quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um outro olhar iraniano...


Emocionante é a palavra certa para definir a entrevista que podem ler AQUI e que considero importante partilhar... Um olhar sobre a autenticidade da arte e da pertinência do sentido com que o cinema pode iluminar a realidade para além da intenção ficcional de um argumento. O entrevistado é Abbas Kiarostami, o tema da entrevista o seu filme "Shiri" e as suas palavras dão rosto à complexidade de questões tão diversas como é o caso da vivência relacional entre homens e mulheres em sociedades politicamente fechadas e socio-culturalmente segregatórias, o amor, as emoções, o entendimento, as mulheres, a vida e o mundo... Abbas Kiarostami é genial no que me atrevo a designar por um modo alegórico próprio de dizer intensamente a verdade da realidade que pretende enunciar... por tudo isto e pelo que a leitura vos suscitar, vale mesmo a pena ler.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Da Economia e Da Ideologia, Hoje...

A fragilidade dos mercados face à crise económico-financeira que desabou sobre o mundo ocidental há cerca de um ano e cujos efeitos persistem, designadamente na desestruturação das economias nacionais com maior défice público e maior grau de endividamento externo, conduziu os países mais ricos, associados no G20 e reunidos na Cimeira de Toronto (Canadá) com o objectivo de prevenir e evitar novas reedições dos mais graves cenários das crises financeiras, a determinar a concertação para a redução comum dos défices e a aplicação de uma taxa fiscal bancária - a definir por cada Estado (ver Aqui). Apesar de todas as consequências dramáticas em que a decisão se multiplicará ao nível do investimento e do empreendorismo e consequentemente, das dinâmicas empresariais e do desemprego, esta decisão é o sinal e o exemplo maior do reconhecimento do grau de risco social e político-económico que a desestabilização financeira dos mercados implica no que se refere à arquitectura social dos Estados. Os factos revelam, antes de mais, de forma inequívoca, a falência social do modelo político-económico e financeiro que assenta na completa liberalização dos mercados. Por isso, agora, o mundo está a organizar contabilisticamente a forma de pagar a factura por uma opção ideológica que, radicando no século XIX, teve um desenvolvimento decisivo na segunda metade do século XX quando tal opção foi levada ao extremo, no climax de uma euforia de movimento de capitais que a lógica do lucro tratou, simplificadamente, de duas formas: não reconhecendo sinais de desgaste e declínio e perspectivando como solução para os problemas emergentes a continuidade da abertura e da persistência no incremento da liberalização dos mercados. Consequentemente, o desemprego nas sociedades europeias está aí para, pelo menos no médio prazo, ficar. A gravidade do problema é, contudo, mais vasta porque sempre que o dramatismo deste cenário social sofrer diminuições atenuantes, a propaganda e o marketing irão envolvê-lo em estratégias de manipulação de massas de conhecida demagogia, capazes de justificar a opção ideológica neo-liberal... até ao esgotamento da capacidade de resistência das populações cujo grau de empobrecimento diminuirá, seguramente, a respectiva resiliência. O grau de sofisticação tecnológica que se pretende continuar a introduzir nos processos produtivos, a par da globalização centralizada das redes de comercialização e distribuição e a praticamente irreversível reconversão dos aparelhos produtivos nacionais, constituem os 3 vectores de uma gestão ideológico-política que condiciona toda a mudança imperativa no funcionamento económico para que as sociedades democráticas que conhecemos não colapsem ao peso da pobreza e da exclusão social. Por tudo isto, quando analisamos os programas, as prioridades e os argumentários políticos do espectro partidário nacional, ficamos, justamente, com a percepção de que a própria política está esvaziada de sentido, convertida numa espécie de manual de gestão corrente de consumos domésticos... e para além de tudo o que, sobre cada um se poderia agora dizer, registo apenas o quão extraordinário é ver como o PSD insiste e persiste, apesar dos apregoados tempos de mudança levados a cabo pela sua nova direcção, na defesa intransigente dos princípios da redução da acção do Estado e do reforço da liberalização dos mercados (ver Aqui) como se estivesse perante uma mensagem ou proposta inovadora, capaz de garantir a salvação nacional.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Leituras Cruzadas...

Enquanto se olha o mar e se descansa a alma da turva lógica em que assenta a realidade nacional, com a qual se vai adiando a maturidade da consciência e a urgência da intervenção (vale a pena ter em atenção os resultados do recente estudo sobre a pobreza divulgado aqui e aqui) , o pesadelo é saber que o regresso ao horizonte comum dos dias, apesar da persistente busca de apontamentos e sinais que nos re-centrem ao menos pragmaticamente, reencontrará apenas o eco e a repetição do que nos habituámos a ter como quotidiano ou seja, a capacidade nacional de trocar o importante pelo efémero e de confundir informação com opinião... felizmente, não demitidos da capacidade de pensar, resta-nos constatar que ainda se vão escrevendo bons textos denunciadores deste carácter precário da nossa lusitana forma de encarar o tempo e os factos (vale a pena ler os textos de João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas, de JM Correia-Pinto no Politeia, de João Ricardo Vasconcelos no Activismo de Sofá, de João Abel de Freitas no PuxaPalavra e de Filipe Tourais no O País do Burro)... contudo, da dita "lusitana forma de agir e pensar" continuamos a ter maus exemplos insistentes e assentes em discutíveis práticas que, da nossa presumida competência para avaliar e sustentar decisões, continuam a deixar muito a desejar como podemos verificar através de alguns casos que marcam este final de Junho (leiam-se os textos de Rui Bebiano no A Terceira Noite e de A.C.Valera no Irrealidade Prodigiosa)... e da articulação entre os primeiros 6 textos sugeridos e os 2 últimos, concluimos que, no fundo, continuamos no "ponto zero" do re-pensar e reformular a lógica dominante da gestão socio-política e científico-cultural que o próprio século passado já demonstrara disfuncional e carente de reestruturação... que mais não seja por, como bem se diz no Outros Cadernos de Saramago: "Uma Questão de Humanidade"!

Pessoas Sem-Abrigo - uma versão musicada...


... são histórias da cidade... pequenos instântaneos de pessoas sem abrigo, com pouco abrigo, de muitos ou nenhuns amigos... histórias de cidadãos... olhados ao som de "Lisboa não é a cidade perfeita" dos Deolinda.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ainda as Palavras...


Junto ao mar, onde existem ninhos de gaivota com filhotes saltitando, trémulos, na areia morna e branca do fim de tarde, descanso os olhos no horizonte (razão pela qual não tenho respondido aos meus amigos e comentadores que sei compreensivos e tolerantes!), enquanto releio e retenho mais umas palavras de José Saramago:

"O capitalismo que se apresenta como uma panaceia, um processo de salvação da humanidade, não promete nada, não faz promessas; anuncia, isso sim, que está tudo ao alcance das pessoas (...) por isso, como não promete, não decepciona. A tragédia do socialismo é precisamente essa: não cumprindo o que prometera de facto, decepciona muito mais..." (1991);
"A democracia ocupou o lugar de Deus.(...) O poder real não está nos palácios dos governos: encontra-se, sim, nos conselhos de administração das multinacionais que decidem a nossa vida.(...)" (2004);
"O comunismo é um estado de espírito." (2008).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Estradas sem Socorro...


Chocante, a notícia veio inesperadamente num regime democrático onde o bem-estar e a segurança dos cidadãos deve ser prioritária: a Estradas de Portugal decidiu desactivar os postos SOS que, ao longo de quilómetros que podem ser quase desérticos, permitiam a acidentados ou outros cidadãos em risco, pedir ajuda... o que podemos dizer?... que o mundo empresarial continua sem merecer o nosso incondicional respeito?!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dizer a Vida... em 3 Frases



"Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e, se acontece, há que recebê-lo." (J.Saramago)


"Dizer «Não ao Desemprego» é travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de pessoas." (J.Saramago)



"Creio que a morte é a inventora de Deus. Se fossemos imortais, não teriamos nenhum motivo para inventar um Deus. Para quê? Nunca o conheceriamos." (J.Saramago)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Unidos por Portugal...


A extraordinária goleada que a Selecção Portuguesa apresentou hoje no Munidal da África do Sul, perante uma Coreia do Norte que ainda deve estar a tentar perceber o que lhe aconteceu, merece o nosso sentido e vibrante aplauso... pela capacidade de uma equipa que, colectivamente e sem vaidades, jogou unida, solidária e confiante, enfrentando, sem medo, a baliza e as oportunidades de golo! ... Não sei se foi a cunha de Saramago quem, desta vez, estendeu a dita "mão de Deus" mas, depois da FIFA não ter deixado que os Navegadores se associassem à homenagem do mundo a José Saramago, o grande prémio que nos deram foi esta esmagadora e lindissima vitória em que a maioria dos jogadores portugueses se estreou neste Mundial, marcando 7 golos que dão, praticamente!, uma média de 1 golo por cada 13 dos 90m que fazem uma partida! Em frente, Selecção!... com a concentração, a humildade e o jogo integrado e colectivo de que hoje deram mostras! Unidos por Portugal... vamos lá!

sábado, 19 de junho de 2010

Para o Coração Português de José Saramago...



"Uma Flor de Verde Pinho

Eu podia chamar-te pátria minha
dar-te o mais lindo nome português
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo
que não há taça amor para este vinho
não há guitarra nem cantar de amigo
não há flor não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo não há trevo
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração."

(Poema de Manuel Alegre
Música de José Niza)

A Dialéctica do "Não"... segundo José Saramago - Leituras Cruzadas - Especial


"Que bom ser ingénuo; que bom não ser cínico" - disse uma vez José Saramago a propósito das ignorantes e vergonhosas palavras de Sousa Lara, secretário de Estado do Governo que Cavaco Silva liderou como Primeiro-Ministro...

"A palavra mais importante é «Não»... dizem que é satânica porque Satã foi «o que negou»; eu digo que a palavra «Não» é a mais importante. A Revolução é Não, um Não contra o Status Quo... o problema é que as pessoas que dizem «Não» se deixam corromper e o «não» torna-se um «sim»; por isso, é importante que depois apareça outro «Não»..." - disse José Saramago de outra vez, explicando a densidade permanente da exigência ética do carácter e do combate cívico-político...

... e agora, se me permitem, sugiro-vos um percurso na blogosfera... é um itinerário de expressões de cultura e de afecto, de respeito e de identificação, de amizade e solidariedade que vale a pena fazer:

"Dia Não..." - de Osvaldo Castro in Carta a Garcia

"Porque terá chegado a Grande Sombra" - de Benjamina in Armazém de Pedacinhos

"Morre o Homem, Nasce a Eternidade" - de Valupi in Aspirina B

"Saramago, uma lágrima e uma flor" - de Rogério Pereira in Conversa Avinagrada

"José Saramago, por Manuel Gusmão" - de Tiago Mota Saraiva in Cinco Dias

"Saramago Morreu - A Minha Vida sem Pardais" - de Rogério da Costa Pereira in Jugular

"José Saramago - Falsa Democracia" - de Donatien Alphonse François in Donatien Alphonse François

"O Direito mais Fundamental" - de João Tunes in Água Lisa.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Dia da Morte de José Saramago




Morreu ao final da manhã de hoje, 6ª feira, 18 de Junho, o escritor José Saramago... por cá, em terras portuguesas, o sol voltou a esconder-se e o dia ficou um pouco mais frio. Faz sentido! José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, Escritor e Homem dito em maiúsculas, fez da sua obra e da sua vida um manifesto de liberdade reconhecido em todo o mundo. Ficamos mais pobres... e, por isso, mais tristes! Resta-nos a obra de enorme riqueza que estamos a tempo de re-descobrir e a memória de quem nunca calou a voz da consciência, da lucidez e de um infinito amor à vida! "Levantado do Chão" foi o primeiro livro que dele li... um livro que, apesar de tantos outros que ao longo da sua vida foi escrevendo e de que muito gostei, não esqueci, pela capacidade de dizer a terra e a alma, por tanto tempo calada, do Alentejo. José Saramago trazia na inteligência e nas mãos o entendimento dos silêncios do mundo. Obrigado, Saramago! Bem-hajas!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Tragédia de Burma


Ontem, pela primeira vez, vi o filme "Beyond Rangoon"... não posso, por isso, deixar de o referir. Com uma excelente interpretação de Patricia Arquette, o filme conta a história dos massacres ocorridos na capital da Birmânia, onde uma sangrenta ditadura militar continua a violar e ignorar todos os Direitos Humanos, castigando um povo pacífico cuja cultura se confronta com a necessidade de assumir uma luta sem tréguas que requer o ultrapassar do medo e uma coragem cívica extraordinária. Líder e exemplo mundial desse combate pelos Direitos Humanos, Aung San Su Kyi, laureada com o Prémio Nobel da Paz em 1991, vive em prisão domiciliária em Rangoon, capital de Burma (Birmânia), há, praticamente, 20 anos (ler também aqui e aqui). Documento imperdível da luta humana contra o poder das armas, pela reivindicação da democracia e da liberdade, o filme cujo título foi traduzido para português como "Rangoon", é uma celebração do amor à vida e do investimento sem reservas nas causas justas a que, cada vez mais, urge dar voz e rosto. Se ainda não viram, tentem ver... se já viram, vale sempre a pena rever.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Contra o fatalismo de um mundo desigual...


A Luta Contra a Pobreza é decisiva para a viabilidade do desenvolvimento sustentado... em todo o mundo! Dos países muito pobres e dos menos pobres... porque é uma evidência cada vez menos ocultável, apesar de toda a criação imagética da sociedade de consumo, globalizada e mediática, que são muitos os rostos da pobreza e que os pobres tendem a ficar mais pobres porque as crises económico-financeiras se abatem sobre os Estados, os países e as populações na proporção directa das suas capacidades de resistência aos seus efeitos. Hoje, a luta contra a pobreza é um problema multifactorial que, para além do assistencialismo urgente que é preciso reforçar junto dos que vivem a fome, a guerra, as secas e a exploração desenfreada de recursos naturais e humanos, requer uma intervenção integrada que dinamize de forma conjunta e simultânea, mecanismos de protecção e defesa do ambiente, sistemas de saúde, educação, economias e regras institucionais, políticas e financeiras. A Humanidade, hoje, luta contra si própria e não o entender é reduzir as possibilidades que as democracias e os Direitos Humanos conquistaram desde meados do tão recente século passado e agravar o risco e a taxa real de sobrevivência da espécie nas condições que reconhecemos como dignas, ou seja, justamente equitativas ao nível de uma coexistência social capaz de erradicar as formas de discriminação em que radica o pensamento e a cultura que sustentam a desigualdade e as políticas de liberalização absoluta de mercados, empregos e práticas que nos são apresentadas dogmaticamente como solução e prioridade acrítica, incontestada e incontornável.

domingo, 13 de junho de 2010

Sugestão...


... o prometido é devido! ... aqui fica, vbm!, María del Mar Bonet :)
Uma magnifíca voz catalã num tema lindissimo para um final de noite ou um dia feliz!

Da Sondagem sobre as Presidenciais...

Foi hoje divulgada a mais recente sondagem da Aximagem sobre as eleições presidenciais no jornal Correio da Manhã (ver aqui). A cerca de 7 meses de distância do acto eleitoral que elegerá o novo Presidente da República, os resultados denotam a visão tradicional da persistência da reeleição para o desempenho de um segundo mandato dos PR em exercício. Contudo, não considero que os resultados desta sondagem possa ser interpretado de forma linear já que, por um lado, as campanhas eleitorais ainda não estão no terreno, não tendo o actual PR sido confrontado com o discurso e o argumentário dos seus opositores, designadamente Manuel Alegre, que a mesma sondagem apresenta como segundo mais votado. A expectativa é grande e desse facto é sinal o quase silêncio que a blogosfera tem feito sobre os dados agora divulgados. Considerando as análises que já apareceram na blogosfera sobre a matéria, destaco a de Paulo Pedroso no Banco Corrido que nos permite equacionar a percentagem real que viabiliza a passagem à 2ª volta destas eleições que, na minha opinião, garantiria seguramente a vitória de Manuel Alegre. Outros contributos que reforçam esta perspectiva podem ser encontrados nos textos de Osvaldo Castro no Carta a Garcia e de Weber no Mainstreet. Como diria Jean-Paul Sartre, "os dados estão lançados". Vamos agora trabalhar para que os projectos e os perfis presidenciais que defendemos levem a bom porto as travessias que estamos a começar. Está tudo em aberto, como bem convém a uma democracia que se preza.

Caprichos contra o Direito - o caso da CPI


Pacheco Pereira já não sabe como obter credibilidade e hipoteca o seu partido a uma guerra que, no máximo, lhe valerá outra vitória de Pirro. A insistência em moldar as conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso TVI, levam o caprichoso deputado a violar a Constituição pela repetição capciosa de um argumento inválido, a saber a consideração e divulgação de "escutas" como elemento pró-probatório de um Relatório que, à falta de factos, quer ver redigido em termos impressivos e opinativos, ou seja, subjectivos. Para quem defende um Estado de Direito é claro o entendimento que dele resulta. Da inconstitucionalidade da consideração das "escutas" vale a pena ler aqui o que tem sido escrito e sobre a sua irrelevância para o processo considere-se o que pode ser lido aqui. O Direito não se combate com birras... resta-nos agora esperar para ver o que fará Passos Coelho com tão pouco!

Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade - Personalidades da Cultura Portuguesa

Personalidade incontornável e controversa como convém a todos os que, na História, deixam a sua marca, Álvaro Cunhal é uma referência política que arrastou paixões e ódios, tornando-se provavelmente uma das figuras da cultura portuguesa cuja obra o tempo se encarregará de denotar em termos de significado ético, político e cultural. Morreu faz hoje cinco anos e, no seu funeral, como tantas vezes na sua vida, esteve rodeado por milhares de portugueses.

Também há exactamente cinco anos, morreu Eugénio de Andrade, poeta maior da língua portuguesa, solidário e constantemente presente na vida do país em que viveu e onde medrou a sua obra intemporal.

sábado, 12 de junho de 2010

De Paris a Olivença, um itinerário europeu da Lusofonia


Ontem, uma rua de um espaço verde, em Paris, recebeu o nome de Amália Rodrigues (ler aqui)... pouco importa se o jardim é ou não muito frequentado (ler aqui) porque os tempos e os percursos da circulação se vão alterando mas, a toponímia, enquanto expressão da cultura e das interacções culturais, permanece... disso é testemunho o que aconteceu por estes dias em Olivença, onde 70 ruas receberam, sob as placas toponímicas actuais, novas placas que relembram à memória colectiva, os antigos nomes portugueses dessas ruas (ler aqui), num esforço renovado de consolidação da identidade cultural local que também encontra eco no facto da língua portuguesa ter sido adoptada como 2ª língua da Extremadura espanhola, sendo já, em Olivença, objecto de estudo de 400 alunos. A este propósito e porque escrevi aqui mesmo, há dias, um texto em que Olivença vinha a "talhe de foice" (ler aqui), cabe lembrar que o problema territorial continua por resolver no plano do Direito Internacional, uma vez que, hoje mesmo, no Diário de Notícias, uma pequena "breve" reproduzia as afirmações de Nick Clegg que, recém-chegado ao poder no Reino Unido, afirmou que o seu Governo, liderado por por David Cameron, irá manter a soberania sobre Gibraltar, tal como decorre do Tratado de Utrecht, antecipando-se à eventualidade de Espanha interrogar o actual executivo britânico sobre a matéria - já que, de há muito, nuestros hermanos afirmam avançar com a reivindicação do território no caso de Londres renunciar à respectiva soberania.
Nota: A fotografia é a capa do livro que resultou da adaptação da minha tese de Doutoramento, intitulada: "Continuidade Cultural e Mudança Social - Um Estudo Etnológico Comparado entre Juromenha e Olivença", defendida, em 2005, na Universidade Nova de Lisboa. O livro foi publicado, com prefácio do meu orientador Professor Doutor Armindo dos Santos, em 2007, pelas edições Colibri e na sua apresentação pública, decorrida no Instituto de Estudos Diplomáticos do MNE, contou com as intervenções do Senhor General Loureiro dos Santos e do Presidente do Instituto, Professor Doutor Marques Guedes.

J.Céu e Silva sobre Álvaro Cunhal no DN - Surpresas do Jornalismo


Hoje, no DN-Gente, o jornalista João Céu e Silva, publicou um trabalho de referência intitulado:

"Especial - Álvaro Cunhal - 1913-2005 - O Que Ficou Cinco Anos Depois".

Este trabalho pode ser lido AQUI mas, vale a pena ler a sua versão impressa.

215 Milhões...





Hoje assinala-se o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil... porque há 215 milhões de crianças em todo o mundo a ser exploradas diariamente! ... e porque está a decorrer no continente africano o Mundial de Futebol, escolhi um texto publicado em Angola contra este flagelo que pode ser lido Aqui.
A urgência do combate à pobreza, ao tráfico e à exploração de crianças é o indicador maior da capacidade humana de investir, de facto!, na luta pelos Direitos Humanos e o verdadeiro sinal político de que estamos, mundialmente!, empenhados em construir sociedades mais justas! Enquanto houver uma criança explorada, todo o trabalho estará por fazer... e, neste momento, são, pelo menos, 215 milhões!

Leituras Cruzadas - Especial 25 anos de Europa...

Estão a celebrar-se 25 anos de integração europeia... e, se olhando os tempos que correm, ficamos perplexos na avaliação a que a crise já longa que atravessamos, nos conduz, perante o impasse que se nos coloca ao pensarmos o isolamento que implicaria não pertencer à União Europeia e às dificuldades que uma hipotética saída do euro arrastaria, resta-nos, como caminho, exigir a reforma profundissima das políticas comunitárias e a criação de efectivas condições que garantam uma maior e mais equitativa integração de todos os Estados-membros. Pode talvez ser impossível dado o peso e a tentação de auto-defesa dos mais ricos que, contudo, denotaria uma violação dessa igualdade pressuposta regulamentarmente pelos Tratados pelo exercício de um proteccionismo que se esgota na continuidade selvagem do liberalismo capitalismo mas, é, sem dúvida, a única esperança de sustentabilidade para que as democracias europeias tal como as conhecemos, politicamente. Vale, por isso, a pena, ler alguns textos de autor que, não se referindo directamente à efeméride, denotam o "estado de espírito" da inteligência crítica portuguesa e permitem "sentir o pulso" real do "estado da arte", 25 anos depois da adesão:
Nuno Ramos de Almeida no Cinco Dias
Fernando Cardoso no Ayyapa Express
José Simões no Der Terrorist

Sons Femininos...


... Hoje,
"Piensa em mi" cantado por Luz Casal no filme "Saltos Altos" (Tacones Lejanos) de Pedro Almodovar
e
"Canción de las Simples Cosas" cantado por Mercedes Sosa... testemunhos vocais do que permanece para além da temporalidade, expressão dessa singularidade universal que encontramos reflectida na própria intergeracionalidade...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Da Flexibilidade Laboral à Economia Nacional...

Há dias, no habitual frente-a-frente que o Jornal da Noite da SIC-N apresenta sob a tutela de Mário Crespo, Miguel Relvas demonstrou claramente que a posição defendida pela nova direcção do PSD face às questões do desemprego, do crescimento económico e da criação de emprego nada acrescentam ou alteram relativamente ao que a Dra.Manuela Ferreira Leite defendeu. Furioso com as observações avisadas sobre o problema que Bernardino Soares lhe ia colocando, no exercício de um contraditório que a realidade sustenta, Miguel Relvas defendeu mais alterações ao código laboral, afirmando sem reservas a velha solução liberal assente no legitimar de maior flexibilidade e maior mobilidade. Sem resposta aos argumentos do seu intrlocutor que lhe chamava a atenção para o efectivo significado da chamada "flexibilização" no contexto de uma economia sem postos de trabalho, a pretexto de uma pretensa mobilidade profissional inútil e ineficaz que decorre do défice de empregos disponíveis, para além da teimosia cega e surda de quem não tem um pensamento inovador, crítico e criativo sobre a matéria, Miguel Relvas acabou por ver as suas afirmações reduzidas "ad absurdum" na sequência dessa persistência lógica imune à verdade dos factos, na feliz dedução aristotélica de Bernardino Soares que acabou por extrapolar da argumentação do seu interlocutor sobre a vantagem de uma completa precariedade laboral ao desemprego, a seguinte afirmação: "(...) pois... também é preferível o desemprego à escravatura(...)", acrescentando: "(...) isso é política de terra queimada(...)". A demagogia grosseira e insensível das medidas propostas pelo PSD tem aliás eco numa crítica alargada que, entre outros, Manuel Alegre fez a propósito do discurso do Presidente da República que irresponsavelmente e sem sentido de Estado, resolveu declarar que a situação do país é "insustentável"! Não só porque, por um lado, o próprio FMI considerou inviáveis as políticas praticadas pela União Europeia (ler AQUI) em cujo contexto foi defendida e levada à prática a evocada flexibilidade, como, por outro lado, tal como refere Paulo Pedroso no Banco Corrido, o nosso país é o que, segundo a OCDE, maior flexibilidade adoptou nas últimas décadas... Entre oPSD e o discurso de Cavaco Silva no 10 de Junho, a sintonia é total mas, obviamente!, contrária aos interesses da economia portuguesa e das condições de vida dos portugueses! Moral da história: a situação é, ainda, por tudo isto, de estagnação e o melhor que o maior partido da oposição nos oferece, no meio das dificuldades com que nos defrontamos, é uma proposta de agravamento dessas dificuldades! Estamos, de novo, esclarecidos!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Luzes da Ribalta



... com um abraço sincero, agradecido e sentido, a todos os amigos, comentadores, seguidores e outros leitores.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Da Responsabilidade da Educação e da Irresponsabilidade dos Jornais

O texto que se segue, foi publicado por mim, hoje, com base na notícia do jornal Público de ontem, dia 8, para a qual fiz link no post que aqui publiquei ontem. Hoje, dia 9, depois da publicação do presente post, fui alertada para a incompletude e incorrecção da notícia que propiciou o meu "erro de paralaxe" na interpretação da mesma, pela Joana Lopes do Brumas da Memória (leia-se o seu comentário na caixa abaixo). Posteriormente, verifiquei no Jornal de Notícias (ler AQUI) a informação que descreve o que, de facto, vai ocorrer em Aveiro. Ponderei a retirada deste post mas, com um pedido para a vossa melhor compreensão pelo lamentável equívoco que lhe deu origem, mantenho-o a título de exemplificação ilustrada da importância que a comunicação social pode significar para a justeza, objectividade, erros e equívocos em que induz a formação da opinião pública - até porque, sendo uma polémica que se prolonga desde Maio, nada justifica que o Público tenha publicado ontem uma notícia tão evasiva. Finalmente, refira-se que os esclarecimentos que, hoje, foram claramente explicitados designadamente pelo Jornal de Notícias deveriam ter sido publicados em tempo útil para evitar estes episódios desagradáveis... Alterado fica, a partir deste momento, para que o post seja lido nos termos que o justificam, o título do mesmo.
O olhar, seja visual ou intelectual, incorre, por vezes, em erros que, na Física, se designam por "erros de paralaxe". Perdoem-me por isso alguns amigos por quem nutro elevada consideração e de quem gosto (ver aqui, aqui, aqui e aqui), as observações que, neste apontamento, teço, desinteressadamente e de boa-fé, ainda a propósito do desfile escolar de 1200 crianças do pré-escolar e do 1º ciclo, fardadas à imagem da Mocidade Portuguesa que, hoje, decorre em Aveiro e sobre o qual ontem aqui escrevi. Compreendo que alguns livres-pensadores cedam à tentação de considerar que a evocação da memória histórica é, sempre e independentemente do contexto em que decorre, válida "per si", sem que lhes ocorra que a interpretação dos seus protagonistas possa divergir de forma radical da que presumem, em abstracto, poder resultar de tal evocação. Vejamos: crianças em idade pré-escolar e nos primeiros anos da sua escolaridade não podem, por natureza do estádio de desenvolvimento cognitivo possibilitado pelos escalões etários que integram, perspectivar criticamente o desempenho simbólico de evocações históricas complexas como as que são inerentes aos fundamentos organizacionais da Mocidade Portuguesa. Além disso, um desfile de 1200 crianças não é uma peça de teatro designadamente porque, por um lado, não tem texto orientador e esclarecedor da mensagem significada pela reprodução formal e imagética que o simples desfilar no espaço público materializa e porque, por outro lado, o desfile não decorre num contexto cénico elucidativo do sentido que o justifica. Acrescem a estes dados, dois outros que considero não deverem ser minimizados. Refiro-me, em primeiro lugar, ao próprio imaginário de tão pequenas crianças (porque não estamos a falar de pessoas adolescentes ou jovens que possam integrar a representação no estudo da História política do país e/ou da Europa) que, mimetizando uma manifestação de massas, estão mais vocacionados para apreciar o efeito social que causam no espaço público da cidade, fardados e integrados/protegidos pelo anonimato colectivo de um imenso grupo que se impõe pela homogeneidade de comportamentos e se constitui como motivo de regozijo. Desta auto-representação do desempenho infantil podem aliás resultar, ao contrário do que alguns adultos supõem, sérios contributos para a configuração de juízos de autoridade moral e de imposição de práticas, legitimados pela tutela dos adultos - questão que não é negligenciável em sociedades que se defrontam com crises problemáticas de autoridade inter-geracional e com a emergência de fenómenos de violência que vão do bullying a determinadas manifestações de grupo como algumas claques desportivas ou como expressão política de revoltas juvenis. Em segundo lugar, chamo a atenção para a formação de professores e para os quadros conceptuais do ensino que, nos nossos dias, caracterizam a instituição escolar a qual, agrade ou não às famílias, aos cidadãos, aos políticos ou aos profissionais, se defronta com problemas endógenos muito mais sérios, do ponto de vista científico e didáctico-pedagógico, do que todos gostariamos. De facto, quem conhece o mundo escolar dos nossos dias, com todas as suas preocupações e com as efectivas condições científico-pedagógicas em que se desenvolve o seu trabalho, sabe que uma decisão desta natureza (optar por um desfile da Mocidade Portuguesa cuja saudação -relembre-se!- reproduz a saudação nazi!!!) decorre muito mais de uma visão lúdica de entretenimento que recorre a uma memória histórica de fácil reprodução, poucos custos e alto grau de mediatização, do que de preocupações de não branqueamento da História. A análise profunda do que este evento significa pode e deve ir muito mais longe do que o simples enunciado de questões que aqui afloro mas, para já, fico por aqui, lembrando apenas que a peça central do processo educativo são as crianças e não os adultos, pais, familiares, professores ou outros; por isso, as preocupações pedagógicas na administração do conhecimento requerem elevado sentido de responsabilidade social e não podem estar sujeitas a brincadeiras de adultos que manipulam, de forma pouco conscienciosa a própria História, sem a exigível seriedade implicada pelo apoio permanentemente consciente, indispensável ao desenvolvimento socio-cognitivo das crianças.
(O parágrafo inicial deste post foi redigido posteriormente à sua publicação inicial)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Andam a querer educar a Mocidade????




Fiquei incrédula perante uma notícia que, entre outros, o Arrastão e o Crónicas do Rochedo, divulgaram e comentaram. Encontrei-a Aqui. Não compreendo!... mais: além de não compreender, tenho dificuldade em aceitar! A decisão de um agrupamento de escolas de Aveiro em vestir 1200 crianças, frequentadoras de 4 jardins-de-infância e de 5 escolas do 1º Ciclo, com roupas que simulam a indumentária da Mocidade Portuguesa é, além de contrária ao espírito da escola republicana, anti-pedagógica no contexto de uma escola democrática que deveria desenvolver as competências cívicas dos mais novos. De facto, entre tantos episódios que caracterizaram a vida pública e a comunidade escolar ao longo dos últimos 100 anos, é, no mínimo, caricata, a opção por esta ilustração histórica claramente associada ao espírito da obediência acrítica, próprio das ditaduras e de uma ordem de pendor militarizado que, em tudo, contraria o que hoje reconhecemos como válido para o desenvolvimento cognitivo e socio-intelectual das crianças. Porquê? Com que significado? Com que objectivos? - eis as questões que se nos colocam... de qualquer modo, deixo a sugestão: para se inspirarem comecem, por favor, por ler "Liberdade sem Medo" de A.S.Neill, publicado em 1963 e ainda hoje, obra-prima da pedagogia internacional... porque, por favor!, o papel dos adultos é acompanhar o crescimento dos mais jovens!

Contra a Injustiça...


O nosso amigo Rogério Pereira disponibilizou no seu Conversa Avinagrada o Selo "Avinagrar a (In)Justiça" que muito nos honra, não só por sermos considerardos dignos de o receber mas, também, por contribuirmos para a sua divulgação... Obrigado, Rogério! Faremos por o merecer!

domingo, 6 de junho de 2010

Da insustentável leveza política do Dr. Fernando Nobre


Hoje, na TVI, li, por várias vezes, em nota de rodapé, a referência à prioridade que Fernando Nobre diz pretender dar à agricultura, posteriormente referida como um dos seus 10 "desígnios". Para além de vir a ser interessante perceber como pensa uma sua hipotética forma de intervenção na matéria, considerando que a função governativa não integra as competências da Presidência da República, quero apenas, nestas linhas, chamar a atenção para algumas das afirmações deste candidato presidencial na entrevista que, hoje, foi publicada no Diário de Notícias e sobre a qual me limito, previamente, a assinalar o seu enunciar de lugares-comuns destituídos de uma evidente reflexão sustentada e a recorrente tendência para evocar a sua experiência como Presidente da AMI (a que, note-se, a certo passo designa como "a minha instituição"!!! e a qual, diga-se a "talhe de foice", seria interessante conhecer melhor em termos da negociação de meios que a tem viabilizado, nomeadamente porque a acção humanitária envolve dimensões muito mais complexas do que o simples voluntarismo na prestação de cuidados a populações atingidas pela guerra, a doença ou a pobreza extrema). A minha chamada de atenção decorre da sua referência à questão de Olivença de que, incorrecta e bizarramente!, afirma e reafirma: "o problema de Olivença é simultâneo em termos históricos com o problema de Gibraltar, por volta de 1808"!!! Que me desculpem os seus apoiantes mas, de facto, o Dr. Fernando Nobre não denota uma atitude séria relativamente aos problemas sobre os quais se pronuncia, revelando antes uma ânsia desesperada por alcançar nichos de mercados que, aliás, revela não estar preparado para defender. Senão, vejamos: por um lado, evocando que Espanha protesta sempre que um navio de guerra pára em Gibraltar e que Portugal não o faz, F. Nobre obriga-nos a perguntar sobre que tipo de protesto deverá Portugal fazer se em Olivença não passam barcos de guerra ou quejandos que justifiquem o paralelismo da comparação; por outro lado, depois de propôr a eliminação do território oliventino do mapa português, Fernando Nobre recorre a uma pseudo-proposta de "liberdade de movimentação total" que, diga-se em abono da verdade, é o que já, há muito!, se verifica na região, não apenas pelas relações amigáveis entre as populações e as autoridades locais mas, também, por força de lei que, no caso, decorre da eliminação das fronteiras no interior do espaço comunitário europeu que limita a mobilidade dos cidadãos da União Europeia aos territórios exteriores ao designado "Espaço Schengen" (ver aqui)... Finalmente, para perceber a diferença entre os problemas de Gibraltar e de Olivença, o Dr. Fernando Nobre poderia, pelo menos, ter lido o que diz essa enciclopédia generalista de tão fácil acesso que é a Wikipédia, onde claramente se diz que Gibraltar (ver aqui) foi cedido à Grã-Bretanha no século XVIII, em 1713, no contexto do Tratado de Utrecht (ver aqui) como parte do pagamento devido na sequência da Guerra da Sucessão Espanhola (ver aqui)... depois, na mesma enciclopédia de acesso universal através de uma simples consulta na internet, o Dr. Fernando Nobre poderia informar-se sobre a questão de Olivença (ver aqui) e constatar que, neste caso, o problema deflagrou quase um século depois, no contexto do episódio histórico que atingiu a Península Ibérica conhecido por Invasões Francesas que, em Portugal, se inicou em 1801 com a chamada Guerra das Laranjas (ler aqui). Só a título de esclarecimento registe-se que a ocupação de Olivença decorreu do chamado Tratado de Badajoz (ver aqui), assinado exactamente em 1801 e denunciado por Portugal em 1808, em termos reconhecidos internacionalmente como válidos no que ao Direito Internacional respeita, no Tratado de Viena de 1815 (ver aqui) que a própria Espanha assinou em 1817. E pronto!... mais não digo - até porque os argumentos que podem sustentar algum paralelismo entre as questões oliventina e gibraltina, requerem indicação bibliográfica específica que não vem ao caso citar, uma vez que a postura do Dr. Fernando Nobre sobre o problema o não justifica... ou não o teria evocado com a ligeireza érronea, infantil e demagógica com que o foi.

Esplendor na Relva...

Ontem, 5 de Junho, foi Dia Mundial do Ambiente. Instituído em 5 de Junho de 1972 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas no âmbito da Conferência de Estocolmo, é celebrado anualmente há 38 anos, ao longo dos quais, lenta mas progressivamente, as causas ambientais adquiriram visibilidade e justificaram a ainda mais lenta adopção de medidas políticas ambientais que, tal como o demonstra a trágica maré negra que se prolonga há cerca de 2 meses e que poderá prolongar-se até Agosto (ler AQUI), ameaça a vida em muito mais do que somos capazes de supôr e assumir. Por isso, celebrámos aqui o Dia Mundial do Ambiente fazendo silêncio sobre o tema... e hoje, pela dôr que nos fica de ver a evidência de uma morte penosa atingir a vida marítima e marinha e os seus negros traços sob a forma de consequências na vida humana, evito ainda as imagens e deixo apenas uma evocação que encontra pretexto no tema "Esplendor na Relva", recriado pelos Pink Martini e ilustrado de forma singela mas significativa para todos por aludir aos quotidianos que deixámos de interrogar e sobre os quais urge o efectivo exercício da nossa competência e do nosso direito de os comandar... porque, se entre nós e a natureza, há uma cultura humana feita de tentativas, erros e culpas, é ainda essa a cultura que dela nos permitirá recuperar as rédeas de uma re-aproximação integrada e indispensável não só à sobrevivência e à existência mas, à vida:

sábado, 5 de junho de 2010

Alerta sobre a Europa dos 15 milhões...


Sim, são 15 milhões! ... 15 milhões de desempregados! ... um número que daria para fazer vários países independentes e que deixa clara a imagem de que é possível a realidade aparentemente absurda que subjaz à expressão "países de desempregados"... realidade que, infelizmente, se verifica já nesta União Europeia que integramos, cujos Estados-membros, com excepção de 8 países (a saber, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Países Baixos, Polónia e Roménia), num total de 27, têm menos de 15 milhões de habitantes. Não erramos, por isso, ao afirmar que, em 2010, o espaço comunitário europeu é -ou virá a ser no curto prazo!- o esforço federativo de integrar 15 milhões de pessoas, sob pena de ter uma população socialmente excluída acima da média populacional de 19 dos seus Estados-membros, reconhecidos como países independentes e entidades autónomas (a saber: Áustria-8,3 milhões de habitantes; Bélgica-10,7 milhões; Bulgária-7,7 milhões; Chipre-0,8 milhões; Dinamarca-5,5 milhões; Eslováquia-5,4 milhões; Eslovénia-2 milhões; Estónia-1,3 milhões; Finlândia-5,3 milhões; Grécia- 11,2 milhões; Hungria-10 milhões; Irlanda-4,5 milhões; Letónia-2,3 milhões; Lituânia-3,3 milhões; Luxemburgo-0,5 milhões; Malta-0,4 milhões; Portugal-10,6 milhões; República Checa-10,5 milhões; Suécia-9,2 milhões). Os dados ilustram bem a gravidade do desemprego europeu e a fragilidade da organização económico-política do modelo financeiro em que assenta a estrutura institucional desta aproximação federativa, cuja hierarquização vertical e profundamente assimétrica relativamente a uma minoria das suas economias nacionais dominantes, põe, verdadeiramente, em causa, a sobrevivência da arquitectura social europeia em que se investiu desde meados do século XX. A solução não está à vista apenas e só porque os princípios da gestão económico-financeira dos mercados liberais e neo-liberais não permitem que a política seja transparente ou sequer reflexa como um espelho, onde os cidadãos possam constatar o precipício para o qual se caminha. Mas essa solução não é, seguramente!, o investimento na designada e, por ora, convenientemente negligenciada, Europa a Duas Velocidades de que os números e os factos nos aproximam... como o não é a alteração da política monetária no sentido da re-criação da vigência de moedas nacionais que mais não fariam do que funcionar como garante da manutenção da desigualdade da riqueza, fomentando e reforçando a interdependência do endividamento externo dos países mais fragilizados - razão de ser da calamidade das contas públicas de muitos países no plano internacional e, também, dos países da Europa do Sul de que somos parte activa. A Europa Social, equitativa e solidária é o único projecto capaz de salvaguardar as democracias europeias e está, de facto, por construir... nomeadamente pela secundarização do seu investimento em políticas de desenvolvimento, sustentadas por políticas sectoriais como as políticas sociais, as políticas ambientais e as políticas regionais... e só inverteremos este caminho quando a consciência e a ideologia dos Estados-membros manifestar colectivamente a sua exigência, apresentando propostas políticas concertáveis, capazes de consolidar de forma eficaz o que agora não passa de um incipiente combate à exclusão e ao desemprego.

A marca de Passos Coelho

Passos Coelho regista em caixa alta a marca do seu programa: Liberalizar Despedimentos e Contratações! A notícia é primeira página do jornal Expresso de hoje mas, a nós, por ora, merece-nos apenas umas linhas: Esperemos que os Portugueses ouçam bem que a proposta económica do principal partido da oposição é a insistência na continuidade, assumidamente agravada, das medidas económicas liberais que provocaram a crise em que Portugal e a Europa estão mergulhados e de onde não se sairá tão cedo! Qual é o espanto?... É verdade que foi sempre esta a filosofia económica liberal e neo-liberal da direita mas, o que é extraordinário é que, apesar dos resultados evidentes nas economias de todo o mundo, mesmo quem procura protagonizar a imagem inovadora da liderança, não consegue desviar-se sequer um milímetro de tais programas e modelos económico-financeiros! Por muito que digam da esquerda e independentemente dos resultados de sondagens e eleições, é, de facto, a direita que revela uma completa incapacidade de avaliar realisticamente a realidade e de se apresentar como uma alternativa eficaz para a revitalização social. Esperemos que, inteligentemente, os cidadãos entendam o problema... afinal, é deste entendimento que resultará -ou não!- a Europa Social em que continuamos a apostar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Leituras Cruzadas...

Pensar a actualidade é mais frutífero quando o exercício, feito a várias mãos ou, se preferirem, a várias vozes, denota preocupações e apreensões comuns. Hoje, no plano internacional, considero particularmente relevantes as realidades vividas, por um lado, no Médio Oriente, onde a tensão persistente entre a Palestina e Israel justifica o apoio dos cidadãos à exigência de uma resolução justa e imediata do cerco à Faixa de Gaza (veja-se e assine-se a Petição que Daniel Oliveira disponibiliza no Arrastão) e, por outro lado, a incomensurável maré negra provocada pela exploração sem regras dos recursos naturais finitos no contexto de uma economia liberal sem escrúpulos (veja-se o apontamento ilustrado pelo vídeo que MFerrer apresenta no seu Homem ao Mar)... Enquanto isso, no que ao espaço europeu respeita, mantenho como prioritária a reflexão sobre a sua gestão económica e retenho algumas das principais ideias e das principais problemáticas que têm sido assinaladas nos últimos dias (leia-se o texto de JMCorreia-Pinto no Politeia e registem-se as chamadas de atenção referenciadas por Osvaldo Castro no Carta a Garcia e de Rui Caetano no Urbanidades da Madeira). Por cá, pelo carácter demagógico da sua justificação, são objecto da minha perplexidade aqui partilhada, as duas mais recentes medidas anunciadas pelo Ministério da Educação, a saber, o encerramento das escolas com menos de 21 alunos e a passagem do 8º ao 10º ano sem frequência aprovada do 9º, medidas que não posso compreender sem as atribuir exclusivamente a duas causas óbvias, designadamente, no caso da primeira, à redução de custos que acarreta uma menor contratação de professores e de manutenção de equipamentos e, no caso da segunda, à potencial degradação da qualificação do ensino público - uma e outra concorrendo para desvalorizar o reconhecimento da utilidade do saber e para massificar competências nominais dos mais jovens, contraproducentes para a preparação especializada que a competetividade requer no combate ao desemprego (a este propósito, registo duas observações sobre o tema, uma de João Carvalho no Delito de Opinião e outra de José Adelino Maltez no Albergue Espanhol). E, a terminar, para além de um apontamento sobre a questão estratégica da PT/Telefónica (ver o post publicado por Paulo Querido no Certamente), deixo a referência de um texto reflexivo do Professor Raul Iturra publicado no Aventar que nos enriquece os modos de ler e pensar, com maior equidade, a sociedade e a cultura portuguesas.

Parábola da Crise - contributo para a compreensão dos mercados

Mão amiga fez-me chegar esta história que não resisto a partilhar convosco:
"Os burros, o mercado de acções e a crise:
Certo dia, numa pequena e distante vila, apareceu um homem a anunciar que compraria burros a 5 euros cada. Como havia muitos burros na região, todos os habitantes da pequena vila começaram a caça ao burro. O homem acabou por comprar centenas de burros a 5 euros. Quando os habitantes diminuiram o esforço na caça, o homem passou a oferecer 10 euros por cada burro. Toda a gente foi novamente à caça, mas os burros começaram a escassear e a caça foi diminuindo. Foi então que o homem aumentou a oferta para 25 euros por burro mas, como a quantidade de burros ficara tão reduzida, já não compensava o esforço de ir à caça. Para incentivar a continuação do negócio, o homem anunciou que compraria os burros a 50 euros mas, avisando que teria que se ausentar por uns dias, informou que deixaria o seu assistente responsável pela compra dos burros. É então que, na sua ausência, o assistente do comprador de burros faz esta proposta aos habitantes da pequena vila: - Sabéis os burros que o meu patrão vos comprou? E se eu vos vendesse esses burros a 35 euros cada? E assim que o meu patrão voltar vós podeis vendê-los a ele pelos 50 euros que ele oferece, e ganhais uma pipa de massa!!! Que acham?
Toda a gente concordou. Reuniram todas as economias e compraram as centenas de burros ao assistente por 35 euros cada um. Os dias passaram e eles nunca mais viram o homem nem o seu assistente - somente burros por todo o lado !

Entenderam agora como funciona o mercado de acções e porque apareceu a crise?
"

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Manuel Alegre na Grande Entrevista da RTP


Ontem, na RTP 1, Manuel Alegre foi o convidado de Judite de Sousa, no programa Grande Entrevista. Seguro, assertivo, sabedor e capaz de se fazer entender claramente no que respeita à exposição dos objectivos da sua candidatura, Manuel Alegre reafirmou o projecto político subjacente à sua candidatura presidencial, caracterizando o que entende ser o perfil adequado à democracia contemporânea e à actual situação socio-económica do país e definindo o desempenho do Presidente da República que se propõe vir a ser, como um grande mobilizador da cidadania e do consenso. Do muito que se pode dizer desta excelente entrevista, destaco, por ora, as referências de princípio à defesa da Escola Pública de qualidade, do Serviço Nacional de Saúde, dos esforços de Concertação Social com destaque para o envolvimento de todos os partidos com representação parlamentar e dos sindicatos, à postura crítica relativamente ao funcionamento liberal dos mercados que tem determinado o funcionamento da União Europeia, à não necessidade de revisão da Constituição da República Portuguesa, do combate às discriminações e da vigilância relativamente às condições de vida dos portugueses. Mas, melhor que as minhas palavras, a entrevista fala por si e pode ser vista AQUI.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Memórias da Revolução - Almirante Rosa Coutinho


Personalidade incontornável do 25 de Abril de 1974, o Almirante Rosa Coutinho é um rosto que se guarda das imagens associadas à Revolução, ao Movimento das Forças Armadas e, juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho, ao Conselho da Revolução. Faleceu hoje, aos 84 anos de idade. Da sua biografia, a comunicação social destaca o facto de ter cumprido serviço militar em Angola (onde foi preso em 1960 por um dos movimentos de libertação à época, conhecido por FNLA), onde regressou depois do 25 de Abril de 1974, para substituir o então Governador-Geral em funções renovadas, no papel de Presidente da Junta Governativa de Angola até à assinatura, em 1975, dos Acordos de Alvor, cujo artigo 4º garantia a "independência e soberania plena" de Angola em 11 de Novembro e a propósito de cuja proclamação, disse, no final do seu discurso aos angolanos, o Presidente Agostinho Neto: "(...) Compatriotas camaradas: agora que os trabalhos da cimeira estão concluídos, agora que o Mundo inteiro nos olha com a consideração e o respeito que a nossa luta de libertação construíram, saibamos reforçar e consolidar as conquistas obtidas. Um só povo, uma só nação, defendendo intransigentemente, sem subterfúgios ou ambiguidades a democracia e o direito sagrado de podermos entrar no seio da comunidade mundial com as credenciais conseguidas ao longo de 18 anos de luta. FNLA, UNITA e MPLA unidos, pretos, mestiços e brancos unidos são a garantia para construirmos uma pátria independente para o povo angolano. A vitória é certa!". O Almirante Rosa Coutinho integrou os orgãos governativos portugueses do 25 de Abril, designadamente, a Junta de Salvação Nacional e o Conselho da Revolução, tendo liderado os serviços de extinção da PIDE-DGS e da Legião Portuguesa.

"História Viva" - Um Trabalho pela Cultura

A Nossa Candeia agradece, sincera e sentidamente, ao Eduardo Marculino do blog História Viva, a atribuição deste magnífico selo (ver Aqui) que nos honra pelos valores que expressa e pelo substancial contributo para a defesa do património e da cultura universais que este blog representa, enriquecendo, de facto, o trabalho que, cada vez mais, se vai produzindo na blogosfera. Ao seu autor, o meu abraço reconhecido e amigo e ao História Viva, os meus votos de continuação de um excelente trabalho ao longo de uma merecida vida longa e feliz.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Da Construção dos Manifestos...


Há uma geração que tornou possível a Liberdade e nos deu, para a vivermos, nos seus bons e maus momentos, a Democracia!... O meu orgulho nessa geração é imenso e sinto-me, se me permitem!, parte do seu legado! Maior é ainda essa alegria quando encontro, nos dias que correm, as palavras e os actos com que, pela sua força, o seu exemplo, a sua coragem e a sua determinação, identifico a raiz do meu sentido de justiça e liberdade! Hoje, encontrei no Água Lisa, um lindissimo texto de João Tunes que, no Carta a Garcia, Osvaldo Castro, tentando escapar à referência explícita, reencaminhou para o que propõe ser um "pré-argumentário" do Manifesto da campanha de Manuel Alegre! Todos percebemos porquê!... e eu, por mim, subscrevo o sentido, a intenção e... agora, amigos, companheiros e cidadãos, vamos à luta... por uma sociedade que não perca as referências pelas quais tantos lutaram e que, tantos de nós, hoje, queremos manter vivas... por um Futuro Humano, Livre e Digno!

Condenar Israel - Apoiar a Palestina!

Chocante e inqualificável é o mínimo que se pode dizer da actuação de Israel contra os activistas pró-palestinianos (ler aqui e aqui) que tentavam fazer chegar alguma ajuda humanitária a Gaza. A persistência do cerco e a agressividade sistémica contra os territórios ocupados da Palestina, faz lembrar métodos de extermínio dissimulados que não passarão incólumes na História, reconhecido que é o exercício abusivo do terrorismo de Estado de Israel. É urgente que o povo israelita dê o rosto e a comunidade judaica levante a voz contra esta permanente violação dos Direitos Humanos, sob pena da comunidade internacional, pelo menos, em termos de sociedade civil, deixar de reconhecer a legitimidade do Estado de Direito de Israel... porque, em pleno século XXI, Israel não fará o mundo recuar nos seus princípios democráticos, na defesa dos Direitos Humanos e do Estado de Direito, pela persistência patológica do seu desempenho como Estado agressor. Enquanto Israel mantiver esta postura de tudo atacar (consequência de uma deformação cultural assente no medo e incentivada, política e socialmente, pela manipulação doentia de um trauma materializado na catarse de uma permanente lógica de guerra), as palavras de ordem continuarão a ser: Solidariedade com a Palestina, Já! Solidariedade com a Palestina, Sempre!

(Este post foi também publicado no Forum Palestina)