sábado, 31 de março de 2012

Da Extinção das Freguesias...


Milhares de pessoas manifestaram-se hoje, em Lisboa, contra a extinção das freguesias... as dificuldades acrescidas que a extinção destes serviços autárquicos representa para as populações é, de facto, um problema que deveria merecer a melhor atenção por parte de um Estado que se pretende útil e eficaz. Não é assim... e esta evidência, manifesta na ausência de uma explicação plausível e razoável para a iniciativa, justifica que as alterações administrativas que agora se propõem, preocupem as pessoas... não só as dos meios rurais, fisicamente distanciados dos centros urbanos a que serão obrigados a recorrer mas, também, as que, nas cidades, em função da idade ou dos ritmos pouco facilitadores da conciliação entre a vida profissional e vida privada, ficarão privadas de usufruir destes serviços com a facilidade que, até agora, tinham mais ou menos assegurada... e se não estão em causa os custos destes serviços, a verdade é que nada garante que o novo modelo funcionará de forma satisfatória. A propósito desta matéria não posso, entretanto, deixar de evocar a opinião do saudoso Professor Agostinho da Silva que atribuía às freguesias o papel de protagonista maior do exercício de uma democracia participada, defendendo que, em cada uma, deveria haver, além dos conhecidos serviços administrativos que desenvolvem, uma escola, um centro cultural, um centro desportivo, uma biblioteca e um centro de saúde... Porém, ao invés de se investir na qualidade das condições de trabalho das juntas de freguesias , reforçando-lhes poderes e competências e apoiando o seu papel social de representantes dos cidadãos, vão ser extintos serviços que ainda mantinham vivas as comunidades e os grupos humanos em função da sua localização residencial... é, por isso, sustentado, o receio de que a medida contribua para fragilizar ainda mais a coesão territorial de uma sociedade que tem dois terços do país em processo de desertificação humana!... registe-se que, desta vez em uníssono, PS, PCP e BE associaram suas vozes às que dizem que o Governo deve ouvir as razões de quem protesta (ler aqui, aqui e aqui).

Amanhecer...

... ao ritmo de "Morning Passages" de Philip Glass...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Recuperação económica?!...

Apesar dos rumores sobre o (lento) ritmo europeu de recuperação económica, Olli Rehn afirmou agora, em Copenhaga, que "(...) a Espanha está numa situação muito difícil (...)" (ler aqui)... ao mesmo tempo e enquanto a Moody's continua a baixar o rating dos bancos nacionais (ler aqui), a afirmação da persistência da subida do desemprego reitera-se no discurso oficial (ler aqui) e o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, garante que a economia portuguesa não irá crescer no próximo ano (ler aqui)... os europeus, com destaque para os povos grego, português e espanhol já tinham dado por isso... ao que parece só os políticos continuam com dúvidas...

PS - Vergonha em Tempos de Crise

O PS prepara-se para aprovar as alterações ao Código do Trabalho, impondo disciplina de voto à respetiva bancada parlamentar nesta matéria (ler aquiaqui). A notícia é assinalável não pelo facto de ter causado divisões internas entre os deputados socialistas mas, pelo seu significado no que se refere à natureza da oposição política ao contexto de liberalização a que a chamada "austeridade" tem conduzido, com a vertiginosa queda dos direitos sociais dos cidadãos e o aumento descontrolado do desemprego. A verdade é que se esta decisão me não surpreende, por outro lado, considerando a gravidade da crise económica e social europeia e a dimensão do crescimento da pobreza, em particular no nosso país, é preciso reconhecer que o assumir da ausência de uma estratégia e de uma ideologia alternativa é o inequívoco sinal de que cidadãos portugueses, trabalhadores e desempregados, não podem contar com o apoio ou sequer com a solidariedade do segundo maior partido português com assento parlamentar...

Sonoridades Intemporais...

... "Labyrinth" de Philip Glass...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Do Triplo Encontro do Pensar, do Dizer e do Sentir...

"O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te... pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força.
O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz.
O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda.
Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te.
O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz.
O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso.
"

Joaquim Pessoa, in "Ano Comum"
(via Facebook)

Da (lenta?) construção da fortaleza europeia...


... somos e sentimos o efeito do mundo em nós... talvez por isso se torne ainda mais assustadora a inqualificável demagogia política a que vão cedendo os governantes europeus, aproveitando a criminalidade mais ou menos organizada para impor fronteiras e limites aos direitos humanos de mobilidade... com diferentes rostos vão emergindo as declarações que recorrem à penalização migratória e à xenofobia, em nome de uma Europa cada vez mais fechada e afastada da democracia de que um dia pareceu começar a aproximar-se... Vem esta partilha a propósito das declarações de Sarkozy que chegou ao extremo de afirmar que quem se pronunciasse contra a França não poderia entrar no país!... as declarações transmitidas ontem de manhã, na RTP, foram depois apresentadas valorizando outras referências que as foram diluindo e minimizando com o objectivo de criar alguma (pouca e quiçá ilusória) diferença entre este testemunho sintomático da política europeia e o argumentário do partido de Le Pen... e se era previsível que a crise acentuasse as discriminações e multiplicasse o racismo é, contudo, demasiado e perigoso que sejam os Estados a assumir tais valores em contextos de empobrecimento e desemprego!... a cidadania europeia está, incontornavelmente, ameaçada! 

quarta-feira, 28 de março de 2012

Redes de Arame Farpado...

... para além de todas as definições, de todos os sentidos e de todas as (boas) intenções, a Liberdade é, também (ou acima de tudo?), a capacidade de ultrapassar as teias (ou as redes?) em que, sob a capa de uma aparente solidariedade, se esconde o poder de um corporativismo limitador do exercício da diversidade...

Despertar...


... porque manter o olhar desperto e discernir a essência do que ultrapassa a dimensão a que podem pretender reduzir-nos o horizonte é o nosso único, incomparável e incomensurável poder...

terça-feira, 27 de março de 2012

Leituras Cruzadas...

Quase sufoca esta falta de tempo para o pensar e o dizer, no acumular acinzentado dos dias, a contrariar a luz dos céus que antecipa o verão... ficam, por isso, esparsos, retratos breves do tempo que passa:
JMCorreia Pinto no Politeia
João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas
Maria Flor Pedroso no Sem Embargo
Miguel Abrantes no Câmara Corporativa
Osvaldo Castro no A Carta a Garcia
Paulo Guinote no A Educação do Meu Umbigo
Luís Moreira no Pegada
Ricardo Alves no Esquerda Republicana
Graza no Arroios
Renato Teixeira no Cinco Dias
A Areia dos Dias no A Areia dos Dias
Eduardo Pitta no Da Literatura.

Sons Intemporais...

... "Poema Valseado" de Al di Meola...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pobreza e Género em Meio Rural

Em meio rural, pobreza e desigualdade de género são realidades que atingem mais mulheres do que homens. De facto, ao contrário do que pretendem os que "romantizam" a vida "no campo" associando-a a um certo bucolismo, a vida em meio rural, para quem sempre aí viveu, penaliza as mulheres de forma particularmente acentuada, expondo-as à prática de representações sociais e de costumes que dominam e diminuem a sua individualidade, em nome de uma organização societária que privilegia o poder público masculino (com todas as consequências que isso implica!) e que a secundariza em função do conservadorismo daí decorrente, perpetuado de geração em geração. Viver no campo com prazer é, por isso, atualmente, um "luxo" dos que optam culturalmente por essa alternativa, com o objetivo de ganharem a qualidade de vida que todos sabemos diminuída pelo ar diversamente poluído das cidades... uma alternativa que, na verdade, seria útil e importante garantir a todos: para repovoar regiões desertificadas, ocupar e dinamizar o território e permitir que a concentração urbana deixasse de ser, apenas!, o reflexo do êxodo rural a que o desemprego obriga... Contudo e apesar do que os discursos mediáticos nos induzem a pensar, a população é ainda, de forma global, rural... e se por todo o mundo mas, também na Europa e, de forma particular, em Portugal, o meio rural é um reduto de desigualdade para as mulheres, é importante que as práticas que determinam esta realidade, sejam identificadas, assumidas e combatidas. A OIT e a comunidade internacional reconhecem a importância do problema e, por isso, vale a pena ler o excerto do texto que passo a transcrever, da autoria da Organização Internacional do Trabalho (e que, AQUI pode ser lido, na íntegra): 
"(...) Cerca de 70 por ciento de los pobres del mundo está concentrado en las comunidades rurales. Estas comunidades que dependen de la agricultura, la silvicultura, la pesca, la ganadería para ganarse la vida. Dentro de estas comunidades, los más pobres entre los pobres son con frecuencia mujeres y jóvenes que carecen de un empleo decente y regular, que padecen hambre o malnutrición, y que tienen una falta de acceso a la salud, la educación y los bienes productivos. Aunque las desigualdades de género varían de manera considerable entre las diversas regiones y sectores, existen pruebas de que, a nivel mundial, las mujeres se benefician menos del empleo rural - bien sea trabajo por cuenta propia o remunerado - que los hombres.
Existen diversas causas. En primer lugar, las mujeres están empleadas de manera desproporcionada en trabajos de baja calidad, incluyendo trabajos en los cuales sus derechos no son suficientemente respetados y la protección social es limitada. Otra razón, relacionada con la anterior, es que las mujeres reciben salarios inferiores que los hombres (cerca de 25 por ciento menos, para ser más precisos). Esto no significa que trabajen menos, al contrario. El problema es que gran parte del trabajo que realizan no es valorado ni remunerado como corresponde. De hecho, muchas mujeres rurales son trabajadoras familiares no remuneradas. Esto no sólo reduce su ingreso laboral, sino que además puede aumentar su nivel de estrés y fatiga.
La desigualdades de género en el empleo rural existen y persisten debido a una serie de factores sociales, económicos y políticos interrelacionados. Sin embargo, existe una causa específica que supera a todas las otras: el papel invisible, pero poderoso, de instituciones sociales que debilitan a un sexo frente a otro. Esto incluye las tradiciones, las costumbres y las normas sociales que rigen el complejo funcionamiento de las sociedades rurales, y que actúan como limitante de las actividades de las mujeres y restringen su capacidad de competir en igualdad de condiciones con los hombres. No queremos decir que las mujeres que viven en las ciudades no sufran la pobreza, pero el contexto rural suma una presión extra sobre la igualdad de oportunidades.(...)".

Erros Estruturais - o caso do BPN e da Cultura...


... vale a pena ouvir!

domingo, 25 de março de 2012

António Tabucchi, a escrita redescoberta...


... "Afirma Pereira", retrato de um país que persiste, arrastado pelos passos que caminham com a sensação de avançar muito pouco (e às vezes quase nada!), trouxe até nós Marcelo Mastroianni, pela mão do argumento de António Tabuchi... por isso, hoje, o dia em que António Tabucchi partiu, aos 68 anos, desta Lisboa que amou e lhe inspirou a vida e a escrita (ler aqui), é tempo de agradecer a obra que dele guardaremos e que, felizmente!, vai ser reeditada (ler aqui) para que possamos continuar a apreciar e valorizar o olhar que a fez nascer e com o qual podemos sempre repetir esse extraordinário exercício da nossa própria redescoberta!

Da Transversalidade Essencial da Cultura...


... a Cultura será sempre o maior aliado da nossa humana condição de seres viventes em sociedades cada vez mais complexas... por isso, não há idade para que a Cultura se torne o alimento do que nos faz o Ser e o Crescer... fica aqui, a fazer-nos lembrar essa série fantástica que as televisões em boa hora transmitiram "Era uma Vez o Homem..."... desta vez, num exercício criativo intitulado "O Fogo Mágico" que ilustra a vida num castro mais de uma centena de anos antes de Cristo...

sábado, 24 de março de 2012

Sonoridades Intemporais...

... "Azul é o Mar" de Carlos Bica...

O Tamanho de um País...

Sociomuseologia... pela mão de Alfredo Tinoco

"Cadernos de Sociomuseologia" é uma publicação regular que, do Movimento Internacional da Nova Museologia (MINOM) à Universidade Lusófona, encontrou um lugar seguro no âmbito da promoção do trabalho e da investigação museológica... e ontem, a título póstumo, foi publicado o exemplar da autoria de Alfredo Tinoco, etnomuseólogo, professor, cidadão e amigo, cuja capacidade de articular a teoria e a prática encontrou na sociomuseologia a transversalidade de uma área de trabalho privilegiada para concretizar, de forma coerente e integrada, a investigação-acção cujo fundamento encontramos, sempre!, na função social    dos fenómenos e dos saberes. "Cadernos de Sociomuseologia" de Alfredo Tinoco, um livro que, seguramente!, dá a pensar e enriquece, com a simplicidade e a grandeza generosa que caracterizou a sua forma de estar na vida.    

A Palavra...

"Março voltou, esta 
ácida loucura de pássaros 
está outra vez à nossa porta, 
o ar 
de vidro vai direito ao coração.´


Eugénio de Andrade
(via Sara Falcão Casaca no Facebook)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Sonoridades Intemporais...

... "Morning Love" de Ravi Shankar...

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Preço Político da Crise...

O preço da "ditadura" financeira e da ideologia política que lhe anda, por estes dias, associada em formas de expressão várias, assemelha-se cada vez mais a modelos ultrapassados de muito má-memória de que são testemunho os evidentes sinais de sentido contrário ao interesse público e ao bem-comum... está a acontecer em França em nome de estratégias eleitoralistas conjunturais e corporativas, como se pode constatar AQUI!... e está a acontecer entre nós, em Portugal, como hoje se testemunhou em dia de greve geral!... A Europa de 2012 aproxima-se (cada vez mais perigosamente!) do lado negro do que não queriamos que fosse... e a demagogia oportunista que a protagoniza não terá escrúpulos em a levar longe demais... para que conste!

A Tragédia da Ironia...

Condicionalismos?!

Da Greve Geral ao Movimento dos Sem Emprego...

COMUNICADO DE IMPRENSA

APRESENTAÇÃO DE MANIFESTO E PRESENÇA NA MANIFESTAÇÃO de 22 de MARÇO

O MOVIMENTO SEM EMPREGO apresenta o seu Manifesto.
A partir de agora, o MSE irá intensificar a sua luta em prol do pleno emprego para todos no cumprimento do Artigo 58.º da Constituição Portuguesa e do Artigo 23.° da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O Manifesto do Movimento Sem Emprego encontra-se em http://www.movimentosememprego.info/docs/ManifestoMSE.pdf.

Este grupo de trabalhadores que alterna a sua condição entre o desemprego, o sub-emprego ou a precariedade, afirma estar empenhado na criação de um movimento para o combate político e para a defesa dos direitos deste sector social.
Com o desemprego a bater todos os recordes, os organizadores esperam que a luta política ajude a inverter a tendência para o isolamento das pessoas que ficam nesta situação e aposta tudo no envolvimento do maior número possível de desempregados, precários e sub-empregados ao apoio à greve geral e à participação na Coluna de Desempregados na Manifestação de dia 22 de Março, 15h00, na Praça do Rossio seguida de participação na Assembleia Popular.
Unidos pelo Direito ao Trabalho e à Dignidade!

Para mais informações contactar:
mobilizar@movimentosememprego.info
Site: http://www.movimentosememprego.info
Página no Facebook: http://www.facebook.com/groups/movimentosememprego/
Evento no Facebook (Coluna de Desempregados na Manifestação da Greve Geral): https://www.facebook.com/events/241646325927197/
Twitter: https://twitter.com/MovSemEmprego

quarta-feira, 21 de março de 2012

No Dia Mundial da Poesia...


... "No meu jardim"... de Miguel Torga...
... "Cântico do País Emerso" ... de Natália Correia...
... e ... "Portugal"... de Alexandre O'Neill...

A Celebração da Primavera...


... em 1940, W.Disney interpretou a 1ª parte da "Sagração da Primavera" de Igor Stravinsky como a alegoria da criação do universo... mais tarde, a tentativa de devolver à peça o seu sentido de celebração tribal pela mais paradigmática evocação da natureza, ilustrou assim a sua 4ª parte:

segunda-feira, 19 de março de 2012

Surpreendentemente... Alegria :)


... porque não permitiremos que nos destruam a Alegria... por muitos muros de silêncio que sejamos obrigados a construir e a respeitar, a Alegria será sempre a flor que, dentro de nós, não deixará de crescer, grata pela dádiva da vida, do amor e do saber... aqui, simbolizada com o tema que a tem por nome: "Alegria", do extraordinário e incomparável "Cirque du Soleil" - que me não canso de repetir...

Sons Femininos...


... o tema "Love is Rare", dos Morcheeba, na voz de Skye Edwards...

Do Cante como Património Imaterial da Humanidade...


... O Cante Alentejano é uma expressão cultural única do património imaterial que faz a nossa Humanidade, singular, diversa e universal... canto de trabalho e lazer, manifestação inequívoca da integração primeira da cultura na natureza, como dele disse o poeta já aqui tantas vezes repetido:

"Nunca vi um alentejano cantar sózinho
com egoísmo de fonte.

Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte
e canta
em coro com a família do vizinho.

Não me parece pois necessária
outra razão
-ou desejo
de arrancar o sol do chão -
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.

É apenas uma certa maneira de cantar."

José Gomes Ferreira in Circunstância IV


... agora, o Cante pode vir a ser candidato a Património da Humanidade... Esperemos que a candidatura lhe faça jus e seja bem sucedida!... o Alentejo merece... e o registo da História da Humanidade agradece!

domingo, 18 de março de 2012

Hoje, mais do que nunca...


... um extraordinário poema a que a voz da autora, Natália Correia, confere a sonoridade exacta do sentir que o fez nascer e do que transmite, inscrevendo-nos na alma, o poder da palavra... gravado num serão na casa de Amália Rodrigues, na boa companhia de Vinicius de Moraes, David Mourão-Ferreira e José Carlos Ary dos Santos, eis "A Defesa do Poeta":

"Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo
um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível
um lápis de armazenado espanto
e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de
cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o
parque
do sono que vos roubei.

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças
que salvo do incêndio
da vossa lição.

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois
os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é
esperar-vos
umas estrofes mais além.

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por
ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da
natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.

Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito
de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.

Sou uma impudência
a mesa posta de um verso
onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer."

Natália Correia

Sonoridades...

... "The Awakening of a Woman" dos Cinematic Orchestra (via Leonor Balesteros no Facebook)

sábado, 17 de março de 2012

George Clooney e a Luta do Sudão...


... George Clooney, actor e realizador que dispensa apresentações, é, além de inteligente e corajoso, um Homem persistente na defesa das causas que defende... e o Sudão é, sem sombra de dúvidas, uma causa urgente e fundamental! Pelos cidadãos, pela vida, pelo direito à existência, à liberdade e à paz!... o Projeto "BASTA" é das poucas formas de visibilidade de que o mundo contemporâneo dispõe para dar voz e rosto à causa sudanesa! Eis o contexto em que se pode enquadrar o facto de George Clooney e o seu pai terem sido detidos numa manifestação contra a limpeza étnica que está em curso neste país e que, para além de todas as atrocidades, impede a entrada e a circulação de ajuda humanitária no território. Afinal, ainda há quem se não esqueça (apesar da fama!) e, felizmente para todos nós!, insista em se insurgir contra a crueldade e a tirania, exercendo sem restrições o direito de cidadania que nos assiste, em nome dos valores que sustentam a essência da nossa humanidade!... Por isso, aqui, hoje, fica expressa a justa admiração que George Clooney merece e, acima de tudo, a incondicional Solidariedade com o Povo Sudanês!

A Crueldade do Drama Grego...

O mais dramático efeito da crise, aquele de que ninguém quer ouvir falar ou melhor, aquele em que ninguém quer pensar, está em curso na Grécia, onde se sucedem os casos de abandono dos filhos, por parte de pais sufocados pelo estrangulamento económico e social a que o país foi conduzido... O drama que hoje atinge as famílias gregas é a mais negra sombra que paira sobre os cidadãos europeus... e o inequívoco testemunho da crueldade cega de um capitalismo financeiro e político sem escrúpulos a que, para infelicidade de todos, a Europa se rendeu (LER AQUI).

Extermínio de um Grupo Sexual - o Genocídio Silencioso das Mulheres


... nascer mulher pode ser a única razão para uma condenação sumária à morte!... é o que acontece em grande parte do planeta, onde o facto de uma criança nascer com sexo feminino é condição suficiente para que a sociedade se sinta com o direito de a eliminar. Deste modo, estranhamente, aos nossos olhos - apesar de tudo habituados ao exercício da violência sobre as mulheres - o valor social da vida dependente da condição biológica determinada pelo sexo, em vez de ser, como seria suposto!, percecionado como uma discriminação criminosa, é uma representação e uma prática social comum que atinge números assustadores, escandalosos e intoleráveis... segundo as Nações Unidas, 200 milhões de crianças desaparecem, assassinadas à nascença, sufocadas e abandonadas, apenas e só por serem... mulheres!... por razões que decorrem de uma política (formal e informal) de controle de nascimentos mas, acima de tudo, pela convicção social generalizada de que a mulher é, em termos de valor, uma mercadoria cujos custos não justificam o seu direito à existência...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Da França de Sarkozy...


... porque "a cantiga (ainda) é uma arma", sim, claro!... vale a pena ouvir a "Valse à Sale Temps" de Manu Chao!...

quinta-feira, 15 de março de 2012

A Benção das Águas...

Rasgando, quase imprevista, os dias azuis desta intensa primavera, hoje, a chuva irrompeu do céu regando a terra, sob o céu cinzento que os relâmpagos iluminaram... na cidade, cujo chão ficou subitamente branco de pedras de granizo, soava a alegria dos campos celebrando a fertilidade e o chão bebendo, sequioso, a benção da água!... estava a tornar-se demasiado dolorosa esta espera que fazia os animais cheirar o pó dos solos endurecidos, à procura de uma qualquer plantinha que teimava em se manter invisível... hoje, renovou-se a esperança!... de que a mais austera seca desde há 81 anos seja, pelo menos, aliviada... foi por isso que, hoje, os olhos das pessoas até há pouco secos de olhar o céu sem pestanejar, se encheram de lágrimas...

quarta-feira, 14 de março de 2012

A Europa à Beira da Explosão Social...

António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, afirma que a Europa está à beira da "explosão social" porque as prioridades políticas persistem em valorizar a economia e as finanças, em detrimento da dimensão social (ler aqui). De facto, seria no mínimo avisado que os países da Europa do Sul exigissem a atenção da União Europeia!... porque a realidade decorrente das altissimas taxas de desemprego que caracterizam, a sul, a actualidade e a que se associa um ritmo migratório que se não verificava há muitas  e muitas décadas, em função dos incentivos a uma mobilidade viabilizada pelo elogio sem reservas a uma globalização desregulada, não pode ter outro resultado a não ser uma crise social (isto é, humana!) que, política e economicamente, nem os países mais ricos e aparentemente mais sustentados da UE, poderão enfrentar sem que isso signifique o colapso das condições de vida dos seus cidadãos e do modelo social que aí é, ainda!, vigente. Não se compreende, por esta razão, o motivo em que assenta o efectivamente infundado "regozijo" com que alguma comunicação social tem a ligeireza de afirmar que "o pico da crise" terá sido ultrapassado!!???... onde? para quem???...  

terça-feira, 13 de março de 2012

A Surpresa do Génio...

Para quem conhece e gosta de Wassily Kandinsky, esta obra de 1906 é, sem dúvida alguma, surpreendente!... como (diga-se, em abono da verdade!) convém ao génio do artista.   

segunda-feira, 12 de março de 2012

Anoitecer para Amanhecer...


"Gaivotas ao Anoitecer" de António Chainho e "Canto do Amanhecer" de Carlos Paredes - o som de um património...
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domingo, 11 de março de 2012

Sonoridades Intemporais...

... "When You're Smiling"... por Louis Armstrong, claro!

Proximidades...

... uma espantosa e vibrante lição de Paco de Lucia e Ravi Shankar sobre a proximidade estrutural de uma das formas mais populares da música clássica indiana e o flamenco...

sábado, 10 de março de 2012

Tibete - Uma Luta com Mais de Meio Século...

Hoje, 10 de Março, completam-se 53 anos sobre a revolta tibetana contra a ocupação chinesa... por isso, hoje, no Chiado, um grupo de pessoas associou-se ao Grupo de Apoio ao Tibete para assinalar a data. Quase inacreditável, o facto é que, mais de 50 anos depois, para além da pena de morte (cujos números ninguém conhece!) e das manifestações de etnocídio que o elevadissimo de imolações de tibetanos tem protagonizado, a China continua implacável na afirmação de um domínio militar, social e político de um povo cuja cultura é inequivocamente distinta da sua. A recusa do reconhecimento chinês pela autonomia do "País das Neves" (que os jesuítas portugueses foram os primeiros ocidentais a conhecer!) é um fenómeno político altamente contraditório perante a sua presumida liderança económica contemporânea... porque, à luz da modernidade e do reconhecimento internacional dos Direitos Humanos, insistir em perspectivar o problema à luz da "ingerência na política interna" é, no mínimo, absurdo!... e se, como diz a simbologia, a China é um "dragão adormecido", está na hora de acordar e de perceber que a sua visão imperialista é uma visão feudal, incompatível com os valores da dignidade e da valorização da diversidade que caracterizam o pensamento mundial dos nossos dias - apesar dos maus exemplos que ainda estão presentes um pouco por toda a parte -mas que, perante a História, serão reduzidos à sua devida e justa insignificância! Neste contexto, vale a pena recordar a imprensa de então, nessa longínqua década de finais dos anos 50 e início dos 60, em que já se apelava, com contundência, a um Tibete Livre!

Dos "Fait-Divers" da Política ao Essencial...


... entre notícias da economia e da política, profunda e cansativamente repetitivas, que se esgotam em fait-divers que tentam sustentar a ilusão da mudança e da moralidade (do julgamento dos políticos na Islândia ao "perdão" da dívida grega que não impediu a Fitch de interpretar a medida como "incumprimento parcial" e de, uma vez mais, baixar o rating do país... ou das acusações de "deslealdade" de Cavaco Silva a José Sócrates -de que a História não registará uma palavra, diga-se de passagem!- ao cenário de agravamento da crise que, apesar da Primavera, continua a pairar na Zona Euro), deixemos emergir o sorriso e a alegria...  

sexta-feira, 9 de março de 2012

Do Cinema e da Arte em Tempos em Crise...

Apesar do reconhecimento internacional que, na mais recente edição do Festival de Berlim, atribuiu a dois realizadores portugueses prémios de mérito (ver aqui), o cinema português entrou, apesar de tudo (ler aqui), num período de luto (ler aqui). De facto, a interrupção do Fundo de Investimento ao Cinema e ao Audiovisual põe em causa o desenvolvimento de uma das artes maiores do nosso tempo - e se é sempre lamentável que assim aconteça no campo da criação e da promoção cultural porque nada substitui a função social da arte, no caso do cinema, a questão assume contornos particulares sobre os quais vale a pena reflectir... não só pelo que significa para esta indústria nacional emergente e para a vida dos profissionais do sector mas, também, porque actualmente a multimedia é uma linguagem do simbólico privilegiada e, neste sentido, relegar para segundo plano o investimento na criação cinematográfica, significa reduzir o espaço de oportunidades dos mais jovens no que respeita ao desenvolvimento de motivações e competências culturais. A questão não pode, por isso, ser considerada de importância menor em tempos de crise, quando a violência espreita e as catarses criativas são uma das mais eficazes formas pedagógicas de resposta à participação cívica. E se os termos em que aqui colocamos o problema não tem sido o ângulo de abordagem mais comum desta realidade, vale a pena relembrar que, ao contrário de uma visão em muito ultrapassada pela realidade, num mundo cujo processo de mudança alterou indiscutivelmente o mercado de trabalho e em que a chamada globalização informativa incorporou o quotidiano dos cidadãos através da televisão, da internet e das redes sociais, a intervenção cultural não pode continuar a ser perspectivada como mero instrumento de lazer mas, isso sim, como uma dimensão integradora do desenvolvimento multifactorial dos indivíduos e das sociedades. 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Elas...


“Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
... Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas. “
Maria Velho da Costa (1976)

(via Joaninha Duarte no Facebook)

Da Liberdade Feminina...

(via Vitor Duarte no Facebook)

Dia Internacional da Mulher...

(via Rui Pato no Facebook)

Da Lua Cheia à Valorização das Mulheres...

Não posso deixar de associar o Dia Internacional da Mulher à expectativa de mudança e de um mundo melhor... mais justo, mais igual e mais solidário! É por isso que evoco aqui o Holi, a festa hindu da celebração da Primavera, em que a união dos afectos, contra as contrariedades, se veste de cores e troca, sem medos nem contenções, a incerteza dos tempos invernosos pela explosão dos símbolos da alegria e da força vital que Radha simboliza no assumir de uma diversidade a que se associa o próprio Krishna... e num tempo em que a valorização da diferença se evidencia necessária face ao justo primado de uma efectiva igualdade, o Holi é símbolo da cumplicidade e da esperança do amor que é, pela própria natureza do seu sentir, o sinal maior de que a mudança é possível... felizmente, apoiando este reforço da sintonia entre a natureza, a mulher e a vida, o Holi, por força da Lua Cheia, coincide com o 8 de Março.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Do Pensar o Feminino...

(via Margarida Moreira no Facebook)

Da Pobreza... cada vez mais Feminina!

É dramático perceber que as chamadas "crises" afectam sempre mais os mais vulneráveis... por exemplo, os idosos, as crianças e as mulheres!... mas, o facto desta realidade ser conhecida, não diminui em absolutamente nada os dados agora divulgados pelo Eurostat: 26% das mulheres portugueses vive em risco de pobreza (ler Aqui)... mais expostas ao risco de falta de emprego, desemprego e trabalho precário são também as mulheres quem neste momento morre mais com problemas cardíacos... neste contexto, se atendermos às causas recorrentes que subjazem, no nosso país, a esta caracterização do mundo feminino contemporâneo, bem como ao papel que, tradicionalmente e ainda maioritariamente, lhe cabe na tutela cuidadora de mais velhos e mais novos, não será incorrecto ver na ajuda que Portugal vai receber para que as crianças em idade escolar possam comer fruta, mais um indicador desta pobreza... no feminino!... o problema, transversal em termos de idade, assume-se cada vez com mais evidência como uma desigualdade de género que as sociedades deverão encarar como prioritária, sob pena de hipotecarem não só o já tão frágil tecido social mas, também, o crescimento digno e  sustentado das crianças e dos jovens.

terça-feira, 6 de março de 2012

Portugal, Desigual...

... e se dúvidas houver quanto aos efeitos da influência das características estruturais das sociedades que só o investimento socio-económico pode contrariar e inverter, temos AQUI o exemplo do que, a não ser objecto de reforçada e renovada intervenção, pode definir os contornos do futuro de um país, cujo presente, deficitário, não recuperará de uma crise estrutural nem adquirirá competências efectivas para a tão reconhecida necessidade de competitividade... porque, como diria o Poeta: "Tudo está ligado a tudo; Não podes tocar a flor sem perturbar a estrela" e por muito que a aritmética possa tentar que acreditemos no seu contrário, sem que estejam garantidas as condições que promovem, valorizam e tornam efectiva a igualdade, não há desenvolvimento...  
(a notícia do DN chegou via Maria Albertina Silva e Marta Tiago no Facebook)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sonoridades Intemporais...


... o miraculoso poder da música recriado na fantasia que só a arte permite... a partir da eterna "Rhapsody in Blue" de George Gershwin...

domingo, 4 de março de 2012

O Elefante Branco Europeu...

Não, a expressão já não é só a referência  a grandes obras públicas de que, em Portugal, foram exemplo, designadamente, o Alqueva, o Porto de Sines ou até o projecto de TGV... hoje, a expressão é legítima na problematização da União Europeia que integramos. De facto, a crise estrutural e transnacional que, progressivamente, a Europa vem enfrentando desde há quase 4 anos, deve conduzir-nos a uma séria reflexão sobre o processo de construção deste espaço continental comunitário que começou por ser económico e se desenvolveu socialmente, a pensar na unidade política requerida para efeitos de credibilidade e influência internacional, no quadro da geopolítica dos chamados "blocos regionais". Neste contexto, um estudo cuidado e imparcial desta matéria denotaria que, ao contrário do que as actuais lideranças nacionais e supranacionais querem fazer crer, subscrevendo ideologias liberalizantes alheias às dinâmicas humanas, o problema não radica na teoria igualitária em que assentou o projecto de uma Europa Social capaz de ter como suporte legislativo transversal a defesa dos Direitos dos Cidadãos e, consequentemente, uma Europa em que não fosse anulado mas antes redireccionado constantemente, o papel do Estado Social ou, em rigor, o exercício da função social do Estado. O problema decorreu da adopção de um modelo económico importado dos EUA em que a liberalização dos mercados é, efectivamente, o centro da dinâmica da sociedade, sem atender à singularidade histórica e à identidade cultural dos países que foram integrando o que hoje é a UE. contudo, nem por isso teriamos chegado a este ponto de ruptura social global, se as lideranças europeias que se sucederam a Jacques Delors tivessem mantido a lucidez política indispensável à execução de projectos arrojados. Não foi o caso!... por isso, com pequenas questiúnculas emergentes das lutas eleitorais nacionais a transitarem para a lógica da gestão transnacional, a UE desenvolveu mecanismos redutores das competências que uma sociedade democrática poderia inspirar, insistindo em perseguir o modelo do liberalismo económico e financeiro que caracteriza a sociedade norte-americana - apesar do reconhecimento da sua falência que a Presidência de Barack Obama assumiu... por isso, agora, as populações europeias dependem de fundos comunitários (em proporções gravissimas, consoante o estado actual das suas economias) e se não houver discernimento e coragem política, corremos o risco de hipotecar até a possibilidade que este recurso nos permite de reestruturar a orgânica socio-económica, através da sua eventual canalização para atenuar os défices públicos. Resta-nos esperar que o bom-senso impere, ciente de que todas as áreas de intervenção são potenciais criadoras de emprego, diversificando e qualificando todas as capacidades de intervenção social sem as quais não sobreviveremos à crise e cujo esvaziamento conduzirá a um futuro incapaz de competir e de se aproximar de qualquer modelo de sucesso. A batalha está no terreno e do discernimento político dependerá a recuperação do caminho de uma revitalização social sempre adiada ou... a imobilidade perante o grande "elefante branco" com que nos confrontamos.  

sábado, 3 de março de 2012

Leituras Cruzadas...

Afinal, apesar de tudo, ainda há quem saiba usar os mecanismos da democracia da melhor maneira (leia-se Nuno Teles no Ladrões de Bicicletas)... pelo que é suposto que até, por exemplo, no que se refere à economia e às políticas sociais, seja sempre possível a (re)organização de forma a não contribuir para o crescimento das desigualdades... contudo, há que respeitar um requisito "a priori": a existência de uma orientação política ponderada e adequada aos princípios que garantem a sobrevivência das sociedades democráticas e contribuem para a sua sustentabilidade económica e social (leia-se a notícia divulgada por Miguel Abrantes no Câmara Corporativa) - tudo isto apesar do diagnóstico contraditório sobre o país que nos vai sendo apresentado, pela diversidade interpretativa de quem vai pensando os dias (leiam-se João Rodrigues no já citado Ladrões de Bicicletas, Luís Moreira no Pegada, Vital Moreira no Causa Nossa e Valupi no Aspirina B)... Curiosamente, apesar da crise ser comum, ignorando fronteiras e dando rosto a uma globalização que as pessoas desejaram sem imaginar a vertente oculta que, necessariamente, atrás de si se arrastava como uma sombra, as respostas não são, felizmente!, repetitivas, deixando assim lugar à esperança cada vez mais longínqua... a título de exemplo, constatemos: ao mesmo tempo que, por cá, a pobreza se expande epidemicamente (leia-se Francisco Clamote no Terra dos Espantos) e a saúde pública começa a manifestar sinais preocupantes de efectiva degradação das condições de vida (leiam-se Filipe Tourais no O País do Burro e Raquel Varela no Cinco Dias), no país de nuestros hermanos levanta-se a voz contra exigências consideradas contrárias aos interesses nacionais (leiam-se JMCorreia Pinto no Politeia, a referência no já citado no Câmara Corporativa e o já citado Francisco Clamote desta vez no Pegada) e na Europa, em vias de colapsar económico-politicamente, existem ainda associações capazes de juntar forças para a defesa das causas relevantes para o património democrático que pretendem defender (leia-se Osvaldo Castro no A Carta a Garcia)... depois de tudo isto e porque respirar é preciso, leia-se Carlos Fonseca no Aventar ...

Um Sorriso... amarelo?!


(via Vicente de Sá no Facebook)

sexta-feira, 2 de março de 2012

O Indesejável e Previsível Cenário Europeu...

Com tendência para continuar a subir, segundo o Eurostat, o desemprego atingiu os 14,8%, ficando Portugal logo atrás da Espanha e da Grécia, ao nível da Irlanda (ler aqui). Com cálculos rigorosos, de onde sejam extraídos estágios e trabalhos precários, não ficaremos longe dos 20% e este cenário, efectivamente dramático para as condições de vida dos cidadãos, exige uma intervenção política urgente, incontornavelmente assente na real orientação social da economia. A verdade é que o tempo da austeridade "cega", centrada na mera lógica da contabilidade financeira, não pode continuar a prolongar-se sob pretexto algum... além disso, a Europa já não tem (nem pode ter!) argumentos para impôr aos Estados que a integram o sacrifício das suas populações, sob pena do total desmantelamento da sua fragilizada arquitectura política... e mais do que isso, da eclosão de uma gravissima crise social de que a contestação e a violência são apenas um dos lados da moeda, no contexto da emergência generalizada da pobreza...