sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Leituras Cruzadas...

Incontornáveis, as referências à realidade contemporânea da sociedade e da cultura portuguesas, merecem a nossa melhor atenção... vale a pena conferir:
João Vasco no Esquerda Republicana
Ana Matos Pires e Shyznogud no Jugular
Eduardo Pitta no Da Literatura
João Ricardo Vasconcelos no Activismo de Sofá
... e, porque não devemos esquecer e o humor é uma forma eficaz de evocação:
Carlos Barbosa de Oliveira no Crónicas do Rochedo

O Mapa da Memória...

O Governo espanhol disponibilizou online um mapa de localização de valas comuns e outros lugares de enterramento onde foram encontrados corpos das vítimas do franquismo. Além da importância e do significado deste sítio intitulado Memória Histórica, capaz de materializar a visibilidade da dimensão da tragédia, o espaço oficial criado permite aos familiares das vítimas o acesso aos procedimentos de exumação dos corpos e outra informação relevante para o estudo e o conhecimento da História contemporânea (Ler e Ver AQUI).

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

As Valas Comuns da Nossa Memória...


Nas terras áridas de Jerez de la Frontera, no sul de Espanha e a pouco tempo de distância da fronteira portuguesa, foi descoberta mais uma vala comum com cerca de 600 corpos de vítimas do franquismo (ler aqui) cujo número de desaparecidos está estimado em cerca de 114.000. Após a descoberta, em 2008, de mais cerca de 2.840 corpos na vala comum encontrada na região de Málaga (ler aqui), o caso de Jerez de la Frontera é considerado um dos mais importantes contributos para o resgate da memória das vítimas da ditadura que, é bom lembrar!, provocou e continua a provocar danos até entre os que procuram a verdade... como foi, há bem pouco tempo, o caso do juiz Baltazar Garzón que se empenhou no reconhecimento das violações dos Direitos Humanos levadas à prática pelo Estado franquista (ler AQUI). A realidade da crueldade histórica do nosso passado recente não nos confere o direito ao esquecimento ou à relativização colectiva dos crimes de Estado que, inscritos no espaço e na memória das nossas populações, fazem parte de um património que é preciso reconhecer, condenar e resgatar para que se não repitam as tentações autoritárias que se legitimam sobre a tortura, a perseguição e a morte. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sons Intemporais...

O Olhar...

... é que dá cor aos caminhos...
(imagem: pintura de Leonid Afremov)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Crise Europeia - de Durão Barroso ao Wall Street Journal

O Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, deu uma entrevista à CNN (ler aqui), afirmando que nenhum dos Estados-membros que integram a Zona Euro vai abandonar a moeda única adoptada no velho continente. Durão Barroso afirmou ainda que, do ponto de vista da integração, daqui a 10 anos, a União Europeia vai estar mais consolidada. Ao ouvir a notícia, lembrei-me do que li no "The Wall Street Journal", cuja edição da passada 4ªfeira, dia 21, foi praticamente preenchida com artigos sobre a crise europeia. Dessa edição vale a pena destacar, antes de mais, uma excelente reportagem sobre a crise grega, onde se chamava a atenção para os seus efeitos sociais, designadamente, ao nível da taxa de suicídios que registou um aumento da ordem dos 40% e cujas causas estão associadas às falências empresariais, ao desemprego e à representação social que estes factos implicam em termos de estigma, desprestígio, honra e vergonha. Mas, a edição de 4ªfeira do "The Wall Street Journal" trazia ainda dois artigos de opinião que vale a pena assinalar. Um deles, da autoria de Paul Hannon, afirmava que a questão que se coloca aos europeus é a de saber como se chegou até aqui e como se pode travar o ritmo de descalabro que a economia dos Estados-membros da UE alcançou, denotando a insustentabilidade do poder económico europeu face aos mercados emergentes da Rússia e da China. Alertando para que não podemos ignorar o significado do nível e do grau da necessidade de ajuda externa, P.Hannon escreveu que devemos compreender que "Somos basicamente chimpanzés mas com sentido de vergonha" e que nos encontramos perante o grande desafio de, por um lado, reconhecer a necessidade do crescimento europeu e de, por outro lado, assumir a consciência de que, até agora, os esforços de reforma falharam. Colocando o dedo na ferida, o autor enunciou assim a pergunta crucial: "(...) O que é preciso fazer para que a zona euro caminhe na direcção certa assumindo que pode continuar a existir?(...)". O segundo artigo que me chamou a atenção tinha a assinatura de Brett Stephens sob o título: "O que virá depois da Europa?" e, ao longo do seu desenvolvimento, o autor lembrava que, do lema que marcou o pós II Guerra Mundial, a saber: "Russos fora, Americanos dentro e Alemães em baixo" à criação, primeiro, do marco alemão e, depois, da identidade económica europeia (a que, escreveu!, Jean Monnet se esqueceu de associar a identidade política), a Europa viveu 3 ficções: a de ultrapassar os EUA como super-potência, a de acreditar que sem capacidade militar desenvolveria uma efectiva influência política na diplomacia e nas relações internacionais e, finalmente, a crença no chamado "modelo europeu" como forma de enfrentar os desafios da globalização, do islamismo e da demografia. Claro que sabemos que, à análise norte-americana da crise europeia, subjaz a interpretação económico-financeira da guerra dos mercados mas, a verdade é que não podemos ignorar a leitura que o exterior faz desta crise de que, B.Stephens tomou como exemplo o caso grego para dizer que se trata mais de um caso tipo Madoff do que de um caso tipo Lehman... até porque o título de 1ª página da edição do "The Wall Street Journal" dois dias depois, 6ªfeira, 23 de Setembro, era, ilustrado com os gráficos dos mercados da passada 5ªfeira sobre os quais se via o rosto perplexo da Presidente do FMI, Christine Lagarde, simplesmente: "A Economia Entrou na Zona de Perigo"... e agora, digam lá se é ou não perceptível o sentido da entrevista de Durão Barroso à CNN!!!... ah!... pois!...    

Mulheres e o Direito de Voto... na Arábia Saudita

A partir de 2015, as mulheres poderão votar e ser candidatas ao poder político na Arábia Saudita. Num país cuja cultura não tinha reconhecido, até hoje, quaisquer direitos às mulheres, a notícia é relevante (ler AQUI) - designadamente porque, entre as minhas proibições cívicas e públicas a que estão sujeitas, as mulheres sauditas lutavam ainda pelo quase elementar direito a conduzir. A situação merece a nossa atenção e o nosso acompanhamento até porque, como se sabe!, entre, por um lado, as promulgações legais e o quadro teórico e, por outro lado, a prática efectiva dos direitos que os costumes e a tradição configuram, vai uma longa distância, quase sempre caracterizada pelo medo e a violência.

sábado, 24 de setembro de 2011

Tallinn - nos caminhos da eterna descoberta...


As cidades são um mundo a descobrir... recém-chegada de Tallinn, capital da Estónia, depois de 9 horas de voo e aeroportos, vale a pena deixar o apontamento: Tallinn é uma belissima e pequenina cidade, onde o passado mais longínquo, presente num dos mais encantadores castelos que conheço, se associa às tradições da História (feita de influências alemãs, russas e finlandesas), para se erguer numa actualidade de esperança relativa à Europa comum de que o país agora, connosco!, participa. Estranhamente para os próprios estonianos que têm uma representação de si próprios como pessoas pouco sorridentes, a verdade é que senti, neste povo báltico, uma afabilidade extraordinária na emergência espontânea de um sorriso em cada transeunte com que me cruzei. A Estónia é considerado o país com menor prática religiosa da Europa e, talvez por isso, o que a cidade nos transmite é um sentido de Humanidade inteligente, cautelosa e reservada mas, gentil e disponível para a construção do futuro.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"O Cemitério de Praga"...

Acabei de ler "O Cemitério de Praga" de Umberto Eco. As minhas desculpas aos "aficcionados" de "O Nome da Rosa" e sem qualquer menosprezo por uma obra genial como o foi a publicação deste grande romance do historiador e filósofo italiano que deu à estampa uma narrativa ficcionada com o objectivo explícito de ajudar a desmistificar a Idade Média e, de certo modo, os meandros "ocultos" da Igreja Católica... mas, "O Cemitério de Praga" é uma obra ousada, actual e pertinentissima para se compreender o processo das interacções histórico-culturais ecléticas que justificam a travessia europeia do século XX e, de certo modo, o nosso século XXI. Nesta obra, Umberto Eco situa-nos no século XIX onde, entre jesuítas, maçons, o esoterismo, a emergência de ciências como a psicanálise e a grande discussão, à época, sobre os judeus, se edificaram as raízes do que  sustentou o inconsciente colectivo europeu em que se alicerçou o nacional-socialismo de Hitler. Não é um livro fácil... e, às vezes (muitas vezes!), é um livro (quase) odioso... mas, acreditem!, é, indubitavelmente!, um livro interessantissimo e diria mesmo, essencial!, para o entendimento contemporâneo. Vale a pena ler.

A Palestina nas Nações Unidas, Já!

Por uma Palestina Livre, reconhecida na sua qualidade de país autónomo e independente que deve, como tal, integrar a Organização das Nações Unidas!  Chega de paliativos e de pretextos! A Palestina como Estado de pleno direito na ONU, Já! - como o deveriam ser muitas outras... entre elas, por exemplo, o Tibete!... e todos os povos do mundo que evidenciam a capacidade de auto-organização das suas populações em torno do reconhecimento da sua identidade cultural não coincidente com a das potências invasoras, ocupantes ou, simplesmente, dominantes! Pelo direito à auto-determinação e à liberdade, à democracia e à identidade! Pelos Direitos dos Povos! Pelos Direitos Humanos! 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sons Femininos...

... Maria Gadú... em "Lanterna dos Afogados"...

domingo, 18 de setembro de 2011

Da Desigualdade de Género como Factor de Crise

A crise está (e vai continuar) a agravar as desigualdades sociais não só entre pobres e ricos (esses dois grupos que levaram a que, desde Proudhon e Marx, se destacasse a problemática do antagonismo entre classes sociais enquanto determinante essencial a considerar para a construção de uma sociedade mais equitativa) mas, também, entre homens e mulheres. A questão é incontornável e assume uma dimensão que não pode ser ignorada -  nomeadamente porque a sociedade contemporânea integrou o trabalho feminino no mercado laboral a um ponto tal que a própria economia depende em grande parte do desenvolvimento do trabalho realizado por mulheres... refira-se, aliás, que, em grande parte, as questões da igualdade de género foram assumidas políticamente como consequência das exigências económicas de que, em última análise, decorrem também as alterações da estrutura familiar tradicional que conhecemos (cuja diversidade está muito além das designadas famílias monoparentais). E se a primeira questão que nos é suscitada pelo facto de se saber que, actualmente, as mulheres ganham, em média, menos 18% do que os homens (ler AQUI onde cheguei através de um post da Shyznogud), é o problema da pobreza que vê reforçado, com pertinência, o seu rosto feminino, não é de menor importância, o que se refere aos cuidados com os cidadãos considerados não-activos (refiro-me a crianças e pessoas da terceira idade)... de facto, o problema da pobreza feminina arrasta consequências sociais calamitosas a vários níveis e deles destacamos, pela sua transversalidade, o que decorre de ser ainda sobre as mulheres que se denota, por razões culturais, maior grau de responsabilidade sobre a educação dos mais novos e a assistência aos mais velhos. O efeito societário desta realidade significa, não apenas o aumento do risco de exposição à violência pela deficitária autonomia financeira que, comparativamente, o género feminino continua a enfrentar mas, acima de tudo, um potencial de multiplicação da pobreza que a sociedade terá que pagar e que, seguramente, lhe ficará mais caro do que se investisse na efectiva igualdade salarial entre homens e mulheres. Por isso, a sociedade contemporânea e a sua gestão política não podem, sob o pretexto da crise, negligenciar as questões sociais e cívicas no que se refere à defesa dos direitos das mulheres (e não só!) sob pena de contribuirem decisivamente para o crescimento de mais um factor de substancial agravamento estrutural das condições endógenas de continuidade dessa mesma crise.

sábado, 17 de setembro de 2011

Jardim e os mais de Mil Milhões de Dividas Ocultas

Alberto João Jardim está a ouvir mal... dívidas ocultas na Madeira??? Buracos financeiros de mais de mil milhões de euros??? Das duas, uma: ou ele está a ouvir mal ou o "contenente" não está a perceber nada... segundo diz o grande líder da pequena ilha, a governação regional a que tem presidido, limitou-se a prosseguir investimentos sem que tivesse fonte de financiamento para o efeito (ler Aqui) - e, presumo eu!, que a essa decisão o seu Governo não chame gestão danosa mas sim, de acordo com o entendimento deste dinossauro político, qualquer coisa como, sei lá!, confiar na Providência (vox populi dixit: "fia-te na Virgem e não corras..." mas, o espírito paroquial do lugar não vai em ironias por muito inteligentes que sejam!)... quanto à realidade da notícia que agrava a imagem de Portugal nos mercados pela denotação do descontrole dos gastos, não percebo a admiração... Alguém pensava ou esperaria outra coisa de um gestor político que age como se o poder fosse pessoal e absoluto, sem preocupações de concertação e cooperação, sem responsabilidade ou partilha de objectivos?... sejamos claros: era previsível e esperemos que se não revele pior!... do reconhecimento da gravidade da questão deram conta, não só os partidos com representação parlamentar e a própria Comissão Europeia, como o próprio Passos Coelho que afirmou estar nas mãos dos eleitores o testemunho sobre a confiança política que merece quem assim actua... a verdade é que a Madeira ficou mais isolada com a prepotência política que a tem governado... e a obra feita não chega para o justificar - ainda que aos madeirenses o possa parecer.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Leituras Cruzadas...

Depois de um interregno próprio da época estival, retomo o Leituras Cruzadas... e no momento em que, apesar da dureza das medidas de austeridade que, por toda a Europa se vão fazendo sentir, sem quaisquer benefícios para a qualidade de vida das populações - que é, afinal!, o objectivo último de toda a economia e da política (pois... não parece mas, é - ou antes, deveria ser!), a Grécia atinge o valor máximo de juros a pagar por uma ajuda (???) financeira externa... Por isso, perante o esforço de Durão Barroso em tentar construir uma representação positiva da evolução da economia europeia "para mercado ver", Christine Lagarde, do FMI, veio esclarecer: a economia mundial está a atravessar uma fase perigosa pelo que se torna indispensável, por um lado, a solidariedade entre todos os países e, por outro lado, que os líderes políticos sejam capazes de ultrapassar os interesses partidários e de trabalhar em função de horizontes pós-eleitorais. Interessantes, pertinentes e elucidativas palavras as da Directora do Fundo Monetário Internacional principalmente por nos transmitirem sem tibiezas a dimensão e profundidade da crise em que megulhámos... Ficam, por isso, com os olhos neste contexto, as seguintes sugestões de leitura:
Nuno Ramos de Almeida no Cinco Dias
João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas
João Ricardo Vasconcelos no Activismo de Sofá
Ricardo Alves no Esquerda Republicana
Miguel Abrantes no Câmara Corporativa
Pedro Viana no Vias de Facto
Rui Rocha no Delito de Opinião
Carlos Barbosa de Oliveira no Crónicas do Rochedo
Shyznogud no Jugular
Luís Moreira no Pegada

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Direitos dos Povos Nómadas


O património cultural da Humanidade está vivo e, felizmente para a diversidade humana!, a sua existência consubstancia a vida concreta das populações... contudo, face às lógicas de hegemonia política e económica, as populações minoritárias encontram-se ameaçadas ao nível da sua sobrevivência, razão pela qual os povos e culturas em risco precisam do esforço de todos - para que o reconhecimento do seu direito à existência social e o seu testemunho cultural vivo não sejam reduzidos à condição de património morto, preservado apenas na materialidade dos vestígios monumentais e documentais ou na memória. Daí o apelo internacional que aqui partilho, no sentido de se subscrever a Petição Pela Defesa dos Nómadas do Tibete.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Dos limites constitucionais ao endividamento

Há, na defesa da definição de limites constitucionais ao endividamento no quadro dos Estados-membros da União Europeia, desde o primeiro momento e face ao espírito subjacente ao modelo em que se procurou construir a UE, uma incoerência estrutural que ainda não vi destacada, apesar da sua evidência e do seu significado. De facto, o estabelecimento de limites constitucionais às dívidas soberanas, mais não é do que o compromisso político prévio supra-partidário de aceitação das medidas punitivas que a sua rede de parceiros decida impôr-lhe sempre que esse limite seja posto em causa, sem atender aos imprevistos que a especulação dos mercados determina ou ao potencial efeito nacional provocado por crises económico-financeiras externas, mundiais ou regionais. Pior que isso, a inscrição de limites constitucionais às dívidas nacionais ignora a possibilidade dos efeitos das causas acabadas de referir não serem rigorosamente previsíveis, além de desprezar o facto das condições de partida de cada Estado-membro perante este compromisso diferirem de forma abissal no que se refere ao equilíbrio das contas públicas ou à relação entre PIB's e exportações e de eliminar, de vez!, o princípio da solidariedade entre Estados, substituindo-o por uma relação contratual sem preocupações sociais de espécie alguma. A proposta é o que de mais extremista conheço no assumir do neo-liberalismo selvagem, dada a agravante de ser proferida por Estados-membros altamente poderosos do ponto de vista da influência económica e política internacional. Hoje, foi conhecida a opinião de Jacques Delors (ler aqui) que afirma que tais limites "não valem nada" designadamente por não estar definido o que se entende por défice - argumento pertinente se pensarmos que, do ponto de vista da economia global e da dinâmica dos mercados, as economias contemporâneas se caracterizam por múltiplas relações de dependência que fazem variar os factores de ponderação da estabilidade das respectivas finanças. Esclarecer o sentido da recusa desta proposta faz todo o sentido e requer explicações sérias aos cidadãos para que se não pense que ela decorre da desresponsabilização dos países e dos governos mas que, muito mais importante que isso, ela implica sentido de responsabilidade sobre as condições sociais de vida das populações.   

AL TEJO - Agradecimento

Ontem, no blogue AL TEJO, foi editado um artigo da minha autoria, publicação que muito me apraz registar pela qualidade do precioso trabalho de Francisco Manuel Tatá em prol da preservação da memória do concelho de Alandroal e do património imaterial do Alentejo, em geral. Registo, por isso, o meu agradecimento sincero e sentido ao autor do blogue e deixo link para o post onde está o meu texto "Paisagens Etno-Arqueológicas e Culturas Regionais..." (também publicado no vol.50 da revista "Trabalhos de Antropologia e Etnologia" da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia).

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Marcelo Rebelo de Sousa e Manuel Alegre em Defesa das Mulheres

A primeira vez que ouvi falar no assunto, foi na televisão, numa entrevista dada por Manuel Alegre durante o Congresso do PS... e o que me chamou a atenção foi a frase: "O que se estão a preparar para fazer é um atentado aos direitos das mulheres". Fiquei, naturalmente!, preocupada e curiosa. Felizmente, ontem, Marcelo Rebelo de Sousa esclareceu: nas medidas de austeridade no sector da saúde foi equacionada a possibilidade de deixar de haver comparticipação estatal na aquisição de pílulas contraceptivas em estabelecimentos farmacêuticos, sendo dada a possibilidade às mulheres de as adquirirem gratuitamente nos centros de saúde. E o Professor enunciou, com a intenção explícita de ajudar o Governo a decidir nesta matéria, uma série de argumentos evidentes para o comum dos cidadãos mas, cuja sistematização se impunha dado o impacto social do problema... E disse, num primeiro momento: está por provar que as pessoas que vão às farmácias são ricas e podem prescindir dessa comparticipação; é desconhecer o país em que vivemos, presumir que as mulheres, designadamente trabalhadoras e jovens, têm tempo e disponibilidade para ir aos centros de saúde; está por provar que é mais fácil ir aos centros de saúde do que às farmácias, designadamente, considerando os custos de proximidade, uma vez que existem mais farmácias do que centros de saúde e que as idas aos centros de saúde implicam consultas e tempos de espera; está por provar que fique mais barato acabar com a comparticipação do que aumentar a quantidade de pílulas gratuitas... depois, num segundo momento, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou o verdadeiro significado e as consequências de uma medida desta natureza: é previsível, pelas razões indicadas, que a adopção dessa medida conduza a que muitas mulheres e jovens deixem de tomar a pílula aumentando exponencialmente o número de interrupções voluntárias da gravidez e, pior ainda, de abortos praticados em condições deficitárias e perigosas para a saúde das mulheres. As mulheres agradecem a honestidade intelectual e a responsabilidade cívica de Marcelo Rebelo de Sousa... e, face ao silêncio geral, é caso para perguntar: será que a questão não é suficientemente pertinente para mobilizar a intervenção de todos e que nos resta podermos contar com algumas vozes de políticos, que adquiriram o estatuto de independência intelectual e se afirmam como críticos e autónomos na expressão e no juízo? ... e quando eles optarem pelo silêncio por razões táticas ou estratégicas do ponto de vista ideológico ou político?

Sons com sentido...

... são assim os símbolos... dispensam as palavras... é o caso de Cat Stevens... e do seu tema, velhinho mas belo: "Father and Son".

domingo, 11 de setembro de 2011

Do 11 de Setembro ao Combate Contra Toda a Violência

Faz hoje 10 anos que 4 aviões da American Airlines foram "desviados" com o objectivo de causar a morte, o pânico e a destruição nas duas cidades mais paradigmáticas (Nova Iorque e Washington) do país que melhor simboliza a economia e a política ocidentais. Os centros nevrálgicos da alta finança e dos serviços militares, World Trade Center e Pentágono, foram atingidos. O mundo tremeu. E ao terror que colou ao chão os cidadãos do planeta que assistiram às imagens da tragédia através das televisões, somou-se, não só o efeito psicológico colectivo do medo mas, a imensa crise financeira que aí se começou a desenhar e continua a fazer estragos na maior parte dos países "aliados". O 11 de Setembro mudou o mundo e veio evidenciar que nada está garantido, seguro ou tranquilo. A autoria dos atentados, bem como a informação e a contra-informação que se seguiram aos factos, provocaram e provocam efeitos estranhos, contraditórios e impressivos mas, o que lhes é comum é a negatividade perniciosa que, consequentemente, trazem associados... o ódio e o medo sustentados pela justa indignação e a revolta arrastam, quase sempre, a tendência dos homens para a vingança... e fazem-se vítimas as pessoas, as pessoas que, simplesmente estão vivas e, de súbito, deixam de o estar - apenas e só porque uma acção exterior, cega, psicótica e exibicionista decidiu, anónima ou assumida mas, intencionalmente!, provocar um efeito mediático corrosivo... corrosivo até para a defesa dos valores da paz, da coexistência pacífica e da valorização da diversidade... um efeito corrosivo para a defesa intransigente dos Direitos Humanos que muitos agora põem em causa, ao equacionarem a falsa justiça inerente às políticas externas e internas e que, confundindo àrvores com florestas, perdem a razão ao desvalorizar a vida humana e os sentimentos de todos, vítimas, familiares, amigos, cidadãos. Ninguém, nunca!, em qualquer guerra ou em qualquer acto de violência capaz de exterminar pessoas intencionalmente, pode ser compreendido! Sabemo-lo desde que Hitler teve o poder na Europa e continuamos a constatá-lo por todos os espaços do mundo onde a violência brutal, dos protagonismos individuais e anónimos aos dos Estados, continua a matar, a causar e a prolongar o sofrimento, da América ao Iraque, ao Afeganistão, à Noruega ou ao Japão. Esta é a grande lição que deveriamos aprender: "Violência? Não, Obrigado!" Naquele dia foi assim:
... e foi assim que, hoje, em catarse - porque um acontecimento destes não se ultrapassa senão com o sentimento da cumplicidade colectiva - o povo americano, chorou: Que este acontecimento não provoque o acender de mais ódio e que as pessoas tenham a capacidade de perceber que ser vítima da História nos não dá o direito de sermos cruéis, seria a melhor reacção a devolver aos que, onde quer que se encontrem, considerem que é com o recurso à morte e ao sangue que podem resolver os problemas... Agora, 10 anos depois do 11 de Setembro, o essencial continua a ser: combater o medo, combater o ódio e combater qualquer legitimação de recurso à violência!

sábado, 10 de setembro de 2011

Cinemateca - Homenagem a Pedro Hestnes

A programação da Cinemateca Portuguesa, no mês de Setembro, inclui uma homenagem a Pedro Hestnes... uma homenagem ao actor que morreu antes da presumida idade da definitiva partida. O Pedro foi, a obra fica!... não sei... mas, não chega!... vale-lhe o facto de, dentro dos amigos "de sempre", o Pedro continuar vivo... dolorosamente vivo, como convém a quem habita a existência com o sentido de ser... e magoado, como não pode deixar de acontecer a quem pensa e é e sente... na próxima 2ªfeira, o Pedro faria anos e, na Cinemateca Portuguesa podem ver-se 2 filmes em que o Pedro participa, realizados por José Meireles: "Além do Corpo" e "Vida Virtual"... vale a pena ver, rever e conhecer algum do melhor cinema português contemporâneo!
(Fotografia de Pedro Hestnes no filme de Manuel Mozos "Xavier" de 2002)

sábado, 3 de setembro de 2011

Da Sede de Mar...

... Agosto foi um mês estranho... com chuva, frio e um ritmo de trabalho inesperado e desgastante... Setembro começou com a nitidez dos girassóis e, agora, vou, por uns dias, recolher ao mar... com o recado da lucidez nos olhos e no coração, esses estranhos lugares onde se acende a alegria e faz sentido a poesia...

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar. "

(Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914)