terça-feira, 26 de maio de 2015

Manuel Alegre, Poeta de uma República Maior...

Hoje, na Livraria Leya, cujo espaço foi celebrizado em Lisboa sob a chancela da velha e inesquecível livraria Bucholz, Manuel Alegre protagonizou o lançamento do seu mais recente livro "Bairro Ocidental"! Com uma apresentação de abertura notável, pela expressão do entendimento da Poesia de Manuel Alegre como canto de Filosofia Social e Política, o momento alto deste precioso acontecimento a que assistiram Presidentes da República, deputados, intelectuais, jornalistas, actores, democratas e grandes amigos, consistiu na leitura de alguns dos Poemas que preenchem este livro incontido de verdades feitas de rigor, com alma, razão e coração, pela voz quente e sábia do seu autor!... É um livro belo, generoso e imenso como só o pode ser o livro de um Poeta, imortal! Por ora, partilho apenas o seu poema "Resgate" e agradeço, em nome do país e do futuro, a dádiva que connosco partilha, sempre!, o Poeta-Presidente das causas e do país oculto que guardamos no coração: Manuel Alegre!  
 
"RESGATE
 
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem que ser o teu país.
 
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
 
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem entre vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
 
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
 
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país."

sexta-feira, 15 de maio de 2015