quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Ditador e a Democracia - Das Milícias de Mubarak


No Egipto, o povo saiu à rua e foi na rua que vimos a emergência da Democracia. Por isso, quando a comunicação social noticia que "apoiantes de Mubarak" vieram manifestar-se, urge desmentir e desmistificar a afirmação (ler Aqui): não, não são apoiantes civis do ditador quem veio para a Praça Tahrir mas, isso sim, milícias do regime, defensoras da ditadura que o regime de Mubarak protagoniza há mais de 30 anos. Os factos falam por si e enunciamo-los em forma de perguntas: que razão justifica que tenham levado tanto tempo a aparecer? que razão justifica que tenham aparecido apenas quando a queda do regime parecia inevitável? quem, no Egipto, ousa levar os seus cavalos ou camelos para o meio da agitação onde os animais podem ser lesados? que razão justifica a inoperância do exército perante os provocadores? que razão justifica o silêncio do ditador quando, num tão grave contexto, vê, em seu nome, o sangue correr nas ruas? O regime de Mubarak perdeu o respeito internacional e o povo egípcio conquistou-o por mérito próprio!Viva a luta corajosa dos homens e mulheres do Egipto! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!

10 comentários:

  1. Cara Ana Paula Fitas
    Acredite que achei estranho que os serventuários do regime estivessem quietos, perante a imensidão dos protestos do Povo Egipcio.
    Apesar de as notícias de há poucos minutos, que transmitiam a ideia de uma certa acalmia, espero que não sejam mais do que a calmas que antecede as grandes tempestades.
    Que não sejam mais uma vez os inocentes a sofrer.
    Vivo com grandes preocupações estes momentos e como sou um fraquissímo conhecedor da situação,isso só aumenta a minha angustia.
    Abraço
    Rodrigo

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  2. Eu gosto do povo egípcio, gosto de ti,
    e faço votos por que ao regime de Mubarak
    suceda um regime laico, moderado e democrático.

    Contudo, o que mais está a fascinar-me
    nesta sublevação popular é a comparação
    da praça Al Tahir com a da praça Tian'anmen...

    No caso chinês, também as autoridades estiveram imóveis durante dois meses - a proverbial "paciência do chinês" -, para intervirem brutalmente da noite para o dia, esgotado o "prazo" de "espera".

    Ora, aqui no Egipto, os "apoiantes" - as "milícias" do regime, chamas-lhes tu - resolveram intervir e joga-se à pedrada e alguns tiros, entre as duas facções, perante a olímpica indiferença do exército na praça! Até quando?

    Politicamente, creio que nada melhora se os partidos fanáticos - os "Irmãos Muçulmanos", insinua ou receia a rádio e a comunicação mediática - ascenderem ao poder e virarem Egipto para uma aliança com o Irão, fanático qb...

    Mas enfim, pouco sei de estratégia política, posso errar no que se afigure ser melhor para o Médio Oriente, o Mediterrâneo e a Europa, mas, por mim, estou em absoluto suspenso do evoluir da situação naquele país, parece-me lógico que o exército não está de todo mobilizado para a queda do governo, salvo se receber ordens expressas da sua própria cadeia de comando, que, julgo, substituirá Mubarak por outro chefe, sem derrube do regime nem ultraje ao presidente deposto... Bom, mas se calhar não vai ser nada assim, sei lá...

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  3. Há várias maneiras de ser solidário com o povo egipcio. Uma delas é produzir denúncia à distorção noticiosa (como o faz), outra é contextualizar a revolta e pôr a nú as suas causas (como tentarei continuar a fazer)...

    E que viva a Democracia!

    Abraço

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  4. Posso arriscar uma resposta às suas perguntas, Ana Paula?
    Frank Wisner, um dos enviados de Bush para negociar o Kosovo e com uma folha de bons serviços prestados nas Filipinas e na Índia, foi o enviado escolhido por Obama para ir ao Egipto, tentar convencer Mubarak. Já deixou as suas impressões digitais... Estarei enganado? Talvez, mas parece-me muita coincidência

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  5. Cara Ana Paula, tem toda a razão na postagem, exceto numa coisa: A cultura Oriental, não é nem de perto nem de longe, próxima da cultura Ocidental, mas isto, já a Ana Paula sabe. Saberá também que o que gostariamos que fosse, não é igual ao que é na realidade. Há alguma democracia Oriental? Claro que podemos sempre tentar, mostrar que o ocidente tem razão (terá? ). Chegam-nos poucas noticias do Egipto, mas sabemos que os Egipcios são 80 milhões. Quantos milhões vieram à rua? Aquilo que o Ocidente entende ser bom, o Oriente pode não entender tanto assim. Claro que dirá que viver em ditadura não é bom!!! Que é mau em qualquer parte do mundo. Também entendo assim, mas será que os Orientais entendem da mesma forma?

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  6. Caro Rodrigo,
    É grande a angústia perante o sentir e a expressão de um povo que sabemos pobre e privado de liberdade e democracia... é grande a angústia perante o que decorrerá desta difícil cedência do poder e perante o que permitirá vir a acontecer... é grande a angústia que nos provoca a esperança e a vontade solidária...
    Abraço...

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  7. Caro VBM,
    ... obrigado!... é bom ler a autenticidade e a inteligência de quem vem acompanhando o mundo e equaciona o que aos próprios deve angustiar... de facto, a leitura que propões é a que me ocorria... e agora, depois das notícias de que a Irmandade Muçulmana garante não se tratar de uma revolução islâmica e da eventualidade do exército poder vir a actuar, continuamos suspensos dos dias na Praça Tahrir... entretanto, li hoje, no PuxaPalavra, um post de Raimundo Narciso sobre a situação e a perspectiva que aqui enunciamos que, penso irás gostar de ler como eu gostei pela lucidez que dele transparece...
    Abraço.

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  8. Caro Rogério,
    ... ainda bem que continuamos "em campo" :)
    Abraço.

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  9. Carlos,
    Obrigado pelo contributo claro e enriquecedor que para todos se constitui como relevante e ponderável na equação perante a qual nos sentimos hoje colocados...
    Abraço.

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  10. Caro Zéparafuso,
    A cultura no Magreb é um puzzle de influências culturais que, dos berberes aos árabes, tem ainda um fascínio pelo desenvolvimento nos termos em que nós o conhecemos - e este é um factor diferente do que ocorre em contextos mais longínquos e mais isolados como, por exemplo, o Irão... no caso do Magreb há, apesar de tudo, u,a escolarização e uma educação (é o caso do Egipto) que, por exemplo, justifica que as manifestações em curso não sejam feitas sob a bandeira do Islão como se isso fosse um sinal da laicidade e do espírito democrático das mesmas... devemos dar atenção aos sinais e esperar que os povos magrebinos saibam vencer as tentações totalitárias que tendem a emergir no seio das suas sociedades.
    Abraço.

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