quarta-feira, 19 de maio de 2010

Do Primeiro-Ministro aos Banqueiros e da Oposição ao PE


Demagogia e falta de escrúpulos caminham, excessivas vezes, de mãos dadas e subjaz-lhes, sempre!, uma total falta de bom-senso! Nada disto seria grave se não afectasse, de facto, os interesses do país e dos cidadãos mas, em verdade se diga: afecta!... afecta e agrava a confiança das pessoas, dos mercados e, consequentemente, a economia nacional. Depois da entrevista que o Primeiro-Ministro deu ontem à RTP 1, onde se reconheceu a determinação e a consistência da governação por si liderada vieram hoje os banqueiros deitar "gasolina na fogueira" suportando as declarações de F.Ulrich (que diz estar para breve a intervenção do FMI em Portugal!!!) com uma manifesta ausência de sentido de responsabilidade social, alardeando que as pessoas vão viver pior (grande novidade!!), ignorando e branqueando completamente a culpa da lógica dos mercados financeiros e do liberalismo "sem peias" na eclosão de uma crise que não pára de crescer desde 2007. Ao invés destas "lágrimas de crocodilo" desejável seria ter ouvido que iriam colaborar no esforço colectivo dos portugueses e dos europeus, baixando ou eliminando "spreads", taxas de juros ou anunciando novos mecanismos de negociação de créditos/débitos no activo!... mas, não! É muito mais fácil puxar fogo "à palha" e assumir um grau de vitimização ridículo aos olhos dos cidadãos que respiram de alívio por não serem eles os governantes! E no âmbito da referência à entrevista de José Sócrates, ontem, dela registo apenas 2 notas, a saber: 1- o facto de terem insistido no pedido de desculpas do PM aos portugueses por contrariar o propósito eleitoral de não subir os impostos; 2 - o facto de, em comentário na RTPN, Morais Sarmento, ter dito que não iria haver eleições este ano porque José Sócrates manifestara claramente que não iria abandonar o Governo. Pois bem! O facto é que só faria sentido tal pedido de desculpas se a medida decorresse não das exigências europeias que se colocam ao país mas, apenas de uma decisão pessoal ou corporativa; quanto às afirmações de M.Sarmento, é curioso constatar como a esforçada "habilidade" política do seu argumentário revela a ansiedade de governação do PSD, ao expôr o que nunca foi claro senão para este partido ou seja, que José Sócrates tencionaria interromper o seu mandato. A acentuar este nervosismo do PSD, conhecemos hoje a intervenção do agitador eurodeputado Paulo Rangel que, mais uma vez, se lembrou de ir estimular a intriga no espaço europeu, tentando reactivar a desconfiança dos mercados, contrariando a lógica de maturidade política, solidária e coerente, dos restantes Estados-membros do Parlamento Europeu. Depois de tudo isto, a apresentação na AR de uma moção de censura do PCP ao Governo, na próxima 6ªf, e as posturas de "dividir para reinar" que se vão fazendo ouvir, levam-nos a pensar que, na realidade, os anseios corporativos se continuam a sobrepôr, inquestionavelmente, ao interesse nacional. Nenhuma destas afirmações contraria ou negligencia a consciência da gravidade dos problemas, designadamente, o do drama do assustador número de desempregados com que Portugal se confronta! Pelo contrário! É a consciência da gravidade da situação que apela ao esforço de todos no sentido de criar ou colaborar para que sejam criadas condições de resolução dos problemas, de forma crítica mas, efectivamente, construtiva e eficiente!... mas, quando se chega a este ponto da discussão, as alternativas do PSD esgotam-se no pouco criativo apelo ao reforço dos mecanismos liberais que nos conduziram à crise e, no que respeita às do PCP e do BE, está por provar e demonstrar que têm, de facto, propostas viáveis que se não reduzem à simples indicação de apenas algumas mudanças táticas ou estratégicas que, em pouco, ajudariam a debelar as dificuldades que caracterizam o quadro real da economia portuguesa. Nos tempos que correm o que os portugueses exigem aos políticos é... trabalho!... estudar, propôr, negociar, reformular e voltar a negociar, sem desistências ou atitudes cegas de pura negação seja da realidade, seja, gratuitamente, de todas as propostas que sejam apresentadas sem ser pelos próprios!

13 comentários:

  1. Subscrevo totalmente. Parabéns pela lucidez.

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  2. TICKET deixou um novo comentário na sua mensagem "Do Primeiro-Ministro aos Banqueiros e da Oposição ...":

    Subscrevo totalmente. Parabéns pela lucidez.

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  3. Caro TICKET,

    Ao tentar editar o comentário que gentilmente aqui veio partilhar, recebi uma mensagem de erro (ocorrido na publicação) que não consegui resolver; por isso, copiei-o e, como vê, a sua edição aparece como sendo minha... Lamentando o lapso que explica o que aconteceu, cabe-me agora agradecer-lhe, sinceramente!, as suas palavras que muito me honram. Volte sempre!
    Um abraço.

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  4. Quanto aos banqueiros, estamos de acordo.Para além das doutrinas económicas e em qualquer parte do mundo,portam-se sistematicamente assim.São matreiros,grupais e apátridas tal como é próprio da natureza e dos (seus)interesses do capital que defendem,pelo que é preciso que o poder político, não se iluda e espante com o que fazem e lhe dê rédea curta,luta constante.
    Acumularam demasiados poderes nos tempos que correm sobrando-lhe...a falta da prática de uma nova ética de responsabilidade universal e humana.O Madof enganou (n)o mundo inteiro,os bancos americanos idem.

    Já quanto ao primeiro ministro,parece-me poder também dizer-se que se tudo mudou --no clima internacional-- em seu redor,não se percebe bem porque é que aparece tão ferozmente apegado à sua própria visão... de não ter mudado mais cedo porventura com uma diferente visão estratégica.
    Andamos todos assim tão ingénuos e subitamente desprevenidos? O mundo é assim tão politicamente imprevisto? Ou são as Opções verdadeiras que são mais dificeis?

    Quanto à liderança política como qualquer líder politico o fará, capturou-a pelo voto e deve exercê-la. Em democracia é assim até funcionar a lei da alternãncia do poder.
    Pois bem, mas há que olhar atentamente para o desassossego profundo em que vivemos.E claro, exercer o poder mais como estadista do que como chefe de mais um governo.Afinal,o País que somos em momentos certos,MERECE TUDO e de todas as partes (com menos palavras e mais lucidez histórica) ou não?

    ANB

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  5. Caro TICKET,
    Afinal, há poucos minutos, o seu comentário entrou sem problemas :)
    Reiterando o meu agradecimento pela transparência das suas palavras, renovo os votos de: Volte Sempre :)
    Um abraço.

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  6. Caro ANB,
    Receba o meu sincero agradecimento pela partilha da reflexão que aqui regista e que a complexidade político-económica actual justifica. De facto, o problema da previsibilidade política encontra-se "enfeudado" ao "jogo de interesses estratégicos" dos mercados que, raramente, é compaginável com os dos cidadãos e até com os das economias e Governos nacionais - como aliás, neste caso, é evidente... e este é um dos problemas com que se debatem as democracias ocidentais a que, por razões económico-sociais, é preciso responder.
    Um abraço.

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  7. Sugestão: Por os Bancos a pagar a taxa de imposto igual aos outros...

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  8. Cara Ana,

    Concordo com algumas das suas reflexões e partilho a sua preocupação. Tenho vindo aqui, esporadicamente, mas hoje decidi deixar este comentário, pois parece injusta (ou mal informada) a parte em que afirma "no que respeita às do PCP e do BE, está por provar e demonstrar que têm, de facto, propostas viáveis que se não reduzem à simples indicação de apenas algumas mudanças táticas ou estratégicas que, em pouco, ajudariam a debelar as dificuldades que caracterizam o quadro real da economia portuguesa". Aconselho-a a ler o ultimo estudo do Eugénio Rosa e pergunto-lhe, seriam ou não uma boa base de discussão em sede de Concertação Económica e Social? Porque não funciona a Concertação Económica? Sobre a viabilidade dessas propostas não sei comentar. Sei apenas que se inserem numa orientação política diferente à qual Lula da Silva chama de "ciclo virtuoso de desenvolvimento"...

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  9. Olá Voz a 0 DB :)
    ... já por cá se sentia a falta da sua reflexão partilhada! Obrigado!
    Subscrevendo por inteiro a sua observação, vale a pena registarmos que, hoje mesmo, Angela Merkel lançou nova taxa sobre os lucros dos bancos -medida que obteve o apoio da Com.Europeia... assim todos tenham a coragem de imitar os bons exemplos (que, claro está!, será sempre proporcionalmente escasso... contudo, trata-se inequivocamente de uma boa medida).
    Abraço :)

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  10. Caro Rogério,
    Sinceramente, é "de coração" que agradeço as suas palavras... porque não gosto de ser injusta e, designadamente no caso do PCP, é verdade que as teses defendidas raramente têm o eco mediático necessário a que possam ser ouvidas de tal modo que contribuam efectivamente para formar a opinião pública (tanto mais que a sua divulgação apenas em orgãos de comunicação social próprios é altamente redutora)... mas, também deixo aberta a possibilidade das propostas do BE serem mais consistentes do que se conhece... em ambos os casos, porém, para além de preocupações multifactoriais que retirem às suas propostas o cunho demagógico, é fundamental que sejam encontrados meios de maior visibilidade das mesmas em nome da sua credibilidade. quanto ao estudo de Eugénio Rosa, deixe que lhe diga Rogério: tenho a maior consideração por todo o trabalho do Eugénio Rosa que muito admiro e não exagero se lhe disser que gostaria que pudesse ter o protagonismo que a tantos é dado sem razão enquanto consultor, comentador e "expert" económico do país. Quanto ao seu último estudo como documento-base para a discussão em sede de Concertação Social e Económica, aí está uma proposta séria que eu subscrevo sem reservas!
    Reiterando o meu agradecimento pelo útil e precioso contributo que aqui partilha, receba o meu abraço amigo.

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  11. Não interessa (mas até interessa!) se são "só" mais umas centenas de milhões de euros de impostos que entram nas contas do Orçamento via Bancos... é especialmente uma questão de acabar com certos e determinados privilégios que inundam o nosso País. O triste é que nunca vi Portugal a discutir a forma de se atingir um orçamento sem défice... discutem sempre como ter um orçamento abaixo de 3% de défice... Está tudo completamente tolo! Ou, provavelmente até não... pois esta situação há-de convir a alguém!

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  12. Bom, Cara Ana, só temos então uma tarefa urgênte a concretizar: fazer com que a a Concertação Económica e Social funcione.

    Não, espere, temos sim duas tarefas urgêntes: a anterior mais a que fará com que todos entrem lá com atitude de resolver problemas nacionais.

    Ops! Desculpe! Pensando bem, afinal não são duas mas sim três: as duas anteriores mais a de nos batermos pela realização de políticas que visem o desenvolvimento económico dentro do espírito do 3º dos três Ds que constavam do Manifesto do MFA.

    Bolas! Eu não consigo parar, é que não são 3, mas sim 4 as tarefas urgêntes: some às anteriores a tarefa de "obrigar" a imprensa de referência a não esconder nem a distorcer as mensagens de todas as forças que configuram as opções eleitorais assumidas povo português...

    Temos muito que fazer, né?

    Claro que conto consigo...

    Abraço

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  13. Uma, duas, três, quatro tarefas... prioritárias!
    Obrigado por contar comigo :)
    Vamos a isso...
    Abraço

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