem defende o projecto PPD-PSD (que nem me atrevo a designar por social-democrata!); como, por exemplo: "(...) onde é que Sá Carneiro aceitava, Dra. Manuela Ferreira Leite, que os mercados mandassem no Orçamento ou na Assembleia da República? (...)"... e, provavelmente, faz também sentido que Rui Machete tenha declarado (corroborando a tese simplória da ainda líder, sobre o facto das regras, quando existem, serem para cumprir mesmo se é de uma versão da "Lei da Rolha" que se fala), que se não trata de uma medida persecutória!!!... Palavras para quê? ... eles falam por si!... e sim, são artistas portugueses cuja marca de pasta dentífrica, mesmo se medicinal, é seguramente venenosa para a Democracia e para a sociedade portuguesa!

sábado, 13 de março de 2010

Cidadania e Criatividade...


A poesia é, pela manhã, uma forma de reinventar os dias... foi isto que, hoje, ao ler Mário Quintana, redescobri perante as palavras certas que nos relembram o valor da criatividade de que as sociedades necessitam urgentemente, enquanto há tempo para a catarse e a libertação das doenças alienantes que o desemprego e a descrença política provocam, despertando depressões, angústias, ansiedades e anomias. Diz Mário Quintana:
"Esses que puxam conversas sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo"...
... num tempo em que reivindicamos o exercício da cidadania e em que somos conscientes dos meios legais que condicionam e configuram a opinião pública, temos o direito e o dever, por obrigação de auto-defesa humana, de salvaguardar o nosso próprio raciocínio e o nosso juízo individual sobre as lógicas e os modos de viver em sociedade... A sociedade contemporânea, com a parafernália de media e tecnologias de informação que disponibilizou aos cidadãos, produziu uma espécie de "efeito secundário", em relação ao qual é preciso desenvolver o distanciamento: acreditar na avaliação individual dos múltiplos dados informativos e opinativos que nos chegam é, hoje, fundamental. E, se o refiro, faço-o por constatar que a baixa-auto-estima dos cidadãos, os deixa vulneravelmente expostos à manipulação e ao código de corporativismos comportamentais ditados pela moda e pelos estereotipos em que assenta o que se reconhece como padronizado. O exercício pleno da cidadania acontecerá no dia em que as pessoas deixarem de evitar a responsabilidade de assumir as suas próprias opiniões e opções e se sintam capazes de as defender e discutir, sem medo da diferença e sem necessidade de recorrer ao dogmatismo e ao fundamentalismo. Nesse dia, cumprir-se-á a Liberdade e a Democracia levantará a cabeça para dizer, como Goethe:
"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força da sua alma, todo o universo conspira a seu favor"!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Da Opinião Pública - Paradoxos ou Evidências

É um dado revelador, o facto das sondagens para o mês em curso, realizadas pela Eurosondagem para o Expresso/SIC/Rádio Renascença e pela Universidade Católica, continuarem a dar a vitória ao PS, remetendo o 2º maior partido para uma distância assinalável... Revelador porque, do actual contexto de crise económica com o respectivo anúncio de medidas de austeridade para a sociedade portuguesa, à oposição frontalmente mediatizada face à discussão e votação parlamentar do Orçamento e à análise do PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento), não encontramos, "a priori" muitas razões evidentes para que assim seja... a não ser que se considere que a opinião pública se constrói de forma cada vez mais distanciada do definido pela tradicional cartilha da comunicação social empenhada, desde há muito, na exploração e desenvolvimento de uma sistemática campanha de acusações e suspeitas relativas ao Primeiro-Ministro e ao Governo...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Um Contributo Feminino - Da Tradição Oral à Multiculturalidade



(Se preferir ver com legendas,clique em "view subtitles" e procure, com o cursor, o idioma "Português de Portugal")

A multiculturalidade contemporânea é a mais-valia que a globalização representa para uma cidadania capaz de se cumprir no pleno exercício dos direitos cívicos em nome de uma coexistência enriquecedora e pacífica. Capaz de contrariar sentimentos xenófobos e racistas e práticas discriminatórias que a pluralidade étnica, cultural e religiosa pode suscitar, designadamente enquanto pretexto catártico para o descontentamento social, a multiculturalidade requer o exercício pedagógico de um ensino/aprendizagem societário que permita aos cidadãos reconhecer, respeitar e valorizar a diferença.
Chimamanda Ngozi Adichie é uma jovem escritora nigeriana, romancista e novelista que se auto-denomina "contadora de histórias" que, na Conferência Anual da TED (organização não-governamental para a divulgação de Ideias com Mérito e Valor), em Oxford, apresentou uma intervenção intitulada "O Perigo da História Única". Em "O Perigo da História Única", Chimamanda Adichie pronuncia-se de forma extraordinariamente inovadora e simples, sobre o perigo da educação unilateral e etnocêntrica, promotora de mundivisões monolíticas e de representações deturpadas da realidade... inaugurando assim, pelo recurso à tradição oral dos contadores de história, um modo autêntico e eficaz de transmissão da mensagem e da consciência da contemporaneidade, que urge despertar e partilhar com todas as crianças e todos os adultos do planeta.
(O nosso agradecimento ao Osvaldo Castro, autor do A Carta a Garcia pela divulgação partilha do vídeo que aqui partilhamos)

O Dia da Mulher, Hoje...


No dia 8 de Março de 1857, um grupo de operárias têxteis, em Nova Iorque, decidiu fazer greve, ocupando, para o efeito, a respectiva fábrica. Reivindicando a redução do horário de trabalho de 16 para 10 horas e contestando o facto de receberem apenas um terço do salário pago aos homens, pela prestação do mesmo trabalho, as operárias foram fechadas nas instalações dessa fábrica em que veio a deflagrar um incêndio e, nesse dia de luta pela igualdade de direitos laborais, morreram cerca de 130 mulheres. Em homenagem a estas operárias, em 1910, numa conferência internacional de mulheres, decidiu-se celebrar o dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.
Celebram-se pois, hoje, 100 anos deste Dia que muitos problematizam mas cujo sentido se revê na actualidade, apesar de já terem passado 153 anos sobre o episódio que acabou por simbolizar a internacionalização da luta das mulheres pela igualdade de direitos. Porque, apesar do reconhecimento internacional dos Direitos das Mulheres, da Igualdade de Oportunidades e do combate a todas as formas de discriminação de que se destaca, pela sua transversalidade, a discriminação em função do sexo, as mulheres continuam, em muitos sectores de actividade, a não ter o produto do seu trabalho reconhecido em igualdade de circunstâncias com o sexo masculino. E se esta realidade ocorre ainda no Ocidente, no planeta é esta a realidade maioritária do mundo laboral, multiplicada exponencialmente várias vezes se pensarmos no exercício de direitos cívicos, políticos e religiosos ou na valorização e reconhecimento dos direitos relativos à identidade individual, cultural e sexual das mulheres.

Vítimas de todo o género de violência, as mulheres continuam a liderar taxas de pobreza e exclusão uma vez que, infelizmente, o género, na sua transversalidade, acaba por se constituir como factor de dupla discriminação, concorrendo, em particular, no feminino, para a persistência das discriminações múltiplas.

Por Todas as Mulheres em Todo o Mundo faz sentido assinalar o Dia Internacional da Mulher!

(Sobre o Dia Internacional da Mulher escrevi também AQUI)

domingo, 7 de março de 2010

Dos Capitães de Abril...


Costa Martins foi uma das vítimas mortais da queda de uma avioneta, ocorrida ontem à noite em Montemor-o-Novo. Capitão de Abril a quem se deve a ocupação do Aeroporto de Lisboa e a interdição do espaço aéreo português, operação levada a cabo isoladamente já que os reforços chegaram mais tarde, Costa Martins foi também, entre 1974 e 1975, Ministro do Trabalho dos II, III, IV e V Governos Provisórios. Soube da notícia aqui mesmo, na blogosfera... e pela admiração maior que nos merecem os Capitães da Liberdade, não posso deixar de assinalar este facto e partilhar convosco o texto com que, no Politeia, JMCorreia-Pinto retrata Costa Marins (ver AQUI).
Na fotografia, Costa Martins ao lado de Vasco Gonçalves.

Para começar... no Aventar

Pode ler-se AQUI o meu primeiro post no Aventar onde, a partir de agora, também me poderão encontrar.

sábado, 6 de março de 2010

Leituras Cruzadas - Especial...

Este Leituras Cruzadas é especial... não sei bem porquê mas, é um destaque de "meia dúzia" de textos importantes que encontrei hoje na blogosfera. São textos diversos no conteúdo, na orientação e na forma mas são, essencialmente, a prova de que, por um lado, a demagogia, a desconfiança, a intriga e a má-fé fazem mal ao país e de que, por outro lado, a democracia precisa de concretizar a coexistência desejável e possível entre todos os que defendem a salvaguarda do interesse nacional e sabem que a instabilidade é, designadamente em situações de crise, o pior inimigo da qualidade de vida. Acima de tudo, este Leituras Cruzadas é o resultado de uma reflexão entristecida sobre as razões que justificam grande parte das posturas políticas e uma espécie de chamada de atenção à nossa melhor capacidade de olhar desmistificadamente e com humildade o mundo e o que com ele podemos aprender, para além dos limites estreitos dos nossos egoísmos e das nossas pretensões... Vale a pena ler:
- JMCorreia-Pinto, A Visita de Miliband a Lisboa in Politeia;
- Nuno Ramos de Almeida, 6 de Março de 1921 in 5 Dias;
- Osvaldo Castro, Freeport, Fonte Judicial desmente Expresso in A Carta a Garcia;
- Raimundo Narciso, A Política na Sanita in PuxaPalavra;
- Miguel Abrantes, Ainda que mal pergunte in Câmara Corporativa;
- A. Pedro Correia, Os Pequenos que se julgam Grandes(...) in Aventar;
- Pedro Correia, Frases do Ano (6) in Delito de Opinião;
- Manuela Araújo, Uma Visão do Futuro - Transição in Sustentabilidade é Acção;
- António Manuel Venda, Frase Assustadora in Delito de Opinião.

Sons Femininos...



"There's A Chance (Peace Will Came)" de Melanie Safka...

Uma Reflexão... pela Humanidade, pelo Chile e pelo Planeta

"As catástrofes da natureza" é o título de um texto publicado pelo Professor Raul Iturra no Aventar, cujo espaço de escrita começarei a partilhar a partir de Abril... Chileno, o Professor Raul Iturra é um antropólogo, um cientista social e um cidadão com cujas reflexões muito continuo a aprender... e que, naturalmente!, vale muito a pena ler.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A Justiça - do Freeport ao Face Oculta segundo Garcia Pereira



Vale a pena ouvir Garcia Pereira sobre a situação da Justiça em Portugal no programa "Antes pelo Contrário" da RTP1... conhecendo nós a frontalidade de Garcia Pereira e o discernimento com que analisa muita da realidade portuguesa, é duplamente interessante ouvir as suas declarações que se referem, também, aos casos Freeport e Face Oculta.
Observação: tomei conhecimento deste vídeo através de um post de João Pinto e Castro no Jugular

quarta-feira, 3 de março de 2010

Leituras Cruzadas

Estranho e curioso país o nosso, reconhecidamente localizado numa Europa que se pretende exemplo democrático, no complexo mundo em que vivemos e se vê quase reduzido a representações que, sob múltiplas formas de expressão, mais lembram populismos demagógicos que precedem uma espécie de "golpes de estado" conhecidos por "mexicanizações", sejam elas "de secretaria" ou simplesmente, como era apanágio das sociedades de cultura oral, por via da intriga e do boato. Apesar de meio milhão de desempregados (100.000 dos quais jovens), de uma taxa de emigração igual à de há 50 anos atrás, da falência de mais de 700 empresas no espaço de meses e do problema comum da recuperação económica e da protecção das populações que nos colocam as devastações que as condições atmosféricas têm evidenciado por todo o lado (do Haiti à Madeira ou do Chile a França), Portugal continua a ter, por um lado, uma oposição empenhada em minar a governabilidade possível de um país a braços com uma profunda crise económica e, por outro, uma comunicação social sedenta de escândalos, determinada em corroer a confiança da opinião pública - apesar da ausência de pertinência ou fundamento de pseudo-notícias assentes na especulação gratuita que merecem o nosso veemente repúdio, designadamente pela evidência que denotam de concorrer para objectivos que se não esgotam no que relatam. É neste contexto que se pode compreender o critério jornalístico que levou a que um jornal nacional como é o "i", na sua edição de ontem, tenha escolhido uma não-notícia para colocar, em grande destaque na sua primeira página, sobre uma matéria bizarra que de informativo nada tem e que, em termos de contributo para a formação da opinião pública, nada acrescenta senão mais um contributo para o confuso e suspeito clima de intrigas com que oposição e comunicação social vêm encarando e retratando o país em que vivemos. A polémica suscitada mereceu, naturalmente!, uma série de reacções de que destaco os textos de Eduardo Pitta no Da Literatura, de Nanda no Sacode as Nuvens, no Léxico Familiar de Pedro Adão e Silva, de Tomás Vasques no Hoje há Conquilhas ou de Luís Novaes Tito no A Barbearia do Senhor Luís, bem como outros que, pela ironia denotada (veja-se o post do 31 da Sarrafada) ou pela solidariedade insuspeita reveladora da indignação de pessoas decentes (veja-se o post de Gabriel Silva no Blasfémias) justificam aqui a respectiva referência. A questão não é gratuita nem deve ser negligenciada porque, enquanto cidadãos, nos cabe o direito de exigir mais respeito pelos leitores, em nome de um jornalismo claro, informativo e de qualidade que não troque o interesse nacional por "fait-divers", ainda por cima de sentido escuso e/ou enviesado... Porque é o país e não a intriga e a suspeição indiscriminada que nos interessa e entretanto, enquanto grassa a confusão que muitos aproveitam para problematizar em sentidos diversos (vejam-se os textos de Luís Moreira e de Fernando Moreira de Sá no Aventar), ficam sem resposta as verdadeiras questões que se nos colocam para desmistificar tudo o que tem vindo a ser explorado exaustivamente em registo acusatório mas, pelo que se tem vindo a apurar, infundado(vejam-se os textos de João Abel de Freitas no PuxaPalavra e de Daniel Oliveira no Arrastão), sem se retirarem ilacções do que efectivamente se vai conseguindo fazer de positivo (veja-se o texto de Rui Caetano no Urbanidades da Madeira) ou, sem sequer se apresentarem leituras sérias suscitadas pela realidade dos factos (vejam-se os textos de JMCorreia-Pinto no Politeia, de Leonor Barros no Delito de Opinião e de Francisco Seixas da Costa no Duas ou Três Coisas). O país, o mundo e os cidadãos merecem mais e melhor!
(2ª Observação posterior à publicação deste post: os links para o Aventar já estão activos - informação gentilmente cedida pelo Fernando Moreira de Sá supra-citado a quem agradeço; para quem não lera a 1ª observação, acrescento que a mesma referia o facto dos links do Aventar terem estado temporariamente inoperacionais).

terça-feira, 2 de março de 2010

Daqui a Bombaim e Cabul...




Enquanto o país se desdobra em dificuldades económicas, com um desemprego elevadissimo, empresas falidas e medidas de austeridade indispensáveis ao esforço de compensação das contas públicas e os media persistem na busca incessante de matéria sensacionalista, o mundo dos cidadãos busca respostas para a complexidade dos dias... Felizmente, existe a literatura que é, sem dúvida, como aliás, sempre foi!, uma ajuda inestimável para se alcançar esse fim. A multiculturalidade e as relações internacionais trazem, actualmente, à informação e à opinião, uma torrente plural de dados que, cruzados, nos dão da realidade uma imagem que a não esgota... incorre-se assim, cada vez mais, em resultado de uma globalização que se pretendeu transparente, no risco de tornarmos mais opaca a verdade e de ficarmos cada vez mais alienados de representações que são construídas intencionalmente com objectivos obscuros que se podem resumir na percepção dos fenómenos de manipulação da opinião pública de que podemos escapar, quase paradoxalmente, através da ficção. Há pouco tempo citei aqui uma das frases importantes da obra de Aravind Adiga "O Tigre Branco" (ed. Presença), uma das obras que considero, nos dias que correm, ter o poder de nos devolver à realidade... Entretanto, hoje, lembrei-me de um outro livro fascinante pela autenticidade narrativa com que foi escrito e que transparece à leitura. Trata-se de: "O Menino de Cabul" de Khaled Hosseini, editado pela Relógio d'Água, já há uns anos (2005). O primeiro tem como cenário a Índia e o segundo o Afeganistão... e se ambos nos aproximam de realidades culturais diversas, ambos nos permitem, pelo distanciamento que os seus contextos imprimem à nossa leitura, uma aproximação valiosa ao mundo dos cidadãos de outros lugares que, na informação mediática que conhecemos, nos são dados como lugares onde valores e práticas nos parecem formas alheias à nossa visão do mundo... mas que, afinal, nos devolvem a imagem do que somos como indivíduos integrados em sociedades que nos moldam... muito mais iguais, muito mais compreensíveis, muito mais racionalmente próximos uns dos outros, filhos todos de uma mesma Humanidade que, por todo o lado, a lógica do poder determina e manipula, alheia, ela sim, à justiça, à equidade e à verdade, deixando-nos reféns de representações de um mundo ideal que permanece aí mesmo, no mundo das ideias, como mero referencial de acção e de luta.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Recomeçar...


... porque Março é um bom mês para reeditar a esperança... porque o tempo de recomeçar é sempre o tempo certo e Março pode ser, para muitos, o tempo de recomeçar sobre o que se perdeu e para outros tantos, o tempo de iniciar tudo o que há por construir... porque, afinal de contas, a vida é o eterno recomeço...