sábado, 8 de janeiro de 2011

Do "dumping" proteccionista franco-alemão ao desmantelamento económico da UE...

Os mercados continuam a pressionar Portugal, sob influência da Alemanha e da França que, persistindo nos elos do eixo franco-alemão, exigem que o nosso país, à imagem da Grécia e da Irlanda, solicite intervenção externa dos Fundos Comunitários, deixando aberta a porta à entrada do FMI. A exigência, a que a revista Der Spiegel dá voz, aparentando uma análise económica que dissimula a intenção política dos países que querem reduzir a União Europeia a uma Comunidade Económica em que uma dúzia de Estados domina o mercado europeu (a quem interessou o alargamento apenas e só enquanto os Estados-membros garantiram o funcionamento linear da oferta e da procura, estimulando o consumo e promovendo o lucro dos seus accionistas) que viu na união política um instrumento interessante para a institucionalização de uma espécie de muralha de aço para a economia liberal... O esforço de demonstração da inviabilidade do projecto europeu comum e igualitário "inter pares" dos países mais ricos decorre, como bem sabemos, não de uma qualquer preocupação com o bem-estar das populações mas com o exercício concertado de nacionalismos proteccionistas contra os quais legislaram os que agora, subversivamente, os promovem... e se é verdade que muitas economias europeias estão ameaçadas, a realidade é que não podemos ceder à estratégia de usarem Portugal como um duplo exemplo: quer como condicionador do funcionamento de outras economias em dificuldades pelo medo da intervenção do FMI, quer como "caso" capaz de desdramatizar esta intervenção face ao eventual e mais que prevísivel período de sérias dificuldades com que a Hungria, a Bulgária e outros se irão defrontar no futuro próximo... veja-se a Roménia que acabou de ver disponibilizados 900 milhões pelo FMI e cuja população, já de si tão pobre!, nem imagina o preço que terá que pagar!... De facto, o eixo franco-alemão parece interessado em "salvar o coiro" do processo de desmantelamento desta união económica, assumindo sem reservas, através das exigências que fazem, que o interesse político da União Europeia não lhes interessa para nada e, naturalmente!, menos ainda, a Europa Social!

4 comentários:

  1. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    Subscrevo inteiramente o teor deste seu excelente "post". Na realidade, a coesão social Europeia está nas ruas da amargura, como a Ana bem nos elucida. O eixo económico da Europa (Paris-Berlim), de matriz neoconservadora, quer proceder ao retrocesso institucional da União Europeia ao recusar neste tempo "vacas magras" seguir o trilho da Europa política e social.

    Assim, no momento em que a crise financeira aperta, jogada em boa parte nos nefastos malabarismos especulativos, as potências Francesa e Alemã fogem do dever de solidariedade institucional entre os Estados-membros da UE, como não o fizeram os Norte-Americanos no pós-guerra, no espírito de bons Aliados, com a atribuição do Plano Marshall para a revitalização e recuperação da economia Europeia afectada pela 2ª guerra mundial, embora num contexto histórico internacional diferente.

    Em suma, neste ambiente pantanoso neoliberal não espanta a reacção egoísta de proteccionismo destas potências. Ora, como diz o provérbio popular, os bons amigos aferem-se não em tempos de bonança, mas em tempos de tormenta...

    Saudações cordiais e fraternas, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  2. Durante o longo sol Europeu decidi votar o meu tempo ao estudo Europeu. Aproveitei a carga económica e de gestão que me veio da aurora Europeia e a chamada captura do(s) regulador(es) à la Portugaise que me mataram o empreendedorismo. Afinal só há espaço para os mais fortes e incapazes!

    Adorei como todos os estudiosos de Estudos Europeus, a defesa do mercado único e a grande benção de um projecto onde a solidariedade estava plasmada no seu Direito - de Comunitário ao da UNIÃO Europeia. De um Eurocéptico desconfiado passei, e tornei-me, num acirrado Euroentusiasta.

    Depois da leitura dos globalismos localizados e dos localismos globalizados de BSSantos, torçi pela segunda vez o nariz.
    Eis, então, que com o " pequeno primo " do subprime e de todos os " brothers" que lhe sobrevieram, converti-me quase definitivamente à tese do homem lobo do homem, e de Euroentusiasta caí novamente no Eurocepticismo.

    Terei retorno, ANA PAULA FITAS?

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  3. Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
    Excelente texto e excelente contributo, como é sempre seu apanágio e eu, sinceramente, muito agradeço.
    As minhas melhores saudações com os votos de que continue, sempre, por aqui.
    Bem-haja!

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  4. Caro P.A.S.,
    Obrigado pelas palavras ajustadas e pedagógicas com que aqui partilha, ideias e posições que, mal-entendidas por muitos durante muito tempo, encontram agora, na realidade, uma espécie de espelho das reservas e preocupações que as fundamentaram... sinceramente, obrigado!... quanto ao eventual retorno, meu amigo, bem gostaria de lhe dizer que sim mas, receio que tenhamos pela frente um combate sério para o qual, todos somos requisitados, no pleno exercício da nossa lucidez e da nossa consciência.
    Obrigado por estar presente!
    Um abraço... e Bem-haja!

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